quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

MANUEL ESPADINHA E OS SAUDOSOS "SANGUE DE BOI"


Hoje, pertinho da Lamarosa (Coruche) na sua residência e nos seus bonitos e bem cuidados e floridos pomares que rodeiam e envolvem a vivenda e que nesta prematura Primavera a enchem de um gostoso aroma bem sentido no doce ar que se respira por todo o canto da quinta, uma muito agradável visita e confraternização com o velho amigo e conterrâneo Manuel Espadinha na presença da sua esposa e do seu sogro António que, com os seus sabedores pareceres, resultantes dos seus lúcidos e ainda ágeis 89, tornam a convivência ainda mais gostosa e gratificante.

Tudo nasceu de uma despreocupada conversa tida meses atrás quando lhe manifestei o meu desalento por não encontrar em lado algum no mercado uns saudosos pêssegos conhecidos por “sangue de boi” e, em duas tentativas de julgar estar a comprar em árvore essa variedade… levar o “barrete enfiado”.

Vem a saudade e o desejo desde os tempos de criança em que meus avós maternos tinham um pessegueiro dessa variedade numa hortinha que cultivavam pertinho da sua modesta casinha, então no Anafe do Meio, no meu Chouto natal.

Pêssegos “sangue de boi” nunca mais os comi, numa mais os vi e, naturalmente, tão pouco os consegui produzir. Comprei por duas vezes pequenas árvores com essa garantia mas… fui enganado. "Enfiei o barrete", como já disse.

Então, perante esse meu lamento, o velho amigo Manuel logo me prometeu. “Eu arranjo-te! Tenho lá e vou-te oferecer! Na época indicada acertamos isso e levas os pessegueiros que desejares!”

E os pesseguerinhos, enxertados de borbulha, lá vieram hoje. Vão agora ser plantados e, no próximo ano, já poderei deliciar-me com os saudosos e desejados “sangue de boi”. Eu penso isso.

Bem, delicio-me se… cá estiver… Na minha situação e nos dias que vão correndo, nunca se sabe…

Depois do pedacinho – maligno! - retirado da peça das iscas, fiquei prevenido e… preparado…

O abanão foi grande e tenho consciência disso mesmo. 

Mas a esperança também aqui reina...

Por isso, vamos ver se me aguento pelo menos mais um aninho para... saborear os “sangue de boi”?!...

sábado, 23 de fevereiro de 2019

LEI SECA - DOIS ANOS SEM ÁLCOOL!



E já lá vão 2 (dois!) aninhos sem ingerir álcool, meus senhores!

Dois anos em que não agredi a figadeira e, embora sabendo que o mal criado e construído durante meio século já não tem remédio que faça recuperar esta velha pecinha das iscas, tento que o ofendido órgão se esqueça do mal que o dono lhe provocou durante esse longo tempo e procure desculpar-lhe, retire a ofensa e permita que o rapazinho por cá ande mais um tempinho. 

Há 2 anos que a abstinência tem decorrido quase, quase na plena totalidade, só tendo sido “esquecida” num ou outro dia festivo e, mesmo aí, nem com meio copo ingerido. 2,3 cms no fundo do copo, para provar a pomada e...mais nada. Nadinha!

Devo confessar, por ser absolutamente verdade, que não tem sido muito difícil. No dia a dia a coisa leva-se bem e só sinto falta e acho que a refeição poderia ser bem mais gostosa quando me delicio com uma boa Feijoada, uma gostosa Mão de Vaca com Grão, uma apetitosa Caldeirada ou um saboroso e único Cozido à Portuguesa. De resto, nas refeições normais e mais habituais, não sinto a falta do tintinho. Não sinto, não.

Ah, tem outra grande contrariedade esta forçada “lei seca” que já me passava esquecida: quando em convívio com amigos, em redor da mesa ou encostados ao balcão, custa-me um bom bocado não os poder acompanhar, como o fazia com tanta frequência e tanto gosto noutros tempos em que me deliciava com uns bons tintinhos e a frescas cervejas. As cervejas, agora bebo sem álcool que, embora não sejam iguais às “verdadeiras” acabam por remediar mas, vê-los deliciar-se com os tintinhos e eu não os acompanhar, não é coisa fácil, não. 

Enfim, coisas de quem possivelmente abusou – embora julgue que não o fiz… - mas agora não há remédio e disso estou ciente e conformado.

