quinta-feira, 24 de março de 2016

COMO ENTENDER?...

Eu, que até tenho criação e formação católica e que, com esta idade, já tenho visto muitas atitudes estranhas e bastantes incongruências na minha vida, confesso que não consigo entender o que vi agora assistindo a um Bispo da Igreja Católica a apresentar, com pompa e circunstância, num hotel de Lisboa, o lançamento de um livro dito autobiográfico de um cidadão que foi condenado em tribunal e está a cumprir pena de 6 anos de prisão por abuso sexual de menores… Friso bem: a cumprir pena por abuso sexual de menores!

Que razão? Que motivo? Que fundamento?

Certamente será por manifesta incapacidade mental, intelectual, religiosa e civilizacional da minha parte mas, que fazer?

Não entendo…


terça-feira, 15 de março de 2016

NA MINHA PESQUINHA, O SUCESSO TOTAL!

Sai de casa cedo, pelas 7,15 horas, não tanto pela pressa de pescar porque sabia que, como a manhã estava demasiado fresca os achigãs não estariam ainda activos mas apenas para não sentir os efeitos da “hora de ponta” no trânsito na entrada de Lisboa.

O dia estava bonito com algum Sol embora ainda fraco de intensidade mas com uma leve neblina e a espectativa era muito grande, confesso. Já me tem acontecido partir para a pesca com idêntica expectativa mas, desta vez, tinha uma convicção bem mais forte porque assente nos dois dias anteriores em que a minha pesquinha produziu bons efeitos: no sábado (5) tinha ferrado um de 800 grs. e deixado escapar dois de igual porte e na vez seguinte (sábado, 12), para além dos outros dois que se safaram, consegui ferrar três, sendo idênticos, com um deles já a pesar 850 grs.

O entusiasmo foi tanto que logo pensei em pedir dispensa de ir buscar o Rafael ao colégio ontem (segunda-feira) e assim aproveitar o derradeiro dia antes da entrada do Defeso para ver de conseguia fisgar mais uns bons exemplares no mesmo local. A água estava excelente de limpeza (via-se o fundo, com nitidez, a 3 ou 4 metros da margem) e os peixes andavam bastante activos à caça ou tratando da sua desova. Prometia, pois…

Cheguei então junto da pequena represa - infelizmente ainda muito longe de estar cheia, não obstante estarmos no final do Inverno, nada chuvoso a sul do Tejo… - por volta das 9 da manhã, percorridos que foram, com calma, os 106 kms que a distam da minha residência e, depois de comer um peça de fruta, logo parti para junto da água para tentar a minha sorte. Mas aconteceu como já esperava: nada. Nada de nada! As águas, de temperatura ainda muito baixa por causa do muito frio da noite, não convidavam os achigãs a saír do fundo onde tinham  águas menos gélidas.

Fui almoçar, naquele que é para mim também um belo e saboroso momento destas jornadas piscatórias por terras e ares alentejanos!  Desta vez escolhi um delicioso Pernil Assado no Forno, com batata frita, arroz e uma fresquinha salada de alface como acompanhamento. Comi metade de um queijinho de ovelha seco e “reguei” tudo com os habituais 7,5 l. de tintinho da Península de Setúbal. Tudo com nota máxima de sabor, qualidade e satisfação!

Eis-me então de novo a caminho da represa, não sem que antes ainda visse um casalinho de perdizes nos terrenos anexos à estrada de terra. Mas, noutras ocasiões, também já tenho visto coelhos, saca-rabos e até texugos e javalis… E até gazelas! Sim, gazelas selvagens, numa ocasião única que me deixou tanto de entusiasmado, quanto de admirado!...

E, chegado de novo à actividade piscatória do meu encanto, como previa tudo então foi diferente, para muito melhor! O Sol, nas horas decorridas, tinha tornado a temperatura ambiente e as águas com temperatura bem mais amenas e logo vi e senti que os amigos peixinhos já andavam por ali bem mais activos.

Se, de manhã, andei de um lado para o outro, dei a volta à barragem e mudei várias vezes de amostra e nem sinal deles, agora, era totalmente diferente… Escolhi  uma amostra “Rapala” verde, de 9 cms, flutuante, que me pareceu a mais adequada e foi um “ver se te avias”: êxito total!

Das duas e meia, às cinco e meia, ferrei 5 bons exemplares, com cerca de 800 grs. cada, sendo que um deles, o maior, já pesou 1,1 kg! E pelo meio, um a um ainda os vim trazer ao jipe e fotografei e filmei! Maluco por este vício, só estou bem funcionando assim, fotografando e filmando, para mais tarde recordar…

Bom, mas pelo meio, ainda aconteceu que um “grandolas” me quebrou a linha e levou a mostra!... (E eu que, de manhã, olhando para um pedaço no extremo da linha mais deteriorado, havia pensado em substitui-la mas, como era o último dia antes do Defeso, achei que só em Maio, na abertura, deveria cortar aquele pedaço da linha… Mandam os cadernos de bom pescador que nunca se deve facilitar mas… o quê? É sempre o mesmo…) E para além desse “grandinho” mais três se foram… Com tantos anos a ferrar achigãs, ainda me acontece isto…

Bem, o achigã quebrou a linha e levou-me a boa amostra e eu fiquei danado, claro… Mas foi por pouco tempo… Passados uns instantes vejo-a a flutuar com o pedaço da linha! O bicho tinha conseguido “cuspi-la” e, como é flutuante, veio ao de cima. Foi a minha sorte! Lancei-lhe depois uma nova amostra e consegui recuperá-la e assim, do mal, o menos… Foi-se o peixe mas ficou a amostra.

