terça-feira, 25 de dezembro de 2012

NATAL E DESALENTO

Com o dia a chegar ao seu fim eis-nos também a atingir o final deste período natalício que ficará assinalado como o mais desalentado e pobre de sempre na nossa história contemporânea. Na verdade se bem que há já dois ou três anos que curtámos as prendas que trocávamos entre adultos e só as crianças têm direito a sentir a alegria de as receber, este é sem dúvida o Natal em que mais se fez sentir não só a enorme crise económica que assola o país como, sobretudo aquele em que se nota em todos o maior desânimo, o maior desalento de sempre com as prespectivas que se apresentam à nossa terra. E, esse, para mim, ainda é o maior e mais preocupante problema.
Crise económica e social sempre tivemos mais num ano, menos no outro mas, este desânimo, este desalento que se sente em tudo e em todos, isso nunca sentimos, isso nunca tivemos nesta terra lusa!
As pessoas vêm que a hora é dificílima e, ainda pior que isso, sentem que muitos piores dias virão, muito pior futuro as espera, sem que saibam quando acaba todo este apertar de cinto, estas vicissitudes e esta imensa incerteza.
Não sabem porque ninguém lhes diz e sobretudo porque sentem que, de propósito ou por ignorância, os governantes, tecnicos e políticos, lhes mentem, ontem, hoje e amanhã não lhes anunciando a verdade toda e, antes, só utilizam a televisão, a rádio e os jornais para lhes anunciarem mais cortes, mais impostos, mais dificuldades, mais desânimo. Não me recordo, ano e meio a esta parte, com o actual governo, de uma vez, uma vez só, que o ministro da finanças venha a público anunciar uma boa notícia, pequenina que fosse aos portugueses…
Numa linguagem demasiado técnica – só técnica, quadrada e hermética! – Victor Gaspar só nos fala em números, números e mais números e, tanto ele quanto o primeiro-ministro não usam uma palavra – uma palavrinha que seja!... – dirigida ao povo, ás pessoas, à gente sofrida e preocupada que os ouve. Tudo ali são números e mais número, euros e mais euros e não há, não se sente a mais pequenina preocupação nas pessoas a quem se dirigem e com quem deviam preocupar-se. Nitidamente e parece-me por demais evidente, actuam como funcionários dos nossos credores e executam as suas ordens com mestria e eficiência. Pelo menos é o que eles nos dizem quando confessam que a “troika” considera Portugal como um “bom aluno”…
Dir-me-ão alguns, acredito que poucos, favoráveis a esta formula, que estes governantes dão-nos a linguagem crua da verdade mas eu acho que não deveria ser bem assim: As pessoas estão em primeiro lugar e as pessoas deveriam ser a preocupação primeira e maior. Os portugueses andam desanimados e desalentados e é preocupante que isso assim seja.
Não desejo que se minta ao povo mas é importante que se lhe dirija com animo, com vontade, com querer e crer para que o povo acredite nos seus dirigentes e no dia de amanhã. Mas eu sei que eles não conseguem fazê-lo porque não são capazes…São figuras menores e, hoje, como ontem, faltam-nos dirigentes capazes, valentes, inteligentes com carisma e sabedoria para dirigir uma nação.
Não sou adepto do homem salvador, do homem único e supostamente sábio que conduz a luz, com o povo a segui-lo. Não, nisso não acredito porque desejava ter políticos inteligentes, sabedores e que, de preferência, sentissem as gentes, as coisas, o povo, a pátria!
Como está, “isto” não é nada e é simultaneamente muito preocupante!
Muito preocupante!
Oxalá me engane...
NOTA FINAL – Um apontamento final, assim como que um escrito de diário, para registar que o meu neto, este ano, agora já com seis anos e meio, pareceu-nos que já não “engoliu” totalmente a “pêta” do Pai Natal… O tio, que fazia a personagem, não apertou devidamente o fato e deixou-o ver as almofadas que o avolumavam e, sobretudo porque, após a porta fechada, olhando para o avô Lenine e vendo-o sem óculos lhe perguntou pelos mesmos porque, julgamos, o Rafael os reconheceu no Pai Natal…

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O CARVALHO "APAGOU-SE"...


