sábado, 28 de outubro de 2017

PÉROLA BONITA DO MEU BAÚ DE VELHARIAS!


Por considerar uma verdadeira ternura a forma como a manas se apresentam vestidas e perfiladas, deixem que vos mostre esta deliciosa foto que terá sido tirada por volta de 1940 numa Feira de S. Pedro do meu Chouto natal e que nos mostra os meus avós maternos Maria do Rosário e Gregório Alves e as suas 4 filhas, Maria (minha mãe), Beatriz, Domingas e Luísa.

Infelizmente, desta querida família - linda de interior e exterior! -, honrada, trabalhadora e de caracter, um a um todos já partiram e, agora, resta-nos as recordações da sua honesta e bonita vivência e as muitas saudades que ficam na nossa memória para todo o sempre.
Vindos da zona de S. Facundo (Abrantes), terra de sua naturalidade, fixaram-se por volta desse ano de 1940 nos Anafes do meu Chouto e aí arrendaram um dos casais e seus terrenos envolventes, com montes e vales para arrotear e cultivar.

Dia a dia, mês a mês, ano a ano, ao sol abrasador, ao frio e à chuva dos invernos agrestes, avô Gregório e avó Maria (“ti Maria Arroteadora”, como ficou conhecida) e suas quatro filhas, jovens moças de boa e saudável força braçal e física, saudáveis e bonitas, muito arrotearam, muito semearam, muito cavaram, muito ceifaram, muito labutaram de sol a sol, como então era uso obrigatório na duríssima vida agrícola de outros tempos. “Saiamos ainda escuro e quando o dia clareava já nós estávamos ao pé do “pão” para o ceifar e atar, antes que o calor abrasasse!” – bastas vezes me contou a minha saudosa mãe…

Chegados ao S. Miguel (final de Setembro), era a muitas vezes terrível tarefa de arranjar dinheiro e géneros colhidos para pagar a renda ao senhorio. E quantas vezes o dinheiro era escasso e os géneros eram mínimos para isso?...

Vida difícil! Muito difícil!

Nesta sua belíssima foto que publico e de que gosto particularmente, pela ternura e pelo cariz familiar que encerra, acho uma delícia a forma como as manas se apresentam vestidas e interrogo-me se, nos dias de hoje, tal conjunto seria possível realizar?

terça-feira, 24 de outubro de 2017

"TRIGO LIMPO, FARINHA AMPARO"


Ontem, consulta/entrevista com o médico que muito provavelmente me irá operar no Hospital Curry Cabral.

Pôs-me ao corrente da minha situação clínica e alertou-me para os riscos e gravidade que a cirurgia encerra, entendendo eu que, como o pessoal já sabe dos riscos da tradicional e velha cirurgia de “faca na barriga”, não se fique convencido que o novo método, por furos, não acarreta iguais riscos. Foi assim que entendi as suas palavras quando, alertando-me para idênticos problemas que eventualmente possam surgir e numa linguagem assim mais terra-a-terra, usou a expressão “isto não é trigo limpo, farinha amparo”. 

Gostei do trato e do seu pragmatismo que, embora porventura institucional, tem toda a razão de ser e por isso acho que se justifica. Quando se parte para uma situação destas há que estar ciente dos riscos que se corre.

A alternativa a esta cirurgia seria uns tratamentos mais ou menos paliativos e que mais não tinham que porventura aliviar e nunca erradicar o mal. 

Assim, há que avançar e acreditar na ciência e na sabedoria e experiência dos médicos, ciente que a garantia de sucesso não existe em 100%, como nunca existirá nos nossos tempos, mas que, se tudo correr bem, o mal será debelado se não na totalidade, pelo menos em grande percentagem.

Há que acreditar! 

Vou em frente!

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SENTENÇA LIDA...


E, agora, vai seguir-se, nesta velha carcaça – ou melhor: na “peça das iscas”… - uma Laparoscopia que é assim como que uma “ida à faca” mas feita noutros moldes mais eficientes e menos dolorosos – assim o espero… -  e mais modernos, coisa que a evolução dos conhecimentos em medicina felizmente já permite. 

