terça-feira, 19 de janeiro de 2021

QUANTAS SAUDADES!...

Nas manhãs de dias frios, húmidos, tristonhos, lúgubres e anunciadores de chuva quanto este rapaz, sentado em pequeno banco de assento de palha, juntinho ao lume e às brasas de sobro no quentinho da lareira rasa que, em contraste com a baixa temperatura do exterior, ali mais tornava paraíso, debaixo dos enchidos, dependurados no fumeiro por cima de nossas cabeças, saídos da recente matança do bácoro, alimentado e criado a hortaliças da horta e milho da seara, quantas Morcelas de Assar, assadinhas no borralho da fogueira foram degustadas? Quantas?


Entaladas no bom e alvo naco de pão caseiro, que depressa ficava ensopado na quente gordura que do bom pedaço de morcela saía – quando não da totalidade da dita cuja… - quantas e quantas Morcelas de Assar este saudoso rapaz não degustou, acompanhadas do inesquecível café que, na cafeteira em permanência sempre esquentava juntinho ao borralho e que, vertido para a generosa chávena, sempre prontinha a receber e saciar o contínuo apetite da criança e do rapaz, tornavam o pequeno-almoço num delicioso manjar para sempre recordado? Quantas?

Saudosos tempos, saudosos tempos que se foram!...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

COVID - 19 - DIAS DRAMÁTICOS!

Numa hora tão grave e dramática para Portugal, devastado pelo terrível e mortífero Covid -19 que mata e faz sofrer, melhor que as minhas fracas e pobres palavras de preocupação e mesmo medo, está o testemunho do médico Ricardo Baptista Leite publicado hoje em muitos meios de comunicação social e diversas redes sociais e de aqui me faço eco por entender que todos não somos de mais para consciencializar os distraídos e/ou inconscientes que teimam em não se resguardar e, irresponsavelmente, vivem assobiando para o lado, convencidos que o mal só acontece aos outros...



"Ontem ao sair do Hospital de Cascais sentia uma enorme frustração e angústia. Para garantir a racionalidade das minhas palavras, decidi esperar por hoje para fazer esta partilha. 

Estive este sábado mais uma vez como médico voluntário no serviço de urgência do hospital de cascais – mais especificamente no chamado ‘Covidário’ que dá resposta aos doentes e suspeitos COVID-19. Nunca vi tantas pessoas morrerem num só turno de 12 horas. A dor e o sofrimento são indiscritíveis. A sensação de impotência por não podermos fazer mais. Vi uma colega médica a chorar depois de sair do covidário mais de 5 horas depois do término do seu turno. Física e psicologicamente esgotada. Cada vez que se estabiliza um doente, havia já mais 3 ou 4 doentes instáveis a entrar pela porta dentro. Vi uma enfermeira praticamente a não conseguir respirar ao tirar o fato de proteção depois de horas infindáveis junto dos doentes. Perguntei-lhe se estava bem e ela limitou-se a acenar com a cabeça enquanto olhava para mim com olhos encarnados antes de simplesmente ficar a olhar para o chão. O silêncio é o nosso companheiro na dor. O peso da ausência de palavras. Tantos doentes a descompensar com quadros de insuficiência respiratória grave. Sem vagas nos cuidados intensivos e a ter de gerir com pinças as poucas vagas de enfermaria, ventilamos os doentes ali, em pleno serviço de urgência. Alguns doentes com ventilações invasivas… Um cenário de guerra. Os doentes menos graves que aguardam pelo teste covid assistem em direto a muito disto… o espaço é demasiado pequeno para tantas dezenas de doentes. E a cada hora chegam mais doentes. É preciso estabelecer prioridades. O cenário é de catástrofe e exige comando e controlo. Temos tantos doentes graves na casa dos 40, 50 e 60, muitos sem outras doenças, que simplesmente não podem morrer. Não podem! Assumem-se por isso prioridades. Não se conseguem acompanhar todos os doentes a todo o tempo. Um doente de cada vez. Fazem-se escolhas tão difíceis sobre quem tem maior probabilidade de morrer, faça-se o que se fizer. É devastador ver equipas de médicos forçados escolher quem são os doentes com maior probabilidade de viver para os poder assumir como prioritários. Estamos em pleno campo de batalha no qual as emoções têm de ficar de lado… mas na realidade ficam apenas recalcadas. Chora-se quando se chega finalmente ao carro no final do turno, ou a casa. Ali no covidário o foco é necessário e absoluto. Assisti a uma colega médica que esteve durante mais de uma hora a ligar para familiares de doentes que estavam sob a sua responsabilidade e que acabaram por falecer num espaço tão curto de tempo, apesar de todos os esforços. Ouvimos a frustração e os choros dos filhos e netos. Compreende-se a dor pela impossibilidade de dizerem adeus… por terem visto o pai, a mãe, a avó ou o avô, pela última vez quando entraram na ambulância ou pela porta do hospital poucas horas antes. Gritam frustrados pela fatalidade do destino e pelo sentimento de lhes terem sido roubados anos de convivência com quem mais amam, ainda para mais por razões que pouco compreendem. Por causa de um vírus. Uma pandemia… uma maldita pandemia. 