Fosse eu supersticioso e, por certo, depois de hoje, começaria a olhar para o dia da Consoada como tempo de me trazer notícias tristes…
Na verdade, como se já não bastasse de para mim sempre ficar marcado este dia a partir do ano de 1978, data em que faleceu o meu pai e que a partir daí me força a sempre consoar com essa triste lembrança, quis o acaso que hoje também viesse a saber do falecimento do amigo Carvalho, um velho companheiro de pesca e de copos, que me deixa muita saudade. Foi por acaso que o telefone me trouxe hoje a notícia desta morte,  ocorrida já, segundo julgo, há mais de dois meses.
Neste período estive por mais de uma vez na Castanheira do Ribatejo, onde vivia o “velho Carvalho”, não calhei a vê-lo – e pelos vistos nem podia… - e ninguém me transmitiu esta infausta notícia… Se soubesse da sua morte ou, até mesmo, se ela em tempo oportuno me tivesse sido comunicada, forçosamente ter-me-ia deslocado de propósito para o acompanhar à sua última morada.
Tinha pelo Carvalho particular estima e guardo dele boas recordações, não só dos muitos momentos em que o procurava para petiscarmos e tomarmos um copo, como sobretudo pelos muitos anos em que foi meu companheiro de pesca ao achigã no Ribatejo e Alentejo. Com um outro camarada, ao longo de mais de dez anos, percorremos muitos milhares de kms pelos caminhos ribatejanos e alentejanos em busca dos “boca grande” e guardo desse período belas lições de companheirismo e convivência com este já saudoso amigo.
Era um homem que conhecia “tudo e todos”, de convivência muito agradável, respeitoso, que sabia estar e sempre foi um soberbo companheiro, quer nessas viagens, quer sobretudo à mesa de restaurantes e tascas onde sempre foi um colega absolutamente exemplar! Aí o convívio era perfeito e, verdade seja dita, mesmo não vivendo desafogado economicamente, nunca, nunca por nunca ser, vi o amigo Carvalho a esquivar-se a contribuir com a sua parte na despesa, quando não avançava ele mesmo para o pagamento da conta, numa voluntariedade que naturalmente sempre era combatida… Carvalho nunca, nunca se “encostou”! Carvalho foi sempre um companheiro exemplar!
Por isso e não só, eu gostava dele!. Por isso e não só o procurava já depois de se aposentar e passar os seus dias entre os cafés da Castanheira e a sua casa, para viajarmos um pouco (Carregado, Cartaxo, Alenquer, Alhandra, etc) e bebermos uns copos. Copos que, pelos vistos, não lhe fizeram muito mal dado que acabou por partir já perto da bonita idade dos 90… Oitentas e tais de uma vida muito vivida!
Naturalmente guardo do Carvalho deliciosos e inesquecíveis momentos de convivência – deixo aqui uma foto em que ele saúda o fotografo por ocasião de um belo convívio na hora do almoço, junto a uma barragem no Ribatejo – e lembro-me por exemplo das vezes em que se lembrava de levar pequenos “mimos” e os preparava junto às represas, debaixo de uma azinheira. Uma vez, perto de Avis, quando cheguei para almoçar, pensando que ia saborear o meu petisco que levara de casa, deparei-me com o amigo Carvalho fazendo brasas entre duas pedras e preparando-se para assar, espetado num pau, um bom naco de toucinho, bem alto, só temperado com sal grosso, cortado aos gomos e só seguro pelo coirato. Que delícia  aquele petisco me soube, apertado entre o fresquíssimo pão alentejano que comprávamos em Mora, na própria padaria onde era cozido, com o dia ainda a raiar! Uma maravilha que repetiu outras vezes e que jamais esquecerei!
Para além destas facetas que sempre recordarei e do muito que aprendi com ele na arte de pescar os achigãs – Carvalho pescava muito bem, fruto da sua larga experiência! - outro detalhe do seu comportamento que sempre me impressionou, foi a forma amistosa como convivia com os seus empregados. Num ou outro caso – estou a lembrar-me por exemplo de um deficiente mental (Grácio, de seu nome) que para ele trabalhava e que o “velho Carvalho” sempre tratou como um filho… Carvalho ralhava-lhe e premiava-o como se filho fosse! Um espanto!
Mais um exemplo: Numa ocasião em que vínhamos de umas cervejas na direcção do prédio em cujos apartamentos as suas funcionárias executavam as limpezas finais, o amigo Carvalho pergunta-me, sem ela ouvir: “Não se importa que ela tome banho ali numa banheira?” Claro que não me importava e, lesto, o amigo puxou da carteira, tirou uma nota, deu-a à rapariga, dizendo: “Toma, compra um sabonete e toma banho”. E vi-o ter estes gestos, gratificantes e amigos, tantas vezes!...

Não mais degustarei os tordos estufados que anualmente fazia questão de comprar a um amigo caçador e tinha gosto em convidar-me para os saborearmos com um bom vinho tinto que ele também muito apreciava… (Comprava os tordos, mandava o Grácio depená-los e ele mesmo os preparava muito bem com cebola e alho num tacho que depois levava para o café, para degustar com os amigos, como em Janeiro de 2008, ocasião registada na foto ao lado.).
E pronto, o Carvalho, utilizando uma expressão que ele muito usava, “apagou-se”! “Apagou-se” e deixou-nos mais sós e mais tristes! É a chamada “lei da vida” que, como sabemos,  nos deixa sempre muito abalados quando ocorre com quem estimamos…
Ficam estas palavras em sua homenagem e como sentido agradecimento pelos gratificantes tempos que comigo conviveu e pelo muito que me ensinou!
Que descanse em paz!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

GUERRA COLONIAL - O REGRESSO!