Contados então, no final do dia e já com algum cansaço, foram assim 5 (cinco!) os belos exemplares que consegui neste derradeiro dia de pesca antes do Defeso! Bom! Muito bom!
Para os três dias de pesca fiz uns pequenos trabalhos no Photoshop que aqui deixo como testemunho e para mais tarde recordar.

Agora resta-me contar dia-a-dia os 60 em que vigorará o Defeso e a 16 de Maio lá retornarei com a ansiedade e o entusiasmo de sempre! O ambiente bonito e puro, o ar bom de respirar, os animais selvagens, o contacto com a Natureza e a própria pesca que me ocupa e desanuvia a mente preocupada e até perturbada, é algo de que não prescindo e que me tem feito muito bem nestes últimos anos. Veremos então se assim poderei continuar e quando verei chegar ao fim este calvário que me criaram… 

segunda-feira, 7 de março de 2016

A MINHA PESQUINHA PROMETE!

Ontem não tive ocasião para escrever sobre o dia da minha pesquinha no dia anterior, sábado,  5 e faço-o hoje, neste interminável e desagradável Inverno, felizmente perto do fim em que dias de chuva e frio, aborrecidos e chatos, não me deixaram partir para matar saudades da minha pesquinha.

Vigiava há vários dias na net as previsões dos “manda chuva” e, não obstante elas me indicarem que teríamos nuvens e chuva fraca, teria de avançar na mesma. O vício mandava e o ver o tempo possível de pesca a encurtar, também… O Defeso aproximava-se, só restaria mais um sábado (12) e, para além disso, tinha imensa curiosidade em observar como estávamos de volume de águas, passado quase um Inverno infelizmente com chuvas pouco intensas a Sul do país.

Choveu sem grande intensidade no Ribatejo e no Alentejo mas, mesmo assim, no passado mês de Fevereiro tivemos alguns dias de precipitação considerável e estava confiante que teria as represas onde costumo pescar cheias. Mas, puro engano…

Chegado ao local, depois de uma viagem com vidros fechados por causa do frio e debaixo de alguma chuvinha fraca e, em que, não fora o vício e mais apeteceria voltar para casa, eis a 1ª surpresa: a pequena represa está longe de estar cheia… Faltam, seguramente, pelo menos 2 metros de altura de água para que isso suceda. Uma tristeza e a convicção de que, se não chover algo de jeito em Março e Abril, ela não aguentará o Verão e, forçosamente, secará… Lamentavelmente…

De manhã, a pesquinha foi “zero”, um “zerinho” bem grande, redondo e chato. Não senti e, sobretudo não vi, um único bichinho naquelas águas. Nem achigãs, nem percas, nada de nada. Dir-se-ia que, por ali, não existia viva alma…  Uma tristeza!...
Fui para o jipe, passei uma vista de olhos pelas notícias principais do “Expresso”, voltei por mais um pouco a tentar a minha sorte mudando de amostra mas… nada. Ali, como em tempos dizia o velho e saudoso companheiro de pesca Carvalho, “eles” estavam “arrecadados”. Feliz expressão que não mais esquecerei.

Fui para o almoço, debaixo de mais um pouco de chuva e ali me queixei ao Fernando: “Fernando, como dizia o velho Carvalho: estão arrecadados!” e, tive como resposta: “É. As águas ainda estão muito frias!”.

Seria para não voltar mas, pescador que é pescador, não teme mau tempo e vai. Voltei, pois e em boa hora o fiz... Fui de novo para o “paredão”, zona mais protegida do vento frio e onde o Sol colocava a água com temperatura mais amena (a cabecinha e a experiência sempre servem para alguma coisa) e, ali estavam eles: Um, de 800 grs que, de peito cheio que nem um perú, logo fui pesar, fotografar e guardar na caixa térmica e de novo retornei, esperançado que a “coisa” continuasse… E continuou mesmo, embora de forma não tão feliz: logo de seguida outro, ainda mais pesado e maior mas que todavia se soltou já bem perto de mim e, logo depois, deu dois sofridos e ofendidos saltos na água e, pouco depois, mais outro que igualmente se foi… Afinal, depois da hora do almoço, os “rapazinhos” deixaram de estar arrecadados…

Satisfeito com as emoções deste 1º dia de pesquinha de 2016, fui de novo um pouquinho para o jipe e, escassos minutos volvidos, vejo chegar um carro branco com dois presumíveis pescadores… Pergunta-me um: “Então, não dão nada?” E, eu desalentado: “Nada! Nadinha! As águas ainda estão muito frias.”

