segunda-feira, 28 de março de 2011

EFEMÉRIDE - O DIA EM QUE FUI À BRUXA!


Vivíamos o ano de 1971 – faz agora 40 anos! - e o seu mês de Março caminhava para o fim, com os meus 26 anos estava na idade da juventude em que se contesta tudo, se ambiciona ter influência e melhorar e mudar o mundo e, eu, escrevendo nos jornais, sendo muito conhecido no meio que me circundava, não fugia à regra…

O extinto e nosso velho “Jornal da Chamusca” tinha nascido um ano antes e eu pertencia aos seus quadros desde a 1ª hora. Tinha “carta branca” para escrever o que queria e sobre que queria e cheguei a fazer algumas reportagens talvez com algum interesse – uma, bem no interior da charneca do concelho da Chamusca, onde as pessoas viviam como que no sistema feudal, ficou-me na memória… - e por esse facto e também pelos muitos espectáculos e festivais que apresentei, em organização do jornal, este escriba era figura bem conhecida da região.

Foi neste quadro que tive conhecimento nesse mês de Março de 1971 que no interior da minha freguesia, num casal (povoado) perto do Chouto, tinha “caído”, vinda não sei donde, uma “benzedoura”, ou bruxa, como é mais vulgarmente conhecida.

Os seus “dons” depressa se espalharam pela zona e a freguesia à curandeira ia aumentando ao mesmo ritmo, ia eu sabendo depois, quanto os problemas que a senhora ia criando nos lares entre os esposos já que, segundo se dizia, ela apontava com frequência, ás queixas das “pacientes”, o motivo ter origem na existência de supostas amantes…

Claro que a situação começava a deteriorar-se nas respectivas casas e daí começar a falar-se em separações era um pequeno passo…

Foi neste quadro que este maluco rapaz de 26 anos, pensando que seria impossível conseguir uma entrevista para o jornal com clientes ou “benzedora”, resolveu actuar. Como fazer? Ora pois, isso mesmo: Ir solicitar uma “consulta” à prendada senhora...

Pensei no assunto e de imediato pu-lo em prática tendo o cuidado de tudo fazer com o maior sigilo para que a senhora, com a inesperada chegada da minha pessoa nada soubesse (só me esqueci – não há crime perfeito… - que as vizinhas dela conheciam-me e aconteceu que uma delas, enquanto eu estava na “consulta”, abeirou-se do João da Cruz Galucho – meu saudoso companheiro desta aventura! – que estava sorrateiramente dentro do meu automóvel com a missão de tirar fotos “à sucapa” – e interpelou-o “Que veio ele aqui fazer? Ele não é destas coisas… Veio para fazer barulho!...” Mas felizmente não passou disto e não lhe deu para ir interromper a “sessão” o que daria uma bronca bem complicada…

Pois então muni-me de um velho e pesado gravador portátil (no tempo não havia coisa mais pequena…) que tinha comprado cinco anos antes com o dinheirito que recebi da mobilização para a guerra (recebíamos assim como que um rebuçadito…) meti-o dentro de um velha pasta de cabedal do meu pai (pode ver-se na foto) e, depois de convencer o saudoso amigo João da Cruz e instruí-lo sobre o funcionamento da velhinha kodak, pedi-lhe que nunca saísse do carro e, dali, sem ser visto, captasse o que pudesse, se possível eu com a senhora, que atrairia para perto da viatura.

Não vou aqui descrever detalhadamente toda a sessão que me impressionou fortemente e me fez interrogar de como era possível alguém acreditar numa pobre daquelas, mulher profundamente inculta – rústica, analfabeta! – num português absolutamente arcaico e primitivo e, muito, muito ignorante.

Para que o meu trabalho produzisse o efeito que pretendia – escândalo e como que um choque nas pessoas que acreditavam naquilo – eu teria que apresentar á bruxa elementos falsos, para provar que ela não possuía qualquer dom fora do comum… Assim, para além de lhe fornecer um nome falso, disse-lhe que era Caixeiro Viajante, que era casado e que me dava muito mal com a minha mulher. Tudo ao contrário da realidade da minha vida e que as pessoas bem conheciam.

Jamais me esquecerei daquela cena! Sentado numa cadeira, com a pasta com o gravador no colo, uma mesa com velas acesas e cheia de fotos de homens, mulheres, crianças e sobretudo militares de camuflado vestido (no tribunal depois veria também alguns frascos com sapos, rãs, cobras, etc. mas ali não me recordo de os ter visto…), 2 ou 3 crianças de 6,7 anos a assistirem, ela com um prato com água onde deixava cair umas gotas de azeite e depois fazia a sua análise ao comportamento do azeite na água…

Rezava uns “Pai Nosso” e umas “Avé Maria” e dizia que o meu azeite se “escangalhava” todo e acabou por me “receitar”, coisa que logo me forneceu, um “pó d’atrair”. Isto mesmo: A senhora receitou-me “pó d’atrair” que deveria colocar aos pouquinhos debaixo do travesseiro na cama, espalhar também um pouquinho pelos lençóis e, em viagem, se escrevesse à esposa, deveria meter também dentro do envelope…

Depois da aventura e de imediato, logo ali a 500 metros parei o carro para comprovar se o gravador tinha gravado e, tinha. Saltei de entusiasmo e só não sabia se as fotos do João estariam bem, coisa que só se saberia depois da revelação (o digital nem se sonhava com ele…).