Foi neste dia do mês, há já 43 anos, exactamente a 7 de Dezembro de 1969 que, embarcando em Luanda, no paquete Império, tive um dos dias mais felizes da minha vida! Era o início do fim da minha participação – “comissão”, como então se chamava à nossa participação forçada… - na então dura e perigosa guerra naquele território angolano então português e, sendo o início do fim daquela dura etapa da vida de um pacato cidadão, será natural que esse acontecimento entre na sua vida como uma data marcante, apenas suplantada pelo desembarque em terra firme, em Lisboa, dez dias depois, a 17 de Dezembro de 1969!
Lembro-me que quando tive notícia que o Império já estava atracado no porto, esperando o nosso embarque, tive de ir ver com os meus próprios olhos. Fui a Luanda e, exultando de felicidade, registei mesmo em foto a tão normal e vulgar vista mas que, para mim, era das mais lindas paisagens! O gigante barquinho que me levaria a casa estava ali, submisso, imóvel e acolhedor, esperando pela minha entrada… Coisa linda! Fica aí o retrato que bati naquela data.
Na ida tinha viajado no Niassa e o regresso aconteceu no Império, sem dúvida um paquete muito melhor que o primeiro e, curiosamente, ambas as viagens ficariam marcadas por insólitos e inesperados acontecimentos particularmente desagradáveis para muitos militares mas em cujo número felizmente não me inclui…
Na ida, no Niassa e como consequência das péssimas condições em que os soldados eram transportados e alimentados, a meio do trajecto, os rapazes, em número de algumas centenas, sofreram um intoxicação alimentar e a aflição foi muito grande. Os homens viajavam amontoados que nem gado nos porões do barco onde tinham sido instalados os beliches de duas camas. A ventilação, apenas resultante da grande abertura central por onde se fazia a carga e descarga de mercadorias, era quase nula e, se a isso adicionarmos o muito calor, as poucas instalações sanitárias e, alguns dos jovens, porque oriundos de meios rurais e estamos a falar do Portugal dos distantes anos 60, como poucos hábitos de higiene, pode imaginar-se o ambiente e os odores naqueles porões…  Coisa inadmissível para transportar seres humanos, duvidando que, nos dias de hoje, fosse possível fazer igual transporte de homens naquelas condições. Pois, a juntar a essa deplorável situação, ainda acabaram por fornecer aos rapazes alimentação menos própria que lhes provocou uma intoxicação deveras preocupante.
Como as condições em que viajavam eram as descritas, de forma alguma os pobres homens poderiam permanecer ali deitados, a vomitar e a gemer. Houve que os distribuir pelos corredores que davam acesso aos camarotes de oficiais e sargentos, bem como a outras partes do paquete, como  acessos a enfermarias, salões, etc, etc.  Foi um verdadeiro pandemónio e o alarme foi grande chegando a pensar-se em atracarmos na Guiné/Bissau para debelar a situação… Aconteceu que, felizmente pela boa constituição do rapazes ou porque a intoxicação não atingiu maiores proporções, o próprio organismo dos soldados encarregou-se de melhorar todo aquele problema e, ao fim de 2/3 dias, a coisa voltaria ao normal. Mas foi muito preocupante e os rapazes sofreram bastante.
Então, oficialmente, o que saiu sobre as origens do mal estar dos homens foi que não tinham “aguentado” a passagem do equador… Isso mesmo, à boa maneira do antigamente de encobrir as verdades… Como se esse suposto e ridículo "diagnóstico" só atingisse o organismo dos soldados e deixasse imune oficias e sargentos… Ridículo.
Entretanto, enquanto os pobres soldados viajavam e comiam assim, oficiais e sargentos viviam instalados em optimas condições e alimentavam-se magnificamente. Instalados em camarotes de quatro lugares, com ar condicionado e casa de banho própria e fazendo as refeições em belíssimos salões, comíamos excelentemente e eramos servidos por tripulantes fardados a rigor e com a maior deferência. Deixo também aí uma foto no Império que o comprova mas, no Niassa, foi idêntico. Esta era a verdade de então e importa que se diga para que se saiba.
Portanto, esta foi a situação ocorrida na viajem de ida no Niassa e, depois, no regresso no Império nada disso aconteceu felizmente mas, todavia, um acontecimento posterior e de que só agora, aqui pela net, 43 anos depois, tive conhecimento, marcou também essa viajem.
O Império atracou connosco no dia 17/12/1969 e esteve ali, no cais de Alcântara até 5/1/1970, data em que voltou a zarpar com mais um carregamento de tropas, desta vez para Moçambique. Aconteceu que neste período de estadia no cais e certamente beneficiando de algum provável período de menor vigia por causa das festas de Natal e Ano Novo, alguém instalou numa dependência, por debaixo da Casa das Máquinas, um engenho explosivo.
O rebentamento ocorreu a 9, quatro dias depois da partida e provocou um rombo no casco que de imediato resultou na inundação de toda a zona, atingindo a Casa das Máquinas provocando a paragem de toda a maquinaria e consequente falta de energia no paquete. Fecharam de imediato as portas mas chegou a recear-se que elas não aguentassem a pressão. O barco adornou e o caos ficou instalado. Não havia energia, as camaras frigoríficas deixaram estragar os alimentos e os mesmos foram atirados ao mar por não se suportar o cheiro. Chegaram a queimar cordas e tábuas das escadas para fazer fogo e fritarem farinha para alimentar toda aquela gente. Dentro do barco, por falta de ventilação e luz não se podia dormir e conseguiram apenas pôr em funcionamento um gerador para luzes de presença e comunicações.
Imagine-se então a aflição e o caos em toda aquela gente até chegar um rebocador grego que levou o paquete adornado até Cabo Verde. Em Portugal a Emissora Nacional, noticiava oficialmente que o Império estava parado no alto mar com uma avaria nas máquinas…
A viajem da tropa foi então reatada quando chegou o Niassa enviado de Lisboa transportando os militares para Moçambique.
O Império seria depois rebocado para Lisboa e daí seguiria para a Escócia onde foi reparado durante 9 meses, data em que voltou ao serviço da tropa e do seu transporte para África, resultando deste episódio portanto que, a minha viajem nele, foi a última antes do atentado sofrido.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

