quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O NOSSO NATAL

Votos de que, para o ano, não obstante os “passos” insensíveis, criminosos e tortos que nos vão (des)encaminhando, ainda consigamos obter imagem igual a esta de 2013!

Foi com esta frase e esta foto que, ontem, dia de Natal, formulei votos para o Natal de 2014 e consequente ano que vai seguir-se e, francamente, pouco mais posso acrescentar hoje para além de manifestar a minha convicção que não acredito que 2014 seja económica, financeira  e socialmente melhor que o que agora de apresta para findar.
Na verdade, com esta política e estas medidas destes fieis funcionários de Merkel, troika e Cª que há anos nos mandou e obrigou a empobrecer – foi isso mesmo, “temos de empobrecer”, que Passos Coelho nos sentenciou logo que ocupou S. Bento… - vamos sofrer ainda muito mais e, tarde, muito tarde, sentiremos o alívio do garrote. É nisso que acredito e é para isso que estou preparado.
Destruiu-se uma economia, levou-se um país ao fundo, colocou-se toda a gente a “pão e água” e de mão estendida e, com cortes e mais cortes, austeridade e mais austeridade, colocou-se todo um país no fundo.
Para cúmulo e no meio de todo este enorme drama assiste-se a um primeiro-ministro a fazer uma mensagem de Natal optimista e a falar-nos de uma terra que não é esta onde vivemos… Dir-se-ia que o rapaz não tem andado cá, não está cá, vive noutro planeta.
Uma tristeza.
Que os deuses olhem por nós!...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

QUOTIDIANO


Depois de ao longo de semanas e meses o ter visto na frente do prédio a varrer a praça continuamente tapetada de milhares de folhas dos Plátanos, dos Castanheiros da Índia e das demais árvores de folha caduca, observo-o agora aqui de cima limpando a zona traseira do prédio de iguais folhas e idêntico lixo no arruamento que dá acesso às garagens de diversos prédios.

Sempre com o mesmo ritmo, sem grandes pressas, executa o seu trabalhinho em ritmo cadenciado e sempre com igual eficiência: não fica uma folha, um papel, um fragmento de lixo para trás. Tudo, tudo limpinho, com cuidado e zelo!
Deixo-o vir avançando e, quando já se aproxima do portão da garagem do edifício, resolvo presenteá-lo: vou à cozinha, pego dois copos e desço.
Já está perto do portão e, esperando que me olhe, levanto os copos e convido-o, perguntando se bebe um copo. Como que surpreendido pela oferta, pergunta:
- Diga?
- Vai um tintinho?
Nem responde. De vassoura na mão avança na minha direcção e aceita, francamente:
- Bebo!
Não está comigo mais de 5 minutos, tempo suficiente para bebermos dois copinhos., “É bom!” diz-me e conta-me também um pouquinho da sua vida:
Tem 63 anos, veio de S. Vicente em 1983 e há muito não visita a terra por dificuldades económicas e, à minha observação sobre a sua idade de que em breve poderá reformar-se, pergunta-me: “Acha? Com o que o nosso governo está para aí a fazer, sabe quando vou reformar-me? Eu não sei, não!”

E queixa-se ainda mais:
- Este Passos Coelho está cortando, fazendo tudo muito mal. Não sei… Veja como estou na minha vida: 3 “mininas” em casa sem trabalho, sem emprego. A mais velha estava no 2º ano de Direito e teve de sair por causa das propinas. A mais nova está no 12º e também quer ir para a Faculdade mas eu já disse que não pode… Não posso, senhor! O meu vencimento de 500 euros e mais um bocadito, pouquinho, do trabalho da mãe, é o único dinheiro que entra por mês em casa, como posso? Como posso? Não posso! Elas choram mas eu não consigo… A mais velha diz que quer ir para fora. É uma tristeza.
Saímos e ele recomeça o seu trabalho mas, mesmo assim, enquanto vai vassourando, ainda pressagia:
- Vejo tudo muito calado e muito calmo mas acho que um dia destes alguma coisa pode acontecer… Eu não, mas, alguém é capaz de fazer qualquer coisa… É. É.
Termina perguntando-me:
- Ouviu o Mário Soares na Aula Magna? Ouviu? Pois…Não sei…
Prosseguiu o seu trabalho e eu nem lhe disse que, meses atrás, telefonei para a Junta de Freguesia a elogiar o seu serviço de varredor das nossas ruas…
A funcionária que me atendeu a chamada passou a outra colega que se mostrou surpreendida com o meu telefonema…
- Só nos telefonam a fazer criticas e o senhor resolve fazê-lo para elogiar o trabalho de um cantoneiro. Estou admirada e vou registar. Foi bom ouvir! Obrigada!