Depois, depois foi a bronca quando a reportagem saiu no “Jornal da Chamusca”! Algumas pessoas sentiram-se atraiçoadas, outras gozadas e, muitas, ofendidas. Essa não era a minha intenção, devo confessar, porque só pretendi demonstrar que tudo aquilo era uma trapalhada sem jeito, uma falta de cultura e até mesmo uma vigarice.

O jornal foi queimado na praça pública - imagine-se a cena!... - e o pobre do João da Cruz ainda sofreu algumas ofensas e numa das vezes teve de bater em retirada para não sofrer as consequências... Devo todavia confessar que a mim e a minha família nada nos aconteceu e ninguém me abordou fosse como fosse. Só fui a tribunal...

Passados uns dias da bronca sair no jornal, recebi uma convocatória e fui ao Tribunal da Golegã. Já lá tinham todos os objectos que a bruxa tinha para as suas práticas – foi lá que vi os tais frascos com os animaizinhos dentro – e limitei-me a confirmar a autoria da totalidade da reportagem e mandaram-me embora.

Da bruxa saberia posteriormente que foi convidada pelas autoridades a desaparecer dali e, possivelmente, deve ter montado “banca” noutra zona…

Agora que se completam 40 anos sobre esta aventura – foi uma aventura e não foi pequena!… - registo aqui a efeméride que na data provocou grande bronca na região.  

quinta-feira, 24 de março de 2011

OBRIGADO, ARTUR AGOSTINHO!


Um dia depois do funeral de Artur Agostinho e também um dia depois da queda do governo PS, depois da rejeição na Assembleia da República do seu PEC4 e do imediato pedido de demissão de Socrates, talvez fosse lógico pela sua importância que aqui abordasse este último facto mas, não o farei…

Estou farto destes políticos e destas politicas e não quero saber deles para nada. Que se lixem! Que se entendam! Que vão para o diabo que os carregue porque o que temos vindo a observar ao longo dos tempos é maus de mais. Muito mau.

Agora voltam a mandar os portugueses votar e, de mim, terão mais um enorme manguito… É absolutamente impressionante como estes gajos de bolsos e barriga cheia brincam com tudo isto, esquecem o português comum que, na sua grande maioria está pobre, triste e não encontra perspectivas e motivos de animo para o futuro.

Demasiado mau para ser verdade mas, é isso mesmo que temos nesta terra, neste país, aqui e agora…

E falo então desse excelente profissional da comunicação, desse homem bom, educado, cavalheiro e cidadão exemplar que se chamou Artur Agostinho cuja morte inesperada e por isso ainda mais sentida ocorreu dois dias atrás, depois de um internamento de oito dias em Santa Maria.

Artur Agostinho tinha sido distinguido no passado dia 28 de Dezembro pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, facto que o deixou muito feliz segundo confessou e ninguém diria nessa data, ainda nem com 90 dias passados em que se apresentava com tanta vitalidade não obstante os seus 90 anos que hoje estaríamos a falar da sua partida do mundo dos vivos.

Porque era um homem que conhecia há muito – desde os meus 13 nos! - e porque acompanhei sempre com vivo interesse e muito apresso a sua excelente actividade profissional – para além dos excelentes relatos de futebol que fazia, dos belíssimos espectáculos que apresentava – os Serões para Trabalhadores, antes do 25 de Abril, era um trabalho prefeito! - recordo-me bem das suas magníficas reportagens aquando do Terramoto de Agadir, em Marrocos! – para além da sua irrepreensível vida pessoal de homem e pai de família, senti muito pesar pela morte de Artur Agostinho e quero aqui registar esse mesmo facto.

Tenho por hábito acompanhar num último adeus pessoal figuras públicas que ao longo da vida fui apreciando e admirando e a exemplo do que fiz com Joaquim Agostinho, Miguel Torga e Amália Rodrigues, deveria e queria estar hoje no funeral de Artur Agostinho mas, infelizmente, outros compromissos familiares graves aqui em casa impediram-me de estar no último adeus. Coisas e surpresas da vida que por vezes acontecem e que não podemos ou devemos contornar…

Fica então aqui a minha sincera e sentida homenagem a este homem bom, grande comunicador e excelente profissional!

Obrigado, Artur Agostinho!

Descanse em paz!

segunda-feira, 14 de março de 2011

JAPÃO - TRAGÉDIA IMENSA !


Horríveis, chocantes e terríveis são as imagens que nos têm chegado do Japão desde as primeiras horas da manhã de 11, dia em que um terramoto do grau 8,9 (!!!) abalou aquele país tendo-se seguido um marmoto (tsunami) com as imensas e dramáticas consequência de que temos vindo a receber notícias e que, forçosamente, para além do incalculável prejuízo, terá provocado muitos milhares de mortos. Milagre seria se assim não fosse…

As imagens são por demais chocantes e trágicas! Dizem-nos que o mar entrou pela terra ao longo de toda a costa, numa extensão de 2.000 Kms, tendo em certos casos avançado pela terra adentro 10 a 12 Kms e isso faz supor que a tragédia terá sido gigantesca e inimaginável.

Mas, o drama ainda poderá ser muito maior a partir do momento que se noticia que há centrais nucleares atingidas pelo tsunami e prestes a libertar radioactividade com todas a imensas e terríveis consequências que se adivinham – ou talvez nem dê para imaginar…

Os técnicos japoneses conscientes da enorme gravidade da situação tudo estão a fazer para evitar uma tragédia maior mas, na data em que escrevo, muitas dúvidas e interrogações se põem de natural preocupação sobre todo este imenso drama.

Volta a pôr-se em causa o nuclear e vejo com alguma surpresa que os seus defensores estão em silêncio…

Em silêncio absoluto.