EANES, O 25 DE NOVEMBRO, O PAÍS


“É inaceitável, é inadmissível, já não em termos democráticos, mas em termos de sociedade, em termos de humanização, que haja cidadãos, sobretudo crianças, que não tenham direito àquilo que é fundamental”, nomeadamente o direito à alimentação, disse o antigo presidente da República Ramalho Eanes, à margem das comemorações do 37.º aniversário do 25 de novembro de 1975.”
Retirei da imprensa estas acertadas palavras de quem tem toda a autoridade para as proferir e de quem sempre se nos apresenta como uma reserva moral e séria do que deveriam ser os políticos e os dirigentes que ao longo dos tempos dirigiram ou dirigem Portugal.
Ramalho Eanes tornou-se conhecido dos portugueses aquando dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, data em que acabou a ”bagunça” então reinante nas forças armadas (chegou a realizar-se “juramento de bandeira” de punho erguido…) e tudo voltou para os quartéis de onde nunca deveriam ter saído para as tropelias que então se verificavam. Sei que as hostes comunistas e esquerdistas mais radicais, que então ambicionavam tomar o poder e bem estiveram perto disso, não estarão de acordo com isto, no que estão do seu direito mas, essa será outra discussão…
Para colocar as forças armadas e o país nos carris Eanes precisou politicamente do forte apoio do então chamado “Grupo dos Nove”, com o falecido major Melo Antunes à cabeça e necessitou ainda e logicamente da força, bem ordenada e potente dos Comandos da Amadora, cujo Regimento era superiormente comandado pelo Coronel Jaime Neves, homem de “barba rija” que vergou as forças mais renitentes e que assim muito contribuiu para o êxito da missão. (Na foto vemos, numa cerimónia da época, o General Ramalho Eanes, o Coronel Jaime Neves e o então Capitão Vasco Lourenço, que também fazia parte do "Grupo dos Nove")
Por mero acaso vivi mais ou menos de perto esses dias já que Jaime Neves era então meu vizinho e moravamos no mesmo prédio, ali não muito longe do quartel e, por várias ocasiões fomos companheiros de elevador, sobressaindo as vezes, naqueles dias quentes em que, armado de metralhadora com um homem da sua escolta, igualmente de metralhadora e camuflado, desciam para tomarem o jipe com militares armados que o aguardava na rua. Eu descia também para ir para o emprego e ainda guardo na memória a 1ª vez que entrei no elevador no meu piso e deparei com aquela cena de dois militares de metralhadora ao ombro ali num prédio de civis. Na ocasião desconhecia que o coronel Jaime Neves ali morava e dá para imaginar o susto que apanhei quando o vi assim pela 1ª vez no elevador…Depois tornou-se vulgar, como é obvio.
Com uma força muito bem preparada e fortemente disciplinada Jaime Neves foi sem dúvida figura muito importante no êxito do movimento militar que fez voltar a ordem e a disciplina ao país!
Com o General Ramalho Eanes só estive uma vez pessoalmente e guardo dele a memória do seu ar austero – dele se dizia que não ria… - a sua fisionomia sisuda e fechada, não só por lhe ser habitual mas também pelas circunstâncias do momento que vivíamos. Tratava-se do velório do corpo do escritor e poeta Miguel Torga, em Coimbra. Sendo um dos escritores cuja vida e obra mais admiro, forçoso era que, sabendo da sua morte em Janeiro de 1995 ali me deslocasse para uma derradeira homenagem. Torga era apoiante e admirador de Eanes e este também apreciava muito o escritor e lógico seria que igualmente gostasse de o homenagear na sua derradeira viajem. Foi assim, junto ao corpo do homem que ambos admirávamos, que conheci pessoalmente Ramalho Eanes.
Foi num local insólito como é evidente mas, para mim, também não deixou de ser gratificante por se tratar de uma figura cujo comportamento apreciava e que, com o tempo até hoje decorrido, mais tenho admirado e respeitado e disso já aqui dei conta algumas vezes!
Tivesse Portugal muitos homens honrados e sérios como Ramalho Eanes e teríamos forçosamente outro país, outra terra e outra gente!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A MINHA PESQUINHA