Pretende-se retirar um “apêndice” (nódulo) de 4 cms que abusivamente o fígado deixou criar, a que se seguirá a análise do tecido e a consequente “sentença”… 

Ao que me informam o pós-operatório da laparoscopia é menos doloroso e mais rápido que a velha conhecida “faca” que cortava e abria as entranhas do doente . O médico disse-me que são 2/3 dias de recuperação mas eu parto preparado para mais outros tantos, no mínimo.

E, aqui estou eu, que há um ano atrás nunca tinha ido ao médico e, agora, neste período decorrido, tenho tirado um verdadeiro curso intensivo dessas andanças…

Mas avanço tranquilo, ciente que estou em boas mãos e apenas apreensivo quanto aos resultados finais dos exames. Como tenho andado nestes últimos meses, com inchaços e dores, é que não interessa mesmo. Perdi muita qualidade de vida – muita mesmo! - e há que inverter o percurso.

Quanto aos resultados finais dos exames cá estarei, segundo o espero, para os receber, que não sou nem mais nem menos que outros…

É a vida.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

HORAS DE GRANDE AFLIÇÃO!


Noite totalmente em claro.

A 300 kms de distância não dá para ir à cama e muito menos fechar olho.

Aldeia sem luz e entregue ao seu destino evacuada e com casas a arder no centro do povoado.

Preocupação imensa! 

Tudo queimado em redor e o inferno em tudo o que é sítio por toda a Beira Alta.

Tomara que passe mais uma hora para, com o dia a nascer, os destemidos que resistiram me contarem das consequência deste inferno e dos incalculáveis prejuízos sofridos por todos.

(A foto que anexo foi publicada no Facebook por um habitante de Figueiredo das Donas, aldeia vizinha de onde se via, segundo ele, Crescido a arder...)

EM TEMPO - O texto acima foi escrito às 6 da manhã, depois de uma noite em claro, com momentos de grande ansiedade e angústia. Nascido o dia e avaliados os estragos em Crescido, foi possível aliviar sobremaneira a ansiedade porque recebendo notícias de que na aldeia só uma casa devoluta ardeu, no que ás habitações diz respeito. Mas em seu redor e "beijadas" que foram as casas na sua estremadura, tudo foi queimado, tudo é negro, tudo é cinzas. Desgraça tamanha mas que, convenhamos, podia ter sido terrivelmente muito pior... Mas o susto foi tremendo! Tremendo!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

HÁ 50 ANOS, A GUERRA!


Não vou dizer, como é habitual, que “parece que foi ontem” porque, na realidade, não parece isso mas, também constatar que já passaram 50 anos sobre a minha partida para a guerra colonial, na verdade também me deixa a pensar como o tempo voa…

Foi no dia 11 de Outubro de 1967 que, embarcando no paquete Niassa, este rapaz, ingénuo e purinho, verdinho, verdinho para enfrentar uma guerra de guerrilha daquelas, avançou com mais uns milhares de outros igualmente ingénuos e impreparados rapazes na flor da idade e que, qual “carne para canhão”, tiveram de deixar pais, irmãos, namoradas e, quando não, noivas, esposas e filhos e, forçados, verem-se envolvidos em problemas tamanhos de sobrevivência radical e… mortal.

No meu caso particular, anjinho e terrivelmente impreparado, não obstante os cursos intensivos recebidos na “recruta” e depois na “especialidade” e depois transmitidos aos soldados aquando da formação do batalhão, embarquei a 11/10 e, dois meses e meio depois, lá bem no “cu de judas”, no distante e inóspito Leste de Angola, já estava a “ouvi-las” num violento ataque ao aquartelamento onde estava instalado chefiando uma curta secção de 10 homens. Valeu-nos os fuzileiros, tropa muito especializada e experiente que igualmente ali estava instalada por nos encontramos muito junto ao Rio Zambeze que eles patrulhavam muito assiduamente.

