
Foi publicado há dias aqui na net um vídeo de uma rapariga a atirar meia dúzia de cachorros a um rio e a sua divulgação tem provocado a mais vivas e violentas reacções de milhares de pessoas justamente indignadas com cena tão chocante.
Sabia-se que a situação ocorrera na Croácia mas porque a moça aparece com um gorro na cabeça e pouco de vê do rosto, os internautas não descansaram enquanto não a identificaram e, agora que isso já foi possível, segundo notícia o “Correio da Manhã”, acredito que lhe vão fazer a vida negra. Não desejava estar no pêlo da cachopa, tão violentos e agressivos são os comentários postados.
Ora eu, começando, como ponto de ordem, por afirmar desde já que condeno firmemente não só o gesto da miúda com ainda a macabra decisão de tudo filmar e divulgar, quero aqui dizer que matar gatos e cachorros daquela forma era vulgar, muito vulgar fazer-se nas nossas aldeias. Aconteceu com muita frequência no tempo da minha meninice e adolescência na minha terra natal e, estou em crer, embora disso não tenha provas, que ainda hoje acontece.
Lembro-me bem de meu pai ao longo dos anos, surpreendido com uma ou outra gata que paria num qualquer recanto do quintal de nossa casa, retirar-lhe os gatinhos e – é bom que se diga! – ás escondidas de mim e de minha irmã, dirigir-se ao ribeiro que passa á saída da aldeia os ir atirar á água. A situação era-me depois relatada por ele ou por minha mãe.
Isto era vulgar e natural nas aldeias e fê-lo o meu pai algumas vezes como outras vezes o praticaram meus vizinhos. Esta é a verdade e, embora a situação chocasse, acho que era na época a única forma que as pessoas tinham para se verem livres de tantos gatos e cães.
E não venha dizer-se que, no caso o meu pai, era pessoa que não gostava de animais porque isso não corresponde de forma alguma á verdade. Meu pai foi a pessoa que vi mais gostar de animais! Desde os maiores (vacas) até aos mais pequenos (bicos-de-lacre) passando por porcos, cabras, ovelhas, perus, coelhos, patos e aves das mais diversas espécies de faisões a canários, etc., etc. ele criou e viveu toda a sua vida com milhares deles e bem sabia com que pena muitas vezes tinha de se desfazer dos bichos.
Portanto, retirar e matar as crias de cães e gatos era na altura e acredito que ainda hoje seja em alguns casos uma questão de cultura, de necessidade, de hábito talvez.
Hoje o mundo é outro, os hábitos e as culturas mudaram e situações destas são muito naturalmente evitadas e condenadas. E, filmar então, para divulgar… nem dá para entender…
Mas que foi coisa que sempre conhecemos na nossa criação, nas nossas terras natais – embora os adultos o fizessem fora das vistas das crianças… - isso é verdade e incontornável.