Faz hoje um mês que pesquei este achigãzinho de quilo aí da foto que acompanha estas linhas e com ele encerrei a minha pesquinha deste ano de 2012.
Chamo-lhe pesquinha porque na verdade é isso mesmo que pratico de há uns anos e esta parte... Saio de casa não tão cedo quanto deveria (gosto de levar o “Expresso” e espero que chegue às bancas…) e regresso muito antes do pôr-do-sol, altura em que ainda deveria estar na pesca, dado que é nessa hora que a mesma é mais produtiva…
Mas a minha preocupação, não obstante o grande prazer em ferrar um bom exemplar que sempre se sente, não é só a pesca propriamente dita... Não é, não. Gosto de me levantar cedo; gosto do fresquinho da manhã no Verão; gosto da viajem, das árvores, dos arbustos, das peças de caça que vou encontrando, das aves e outros animais selvagens que vão surgindo, enfim, da Natureza. Na cidade nada disso temos e, muito menos temos e respiramos o ar puro que encontro no Ribatejo e no Alentejo onde me desloco no exercício deste belíssimo desporto.
O curioso deste meu vício, de que um dia espero aqui falar com mais detalhe, é que fui iniciado nestas lides exactamente por meus cunhados de um lado e outro da família… Uns iniciaram-me na também muito interessante pesca no Rio Vouga, com os pequenos “ruivacos” que ali abundavam e, outro – que por sinal já não é, por força de divórcio… -, naquela que mais dias e horas me tem absorvido e que ainda hoje mantenho com redobrado prazer, a pesca do achigã.
A 1ª, na Beira Alta, era feita com uma rudimentar Cana da India, só com uma linha, um chumbinho e um anzol muito pequenino (mosca), sem carreto e produzia excelente resultado, chegando, com a evolução da minha tecnica a, posteriormente, sacar do rio boas bogas e sobretudo belíssimos exemplares de excelentes e bem batalhadores barbos.
Na outra, a do achigã, lembro-me que me equipei na década de 70, talvez por volta de 1977/78 numa pequena Casa de Pesca em Alhandra (o sr. Manuel, que felizmente ainda é vivo e ainda se mantém atrás do balcão e onde muito material tenho adquirido ao longo dos tempos). Umas botas de borracha, um saco-mochila que ainda uso, umas "medalhas" para amostras e uma cana e um carreto que também ainda possuo. Mas estes dois não eram indicados para a pesca do achigã… Não era o carreto e muito menos a cana, por ser muito grande e pesada. Tenho-a usado na pesca à beira mar.
Ficam por aqui estas recordações – outro dia desfíarei mais uma ou outra memória e uma ou outra história… - e importa agora dizer que findou este ano a pesquinha. Começou a chover, os acessos às barragens são mais difíceis, quando não impossíveis mesmo de jipe e os terrenos nas margens ficam muito mais pesados e, com algum frio também a chegar, as águas arrefecem, os peixes afundam e nas margens a pesca só se justificará em finais de Fevereiro, quando se aproximar a Primavera e as temperaturas se tornarem mais amenas.
Até lá, é para arrumar fotos, materiais e recordações e aspirar pela chegada da nova época. Nos últimos dias, que antecedem o regresso às lides, até se contam os dias e, mais pertinho dessa data, até as horas vão recuando aqui na caixinha dos pirolitos…
Um vício danado! Mas, bonito! E saudável!...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

...E JÁ SÃO 68!


O homem ganhou este hábito: desde que nasce e embora caminhe para o envelhecimento e consequente morte, festeja a passagem dos seus aniversários natalícios…
Não fujo à regra como é natural e hoje festejo mais um, de uma soma que já produz resultado volumoso, atingindo os 68! Já começa a pesar, esta coisa…
De novo juntei os familiares mais chegados e amigos próximos e, num restaurante, no jantar à pouco, saboreamos uma boa Cataplana de Garoupa confeccionada pela senhora do restaurante.
Para além da garoupa, à mesa esteve também presente, como seria inevitável, a terrível crise económica/financeira que se arrasta e a todos tritura e  mata aos poucos, sem que se vislumbre nos dirigentes nacionais e europeus a mínima capacidade para a debelar.
Os meses e os anos passam e arrastam-se e a receita é sempre a mesma, com os mesmos resultados: Impostos e mais impostos; cortes e mais cortes e as pessoas cada vez mais pobres e necessitadas, quando não já miseráveis nalguns casos...
Para além de quem trabalha, sofrem agora também pesados cortes os pensionistas, num roubo descarado e aviltante dado que se vai ao bolso de quem aceitou um acordo de apoio à velhice com o Estado, que para isso durante dezenas de anos recebeu as devidas contribuições e agora faz tábua rasa e como que se rasga esse acordo, fazendo elevados cortes nas acordadas pensões e assim criando difíceis condições de subsistência para muitos milhares de cidadãos e suas famílias.
É o que temos que aturar e suportar com esta terrível incapacidade de dirigentes e técnicos que mandam no país e na Europa, com uma Alemanha que põe e dispõe na restante Europa como se sua quinta fosse a apostar na austeridade, mais austeridade e mais austeridade. As economias não funcionam, ninguém compra nada a ninguém, as empresas fecham e vão à falência e é todo um arrastar de situação que, com toda a convicção o digo, nos levará a dias muito e muito difíceis.
Oxalá me engane mas, a continuar assim, celebrar aniversários será cada vez mais difícil e complicado para mim e de certeza para muitos e muitos dos meus concidadãos e tenho mesmo a plena convicção que muitos, muitos já não os festejam… Não têm disposição, não têm dinheiro, não têm possibilidades…

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

EFEMÉRIDE COM 45 ANOS!


Aconteceu exactamente no dia 22 de Outubro de 1967, fazendo portanto hoje 45 anos, que ocorreu o meu desembarque em Luanda para participar activa e arriscadamente na guerra de guerrilha que então ali existia.

A viajem fora algo atribulada e difícil, sobretudo para os soldados que sofreram uma intoxicação alimentar por algo menos próprio que lhe forneceram na alimentação e que forçou umas largas centenas deles a passarem 2 ou 3 dias particularmente difíceis. Chegou mesmo a pensar-se em atracar na Guiné para tentar resolver a situação mas, felizmente, depois e talvez por serem rapazes novos, os seus organismos por si próprios encarregaram-se de trazer melhoras e solucionar o grave caso. Mas a coisa chegou a estar feia…

Depois, foi então o desembarque e a dura e demorada viajem por terra para o leste angolano onde se iniciou a comissão – como então se chamava ao tempo que permanecíamos na guerra – que teve início na zona de Lumbala, no saliente do Cazombo, bem perto da fronteira com a o Zambia e terminou passados mais de dois anos já no Norte de Angola, na zona do Caxito, bem perto de Luanda.