No dia 25 de Dezembro, dia de Natal, pelas 20 horas, já noite serrada, vinha a pé para as nossas instalações na companhia de um fuzileiro desde a mercearia de um branco ali estabelecido, onde tínhamos bebido umas cervejinhas quando, subitamente, o ataque foi desencadeado ali a 20, 30 metros de nós. As primeiras vinham terrivelmente ajustadas e só não nos atingiram por enorme sorte. Mas o fuzo ficou apenas com o gargalo da garrafa de bagaço que trazia na mão… Eu não fui molestado felizmente e, depois das primeiras balas bem ajustadas e como eram tracejantes, lembro-me bem de as ver passar por cima em grande quantidade que nem estrelas cadentes…

Depois, bem, depois foram mais dois anos de sacrifícios, sustos, medos, fome e sede – onde não faltou outro ataque inimigo, igualmente sem consequências de maior naquelas terras, naqueles mundos que nada nos diziam e que nos eram tão adversos.

Mas felizmente regressei inteirinho e, como bem sabemos, muitos milhares de jovens, como eu forçados a lutarem e a defenderem as suas vidas, não tiveram essa sorte e perderam o melhor deles próprios, as suas jovens e promissoras vidas.

E, face ao posteriormente ocorrido, não podemos deixar de nos interrogar: e para quê? 

Para quê?...




(Deixo as imagens do local onde sofri o “baptismo de fogo”, mapa de parte de Angola onde se vê a localização de Chilombo, pequeno lugarejo onde se deu a ocorrência e um rascunho do Relatório do ataque que fiz ao Comando.)

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

RECORDAÇÃO DA GUERRA COLONIAL (5)





MENINOS DE OLHOS TRISTES E PREOCUPADOS...
... EM DATA E AMBIENTE DE GUERRA...

ANGOLA (Leste)
GUERRA COLONIAL / 1968


Nestas três crianças que brincavam com... nada, porque nada tinham para brincar... encontrei uns olhitos tristes e preocupados...

E poderia ser de outra forma?...

Na sua frente tinham um homem estranho, branco, vestido de uma esquisita roupa de ramagens verdes e castanhas (camuflado), com uma espingarda numa mão e na outra um estranho objecto que colocou na frente dos olhos e fez um esquisito clic...

Acredito que se interrogassem: que nos irá fazer?...

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

E PASSOS COELHO "JÁ ERA"...

Pronto, Passos Coelho já se foi. 

Aconteceu ontem, finalmente, como resultado dos péssimos resultados nas Eleições Autárquicas.

Nunca gostei da sua actuação como primeiro-ministro e considero um alívio deixar de o ouvir diariamente e quase hora a hora nas tvs mesmo agora, depois de há 2 anos ter sido posto de lado pela chamada “geringonça”.

Não esqueço que herdou um país em pré bancarrota mas, até nisso, para pôr a mão no pote, para utilizar uma sua expressão na época, foi mais que mau. Disse que conhecia perfeitamente a situação do país, prometeu mundos e fundos para vencer e, sentado em S. Bento, fez tudo, tudo ao contrário do antes prometido.

E como o fez? E com que insensibilidade o fez? Quem não se lembra da forma fria, distante, desapegada e insensível com que anunciava cortes, cortes e mais cortes?

E que cortes e a quem? Pois exactamente em 1º lugar aos reformados e pensionistas que não tinham defesa e contestação possível. Foi mau de mais! Foi um horror!

Até feriados foram retirados… E nunca se entendeu por quê e para quê?…

E quando nos mandou emigrar? E quando nos mandou empobrecer? E quando nos disse que vivíamos acima das nossas possibilidades?

Mau, muito mau!

Ultrapassado que foi pela “geringonça” continuou com a sua teimosia e a sua burrice: “vem aí o diabo!” foi porventura a que ficou mais famosa. 

E o diabo que não veio; e os números económico/financeiros oficiais que dia a dia surgiram melhores… E o Passos Coelho que teimava em anunciar o pior que estava para chegar…

Burro teimoso, fez com que o governo PS, apoiado no parlamento por comunistas e bloquistas, vivesse 2 anos sem oposição, enquanto o PSD dia a dia mais ia afundando nas sondagens e no país real.

Foi-se. Foi-se e, a mim e a muitos milhares de portugueses, não deixa saudades.