Pescador é mentiroso, né? É isso que se diz…

Afinal, esse que comigo falou não fez mais que meia dúzia de lançamentos e logo partiu ao encontro do companheiro que havia subido a encosta… E eu intrigado… Regressaram alguns momentos depois, ambos com as mãos cheias de… espargos silvestres.

Também vou procura-los e colhê-los no próximo sábado em que conto lá voltar – agora, presumivelmente, já com bem melhor tempo… - para o derradeiro dia da minha pesquinha antes do Defeso, esse danado que começa a 15 e só termina no outro 15, mas de Maio.

Um verdadeiro sacrifício – e suplício! – até lá.

sexta-feira, 4 de março de 2016

EM MARÇO DE 1971, NO CHOUTO DE OUTROS TEMPOS




Hoje recordo este que, seguramente, foi um dos maiores escândalos da minha freguesia natal na época contemporânea:
Há 45 anos, quando da saída para a rua da edição de Março de 1971 do “Jornal da Chamusca”, provoquei um dos maiores “balburdios” na aldeia e na freguesia!
Passo a contar:
Tínhamos então no Casal do Geraldo uma bruxa – ou benzedoura, como então também se lhes chamava – que, na época, estava a agitar as mentes menos esclarecidas do burgo pelo que o então jovem repórter do jornal local – eu tinha na data os 26 anos em que sempre se tenta mudar o mundo… - entendeu por bem agitar as águas e mandar uma pedrada no charco. Recordo-me que na agitação social da aldeia já nalguns casos se falava em divórcios de casais com muitos anos de consórcio e as consequências para esses, para filhos e até, nalguns caos, para netos, seriam graves e inevitáveis. E, o jovem repórter, de sangue na guelra, achou que tinha que agitar as águas e mudar as coisas…
Arranjei como cúmplice corajoso o falecido e meu muito saudoso amigo João da Cruz Galucho que, “pendura” dentro do carro, tinha a missão de, com a minha velhinha “Kodak” escondida, que lhe ensinei a manejar, sacar as fotos possíveis, atraída que fosse por mim a senhora para a rua e aí ele deveria disparar a maquininha. Tudo resultou em pleno.
Não foi fácil e corri algum risco - depressa aliviado porque a senhora não reconheceu o solteirinho ali apresentado como “caixeiro viajante” supostamente casado que andava em difícil relacionamento com a sua esposa… - e, depois de cerca de meia hora de “consulta”, com gravador de voz previamente ligado escondido numa velha pasta de couro ciosamente conservada encima do colo na consulta, onde depois foi depositado um prato com água e uns pingos de azeite que se “escangalhava todo”… - nas palavras da pobre senhora “benzedoura”, saí e o João da Cruz registou as fotos na rua. Pleno êxito na operação, pois!
Trouxe então um género de “pó de talco”, a que a senhora chamou de “pó d’atrair”, que tinha de juntar aos poucos nas cartas que fosse escrevendo à “esposa” e, em casa, também teria se colocar debaixo da almofada da cama sem que “ela” desse por isso…
Quando o jornal saiu no final de Março de 71 foi o escândalo dos escândalos! Houve mesmo um “auto de fé” com vários exemplares a serem queimados no largo da aldeia e o nosso saudoso João da Cruz na ocasião teve mesmo que meter pernas ao caminho e recolher-se em casa para não ser incomodado fisicamente… Mas, ele era, seguramente, o menos culpado… Eu, sim, fui o obreiro daquela “maldade”. Honra seja feita e se diga entretanto que, a mim, grande responsável daquela arriscada façanha, ninguém da terra incomodou. Foram simpáticos e amigos.
Na verdade, culpado era e foi este vosso amigo que, preocupado com o ambiente então existente na freguesia, quis mandar uma pedrada no charco e mostrar a muitos conterrâneos que andavam profundamente enganados e errados e, a senhora – que por sinal era bastante inculta e ignorante, coitada… -, era prematuramente informada por colaboradores/as locais que a informavam de quem iria na vez seguinte à “consulta” e aí ela sabia o que devia “armar” com a suposta padecente. Como na minha vez foi apanhada de surpresa e de mim nada sabia, foi o desmascarar de uma farsa que provocou o escândalo.
Confesso entretanto que, hoje, passados este 45 anos, não sei se teria coragem para arriscar tanto como então o fiz…
Como remate final digo que o escândalo chegou ao Ministério Público e fui chamado a tribunal – Tribunal da Golegã – onde já encontrei em cima de uma grande mesa todos os frascos com cobras, sapos e lagartos em álcool e as muitas fotos molduradas de então militares da freguesia na guerra de África, objectos que tinha visto no local da “consulta”, e no tribunal limitei-me a confirmar tudo o descrito na reportagem do jornal, tendo conhecimento posterior que a senhora foi “recambiada” para um outro qualquer lugar, creio que mais a Sul onde, presumivelmente, continuou a dar os seus “aconselhamentos”…

(Texto e foto publicados na página do Chouto no Facebook)