O cenário é de guerra e estamos a perder. Está na hora de dizer basta.

Perante a gravidade da situação da covid-19 em Portugal, continuaremos nos próximos dias com uma tendência crescente do número de novas infeções diárias, de internamentos e de doentes em cuidados intensivos. E assim vai continuar até ao final do mês. Um em cada 5 testes realizados no nosso país é positivo. E a tentativa de manter as pessoas em casa para tentar diminuir a dimensão da epidemia simplesmente falhou.

O custo humano de falharmos como país é demasiadamente elevado. Será insuportável e ficará como uma cicatriz de vergonha para futuras gerações de portugueses. Estamos a viver um momento histórico e depende de nós definir como termina.

Por isso, não há tempo a perder. Temos de fazer tudo ao nosso alcance para prevenir mais mortes evitáveis. Não podemos continuar no atual rumo. A meu ver, temos de fazer 5 coisas de imediato:

1. Não esperar 15 dias. Decidir mudar de imediato as medidas governamentais e determinar um confinamento ‘absoluto’ durante 3 semanas para depois ser reavaliado. Isto tem de incluir as escolas, garantindo o apoio remuneratório a um dos pais, tal como aconteceu durante a primeira vaga. O problema não são as infeções nas escolas. É toda uma sociedade que não consegue parar com as escolas abertas. Mais, todas as demais atividades não essenciais, que não sejam possíveis por teletrabalho, devem cessar atividade de imediato pelo mesmo período de tempo. Tudo deve de parar de imediato. Reduzir as regras de circulação unicamente para as situações determinadas aquando do estado de emergência de março 2020. As forças de segurança devem ter instruções claras para atuar em conformidade perante a violação das regras definidas em todo o território nacional.

2. Mobilizar todos os meios de saúde disponíveis no país para as próximas semanas. Chamar todos os recursos humanos disponíveis para abrir o maior número possível de hospitais, clínicas e tendas de campanha com máxima urgência. 

3. Comunicar de forma clara, transparente e diária com o país sobre a gravidade da situação e sobre o que se espera de cada cidadão. Ponderar novamente os riscos inerentes ao ato eleitoral de dia 24 - sobretudo depois do que se viu com o voto antecipado. 

4. Preparar desde já o momento em que se levantarão as medidas restritivas de modo a evitar um novo aumento de casos e futuros confinamentos. Isto exige um aumento significativo do dispositivo de saúde pública e da capacidade de testagem. O país tem de testar no mínimo 5 vezes mais do que atualmente, com particular enfoque na testagem semanal dos profissionais das escolas, dos lares e de saúde. Temos de ser capazes de identificar todos os infetados e determinar as cadeias de infeção – sem saber onde as pessoas se infetam, não seremos capazes de atuar precocemente na contenção de surtos. Mais, devemos ser capazes de identificar todos os que tiveram contacto com pessoas infetadas e garantir o isolamento de todos – doentes e suspeitos. Garantir mesmo que fiquem isolados. Contratualizem-se os hotéis do país para o efeito dividindo-os em hotéis para infetados e outros para suspeitos. 

Testar, identificar e isolar. Não há outra forma.

5. Usar o facto de Portugal ter a presidência do conselho da União Europeia para exigir uma renegociação das vacinas COVID-19 de modo a acelerar o ritmo de vacinação. Temos de vacinar 80% da população até Junho 2021. 