Foram no total 26 meses de dura e por vezes arriscada vida, com alguns momentos particularmente difíceis, nos quais incluo duas situações debaixo de fogo inimigo em que, sobretudo na 1ª, exactamente dois meses e dois dias depois do desembarque (noite do dia de Natal de 67), vi a situação bem complicada.

A coisa passou-se, as baixas na minha Companhia e no Batalhão não foram tantas quanto temíamos no início mas não deixei de passar por “elas” e de assistir mesmo a casos bem graves e dramáticos. Lembro-me de, por exemplo, porque muito me impressionou, ver o cadáver de um jovem tenente fuzileiro do agrupamento que connosco do exército estava logo nos primeiros meses no destacamento do Chilombo e que era uma tropa particularmente bem preparada e destemida, com um buraco bem no centro da testa, de uma bala que por ali entrou e saiu na nuca por trás. Impressionante! Os guerrilheiros – então por nós chamados de “turras”, diminutivo de “terroristas” – tinham por hábito “flagelar” com alguns tiros os botes dos fuzileiros que patrulhavam as águas do Rio Zambeze que passava mesmo ali ao lado e já sabiam que os fuzos de imediato avançavam para as margens para responderem aos ataques. No caso da morte deste tenente foi só calcular o local mais à frente onde o bote atracaria e, de arma apoiada no tronco de uma árvore, mirar e disparar certeiramente. Para infelicidade do nosso companheiro foi mesmo no centro da testa… Não mais esqueci…

Não ficou por lá esta minha carcaça mas muitas e muitas mortes por lá sentiram os militares portugueses nos 13 anos que duraram as guerras em Angola, Guiné e Moçambique.

E agora, olhando para trás penso, como certamente muitos dos outros que por lá passaram, no proveito desse sacrifício e desse tempo perdido… Passados todas essas vicissitudes e dramas, largamos de “mãos a abanar” sem o mínimo proveito e até sem o mínimo acordo que defendesse os nossos interesses e bens ao longo dos anos criados e mantidos. Tivemos ainda de integrar na nossa sociedade meio milhão de colonos, a que chamamos então de “retornados” e que, felizmente, não obstante as suas muitas mágoas e preocupações, tiveram um comportamento exemplar e, com uma força de vontade impressionante, refizeram as suas vidas e integraram-se tão bem quanto puderam.

E agora, e agora, numa curiosa ironia do destino e passados estes anos, assistimos a esta cena que a todos impressiona de vermos os angolanos a "colonizarem" Portugal comprando tudo, tudo o que mexe nesta terra… Com o dinheiro, ou com o nome de Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, dirigente máximo de todo aquele imenso e rico território, firmas, imóveis e tudo o que vale, está passando para a sua posse e ainda de mais uns quantos angolanos que se passeiam em brutos automóveis topo de gama e investem em luxuosos imóveis a que os portugueses não consegue chegar pelo seu elevado preço.

Meses atrás o semanário "Expresso" publicou um interessante trabalho sobre o assunto e deixo aí o cartoon que o acompanhava, com Isabel dos Santos carregando as suas muitas “prendas”… Isto, naquela altura porque, de então par cá, outras se lhe somaram… E outras se seguirão… Pela certa…