E a verdade, nua e crua, é que se não fosse a cirurgia feita há quase ano e meio e o corte no álcool, este gajo já não andava por cá... Ai não andava, não. 

Disso estou ciente e mais convencido ainda fiquei quando há 4 meses atrás coloquei essa minha opinião à médica que me acompanha e que fez parte da sabedora e eficiente equipa de cirurgiões que fez a intervenção aqui na pecinha e a senhora me respondeu de imediato:

- É provável.

E... ela é que sabe.

Por isso... AGUENTA-TE VICTOR!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

GUERRA COLONIAL - AS LAVADEIRAS


Nos muitos e diversificados textos que têm sido publicados sobre a Guerra Colonial e que tenho lido, noto que apenas em muito poucos deles é feita referência ao papel das chamadas “lavadeiras” no contexto da guerra e dos seus envolventes prestadores de serviços e, todavia, o desempenho destas personagens no teatro da guerra não foi assim tão irrelevante quanto se possa imaginar. Não foi, não.

Falando de “lavadeiras” devemos considerar as duas espécies que ali tinhamos em serviço: aquelas – como as que tive nos diversos locais por onde andei destacado da sede da Companhia no Leste e no Norte de Angola – que apenas nos cuidavam da roupa (lavar e passar) e… as “outras”… As “outras”, em boa verdade, são exactamente as que viram o seu nome oficializado como… “lavadeiras”. Estas então conhecidas “lavadeiras” não cuidavam apenas da roupa do militar mas também do… corpo… Prestavam-lhe, isso mesmo: favores sexuais. 

Eram então “lavadeiras para todo o serviço” e realmente muitos militares as contratavam com essa dupla missão e havia até uns quantos que tinham com as mesmas um relacionamento particular e por isso personalizado. O militar “sustentava” a senhora com uma acertada “avença”, ela cuidava-lhe da roupa e ele tinha a garantia – não tão certa quanto isso mas… já lá vamos mais à frente – que os seus favores sexuais eram exclusivos do “marido”. (“Marido” e “esposa” era como mutuamente se relacionavam com evidente ironia, eheh). 

Uns quantos soldados e cabos e, sobretudo, vários furrieis e escassos oficias, porque estavam quase sempre permanentes no quartel junto ao aldeamento, tinham estas “esposas” e optavam por isso para terem a sua actividade sexual com algumas garantias de não serem atingidos por uma eventual doença venérea já que mantinham as “companheiras” sempre devidamente limpas e cuidadas, coisa que as experiências fortuitas não garantiam. (Num aparte refiro que as “esposas” dos enfermeiros, por estarem sempre mais “cuidadas” eram as mais pretendidas às travessuras “extra-conjugais”… eheh)

Todavia, para quem andava destacado por aqui e por ali como eu e meu pessoal, esse relacionamento privado não era viável porque, com diz o ditado; quem não aparece...eheh E assim seria impossível controlar os “passos” da parceira...

E havia que controlar porque os que as tinham reservadas não estavam tão certos disso não. Na verdade, não era tão invulgar quanto se possa imaginar, o “esposo” chegar à porta do “quimbo” (denominação de tabanca, no Leste de Angola) e encontrar a porta fechada porque a senhora estava cravando-lhe os… chifres… eheh. Em algumas ocasiões chegava mesmo a ouvir-se alguns… tirinhos… Atirados pelo "chifrado" para o ar, para assustar o intruso… eheh. (Mas que raio de coisa eu agora haveria de lembrar-me!…)

Mas, eu penso e não deverei estar muito errado, que as “lavadeiras”, ao mesmo tempo que prestaram um importante papel no teatro da guerra, foram também umas grandes vitimas desse mesmo conflito…. Porquê? 

Como bem sabemos as “lavadeiras”, sobretudo as que prestavam favores sexuais, ficavam muitas vezes grávidas dos militares e, com a partida destes para locais desconhecidos e sem a mais pequena referência aos pais das crianças elas - sabe-se lá de que maneira… -, tiveram de criar os filhos “café com leite” e, pior, muito pior, com o fim da guerra e a tomada do poder pelos homens da guerrilha, certamente foram referenciadas como tendo colaborado com os portugueses e foi-lhes apontado o dedo e… a mira e o gatilho da metralhadora.

É isso... Acho que não deverão ter vivido muito tempo após as independências...

Talvez tão certo como eu estar a carregar nestas teclas do computador...

(Foto anexa retirada da net)