A frustração destas semanas tem de ser substituída por ação determinada para acabar com esta pandemia. Este mês pode estar perdido, mas ainda vamos a tempo de salvar o resto do ano. Ainda vamos a tempo de salvar vidas. Façamos tudo o que está ao nosso alcance. Faça tudo o que puder. Se não por si, por aqueles que mais ama."

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

IMPENSÁVEL!!!

Totalmente impensável assistirmos, como ontem assistimos, aos graves acontecimentos da invasão do Capitólio, em Washington, por uma multidão de arruaceiros apoiantes do presidente vencido Donald Trump!

Ver a casa da democracia, símbolo maior da ordem, da civilização e da liberdade, num país assumidamente defensor da ordem e da liberdade mundiais, dá para avaliarmos quão estranho e louco é o mundo dos nossos dias.

Ver o Capitólio assaltado e saqueado (a cena de um polícia assustado e solitário a fugir escada acima à frente de uns quantos assaltantes é por demais espantosa e dramática!…) e, sobretudo depois do triste 11 de Setembro, comprovar que um grupo de americanos, por mais ou menos numeroso que seja, consegue partir portas e janelas, escalar paredes e penetrar e devassar gabinetes de altos dirigentes da política dos Estados Unidos e do Mundo, é coisa demasiado grave e deixa tudo e todos incrédulos, se não mesmo assustados.

Um sujeito que ao longo do seu mandato fez política de confronto com tudo e com todos, inventa uma fraude eleitoral e, ainda que todos os tribunais a que recorre não lhe reconheçam razão num único caso para reclamar os resultados eleitorais, persiste na alusão a essa suposta fraude e vai agora ao extremo de incentivar aos seus apoiantes uma ida ao Capitólio, deixa-me abismado e indignado como tal coisa é possível hoje acontecer na transição do poder na nação mais democrática e poderosa do Mundo.

E que dizer das medidas tomadas pelas diversas Redes Sociais da net que hoje suspenderam e ameaçam banir as contas desse Trump, numa medida incrivelmente inédita e verdadeiramente espantosa?

O Capitólio invadido por uma multidão de arruaceiros!...

Impensável!

Impensável, inadmissível e… criminoso!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

2021 – SER MELHOR NÃO SERÁ DIFÍCIL

E aqui estamos rapidamente, muito rapidamente – esta trapalhada dos meses e dos anos agora passam tão depressa!… - no 1º dia do novo ano de 2021 por todos ansiado que seja melhor que este horrível e desgraçado 2020 que se foi. O que, convenhamos, não será muito difícil, tão maus foram estes 365 passados.


Com o início da aplicação das vacinas as prespectivas e sobretudo as esperanças são as maiores de que façam minimizar, se não mesmo extinguir este mortífero Coronavírus que, surgido há um ano na distante e recôndita China, depressa se propagou em larguíssima escala por todo o Globo e por toda a Humanidade, com horríveis e dramáticas consequências.

Um ano passado sabemos que totalizam já muitos milhões de homens e mulheres os contaminados e mortos e, mais preocupante ainda, temos todos a sensação que ainda agora a “procissão vai  no adro”, como diz o nosso povo. Na verdade, ainda que as vacinas constituam uma grande esperança, todos sentimos que o mundo desconhece quando e como todo este enorme pesadelo, único e inimaginável nas nossas vidas, terminará…

Obedecendo a um plano previamente estudado e divulgado, temos agora em Portugal os elementos dos serviços de saúde na prioridade da vacinação a que se seguirão utentes de lares e doentes com problemas crónicos de saúde e, em Março/Abril passar-se-á aos maiores de 65 e doentes e será então o grosso da população sendo que, no meu caso pessoal, deverei integrar essa numerosa coluna.

Estou ansioso por essa hora como é evidente e espero que no próximo Verão, tanto eu como a larga maioria dos portugueses, já estejamos mais protegidos e menos preocupados.

Até lá e se bem que após a vacinação os cuidados devam e tenham de continuar, há que manter o afastamento, o isolamento, a prevenção para que o COVID-19 não nos atinja, não nos “agarre” e não nos traga mais preocupações e mais aflições.

Que o 2021 seja melhor que este danado 2020 que se foi! O que, certamente, não será muito difícil...