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

GOVERNO A PRAZO


Se na verdade sempre considerei Passos Coelho uma “rapaz” claramente impreparado para a difícil governação que tinha pela frente, sempre esperei que a equipa que criou para o acompanhar, com destaque para as Finanças e Economia com homens vindos do estrangeiro, aliviasse essas dificuldades e avançasse com uma governação, embora muito difícil mas eficiente.
Desde cedo todavia se notou que tínhamos ali coisa de reduzida valia. Efectivamente, por exemplo, no caso do Ministro da Economia, foi por demais evidente a sua impreparação e falta de jeito para o lugar e desde cedo saltaram à vista as suas dificuldades. Mas, se neste caso e em mais um ou outro, se poderiam apontar falhas, a verdade é que o governo ia governando, as negociações iam avançando periodicamente com a “troika”e o dinheirinho da estranja ia entrando conforme as necessidades, não obstante as duras medidas que se iam implementando mas que, embora com muita contrariedade, os portugueses iam suportando.
É verdade que tudo apontava para que as metas do défice não fossem atingidas do final do ano e discutia-se a bondade das medidas impostas pelos credores mas, pensava o povo que com mais umas negociações, o prolongamento do prazo antes marcado, etc, fosse possível ao governo contornar as dificuldades e prosseguir o difícil caminho. Até que… até que surgiram as erradas medidas e a desastrada comunicação do primeiro-ministro de sexta, dia 7…
No anterior apontamento considerei as medidas e a comunicação um erro colossal e logo ali previ grandes e graves consequências e, a ver pelo que se seguiu neste últimos 10 dias, é bem claro que não me enganei. Temos aí, sem a mais pequena dúvida, um governo a prazo!.
Desde o momento da comunicação de Passos Coelho até ao instante em que escrevo temos assistido a uma sucessão de acontecimentos qual deles a mais prejudicial e agravante para a estabilidade e manutenção do governo.
Desde a publicação de imagens de Passos Coelho sorridente e a cantar, obtidas logo depois da comunicação num concerto musical, a que se seguiu um incrível e mau de mais escrito seu no Facebook, assim como um “perdoa-me”, tivemos depois inimagináveis reacções de várias personalidades das áreas dos partidos do governo, entre as quais se destacou – e de que maneira!!! – a de Manuela Ferreira Leite que em 45 minutos de entrevista arrasou o “seu” governo de forma absolutamente surpreendente e até de forma inadmissível, chegando a convidar os deputados do PSD e CDS a vetarem o O.E.. Coisa absolutamente impensável que viesse a sair duma ex presidente do PSD…
Depois foram muitas outras personalidades a expressar-se contra o governo e sobretudo à sua inédita e inconcebível decisão de aumentar a TSU em + 7% (um aumento de mais de 60%) para a entregar às empresas. Coisa nunca vista em parte alguma e fortemente contestada por todos. Não vimos um único sector, uma única pessoa a aprovar esta medida e até assistimos ao caricato de ver os próprios patrões a informarem que assim não queriam… Um desastre! Um desastre de colossais consequências já que, logo de seguida, tivemos as enormes manifestações pelo país inteiro com a participação diria maciça da população, com gente de todos os quadrantes políticos e sociais e a fazer lembrar as manifestações do tempo da revolução.
As manifestações foram de um sucesso estrondoso e, como se esperava, o seu efeito teria e terá de ser também estrondoso!
E ainda não falei do mais grave… Do muito mais grave que logo, logo surgiu…
Na verdade, aí temos o CDS, parceiro de governo, a tentar “roer a corda” ou, melhor dizendo, a querer ficar no governo e fora dele. As suas declarações, depois da reunião do seu Conselho Nacional são isso mesmo. São isso mesmo e foram tão graves que o PSD, na hora em que escrevo, se prepara também para reunir os seus órgãos para tomar posição…
Temos assim que, não obstante a gravidade da situação, tendo em conta a nossa dependência dos dinheiros dos outros e as sempre difíceis negociações com esses credores, o senhores políticos da governação PSD/CDS se digladiam já na praça pública, de onde resultarão consequências ainda difíceis de adivinhar mas que apontarão certamente para o governo que, a manter-se, fique nitidamente fragilizado e por isso a curto prazo terá o seu fim.
Esta é a minha previsão e acredito que será a de muitos observadores e talvez mesmo de uma boa parte da população portuguesa.
E, importa não esquecer também – coisa que muitos estranhamente têm relegado para fase posterior… - a decisão do Tribunal Constitucional, claramente afrontado por estas decisões do governo e que, se por ele forem vetadas, funcionará como um verdadeiro terramoto…
Segue-se agora a reunião do Conselho de Estado convocado pelo Presidente da República e, como nele se sentam personalidades cuja posição já é antecipadamente conhecida, adivinha-se o que ali dirão muitos dos conselheiros… Isto se até lá o governo não cair…

sábado, 8 de setembro de 2012

ERRO COLOSSAL


Parece-me um erro colossal a forma e o conteúdo das terríveis novas medidas de austeridade ontem anunciadas apressada e atabalhoadamente pelo 1º ministro Passos Coelho e julgo que as suas consequências serão desastrosas para tudo e todos!
Errou dramaticamente o governo com estas medidas e a seu tempo, que não tardará muito, veremos como não estou errado nesta minha apreciação.
Começou logo pela habilidade saloia de apressadamente “encostar” a comunicação ao início do jogo da selecção de futebol com o Luxemburgo, de um jeito que toda a gente percebeu e que, logo aí, calcava para baixo essa própria comunicação e terminou depois com as drásticas e elevadíssimas medidas anunciadas de cortar os vencimentos dos particulares em 7% porque, como é evidente, o pretexto invocado de que é um aumento do desconto para a Segurança Social não é mais do que um enorme corte nos ordenados dos portugueses. Um novo imposto!
Assim, de um penada, Passos Coelho mandou  às urtigas a pouca simpatia com que ainda era visto pelos portugueses e arranjou um enorme pretexto para que o PS, que aguardava por uma ocasião para quebrar o pouco consenso político ainda existente aos olhos da “troika” e do exterior, agora volte as costas ao Orçamento e o reprove, provocando uma crise que certamente nada ajudará nas reuniões com os credores da “troika”.
Para além disto e certamente não em menor escala de gravidade, criou a oportunidade e a razão para a certamente enorme contestação social que aí virá porque, se é indiscutível que muitos milhares de portugueses vivem hoje a passar por imensas necessidade e mesmo no limiar e na própria pobreza, é uma gritante verdade que com estas medidas e certamente outras que aí virão com as consequências dos novos escalões do IRS que anunciam, o nível de vida de todos descerá dramaticamente, o desemprego – ao contrário do que prevê o 1º ministro! – aumentará  e a pobreza, se não mesmo a miséria, estará instalada.
Este governo, estes economistas e esta “troika”, com estas medidas de nivelar tudo por baixo, colocando um país verdadeiramente a  “ pão e água” é uma política, segundo o meu ponto de vista, profunda e dramaticamente errada. Ninguém compra nada a ninguém, o comércio não funciona, as indústrias estão na ruina, as empresas fecham, o desemprego aumenta assustadoramente e não tardará muito o caos será total porque as convulsões sociais estarão aí num muito curto prazo.
Veja-se o elevado número de falências das empresas – até Junho passado  já abriram falência tantas como em todo o ano de 2011 e aí já o número, de mais de 4 mil, era elevadíssimo… - veja-se o aumento em flecha da criminalidade com roubos e assaltos a toda a hora e pense-se até nos crimes familiares e caseiros a que certamente a crise financeira familiar não será estranha e calcule-se o que aí virá com estas novas e preocupantes medidas.
Para além disto acho que o governo afrontou e abriu um conflito com o Tribunal Constitucional do qual não sairá muito bem. Parece-me que os motivos que o tribunal apresentou para chumbar os cortes nos subsídios se mantêm e adivinho dias complicados e nada fáceis para os entendidos na matéria.
No meu caso, como no de muitos reformados, nada nos resta fazer se não assistir ao escandaloso roubo feito por este governo que nos retira da carteira, sem nos pedir, dinheiro que era nosso de pleno direito pelos muitos descontos que efectuamos ao longo de uma vida de trabalho. O dinheiro é dos reformados e pensionistas e o governo rouba-o vergonhosa e descaradamente.
Esta e tantas outras decisões em que as pessoas não são tidas em conta é algo nunca visto nesta terra e que terá forçosamente que acarretar consequências.
Prevejo isso e certamente não deverei  estar enganado…

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

NEIL ARMSTRONG, A LUA E A MINHA GUERRA


Com 82 anos de idade faleceu cinco dias atrás (dia 25) Neil Armstrong, o homem americano que entrou na História por ter sido o 1º ser humano a pisar a Lua no já distante dia 21 de Julho de 1969, tendo proferido então a celebre frase que ficou para sempre imortalizada “Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”.
Recordo-me perfeitamente do acontecimento e confesso que foi e é uma mágoa que senti e sempre me ficou dado que não pude acompanhar em directo pela TV, como 500 milhões de pessoas, tão importante quanto inédito feito.
Estava na guerra, em Angola, exactamente na Fazenda Lifune, a cerca de 100 kms de Luanda. No comando de uma secção de homens (cerca de 10), dávamos protecção às instalações e pessoal da dita fazenda que produzia com um enorme palmar, os frutos (dendem) com que depois de fabricava o respectivo óleo de palma.
Lembro-me que acompanhei o feito de Armstrong e Edwin Adrin, o seu companheiro de descida lunar nessa celebre noite, pelas 4 horas da madrugada, através de um pequeno rádio portátil que sempre me acompanhava e que ainda hoje guardo e que logo de seguida, nessa manhã, contando aos meus soldados tão importante façanha feita pelo homem, eles não acreditaram dizendo que eu era ingénuo e “embarcava” em tudo o que me diziam. Uma grande “aldrabice”, diziam.
Eram rapazes humildes de quase nenhuma formação académica – escreviam e liam os seus aerogramas da família e namoradas e nada mais – e sendo na sua quase totalidade oriundos do Minho, viviam e trabalhavam na agricultura e numa ou outra fábrica como operários e para eles toda a história do Homem na Lua era isso mesmo, uma “istória”, uma patranha.
Curiosamente vivi ali com alguns deles, na Fazenda Lifune, a mais difícil situação em termos disciplinares que passei na guerra, ocorrência que resolvi com calma e bom senso e poderei contar aqui oportunamente. Quando se comandam homens e sobretudo em cenário de guerra, como era o caso, para mantermos a ordem e a disciplina por vezes temos de ser firmes e rijos, não esquecendo sempre o uso do bom senso. Foi o que fiz.

sábado, 30 de junho de 2012

COBARDIA POLÍTICA

Confesso que há já uns bons pares de meses cheguei a ter “alinhavado” na cabeça um apontamento para aqui publicar onde, a propósito de uma entrevista dada pelo dr. Miguel Portas, onde ele abordava a sua entrada no jornalismo e confessava como o havia feito, eu partia para aqui lembrar um velho amigo há muito desaparecido do nosso mundo.

A forma como então trataria esse inicio de carreira de Miguel Portas não era a mais simpática para ele, face à sua confissão de como se iniciou nas lides jornalísticas mas, como logo de seguida, soube que o agora falecido euro-deputado sofria de gravíssima doença, entendi por bem não passar a escrito o que havia “alinhavado” e guardar para melhor altura esse escrito.

E lembrei-me agora disto exactamente porque foi divulgada a atitude dos deputados do PSD da Madeira à Assembleia Regional daquele território que, discordando de uma proposta de voto de pesar pela morte de Miguel Portas, aqueles deputados se dividiram e, enquanto uma parte deles se absteve, a outra levantou-se no momento da votação e abandonou a sala...

Não sei das razões que assistem aos homens do PSD/Madeira para este comportamento mas acho que manda a boa educação e também o respeito pelos nossos adversários que sempre sintamos pesar pela partida de um ser humano que, segundo penso, não tendo sido um perigoso e intratável esquerdista, sectário e faccioso, sempre tratou, inclusive os seus adversários políticos, com civilidade e educação. Não navegando eu nas suas opções políticas, sinto-me à vontade para assim falar...

Se discordavam do voto de pesar – que, ainda por cima, foi proposto pelo CDS, homens de direita! – melhor seria que tivessem assumido frontalmente a sua discordância e, abstendo ou votando contra, assim o tivessem assumido. Abandonar a sala na hora da votação é um acto de cobardia política que condeno!

Um ser humano, civilizado e cortês, que parte assim tão prematuramente e de forma tão dramática e sofrida, merecia mais respeito e educação! Reconheceram-no os parlamentos nacional e europeu que lhe prestaram importante e significativa homenagem mas olvidou-o uma parte do parlamento da Madeira, ficando as atitudes para quem as pratica...

Quanto ao meu escrito e porque quero lembrar o outro velho amigo de que falei, aparecerá aqui um dia destes, voltando ao criticável início de Miguel Portas no jornalismo e à entrevista que deu mas, desta vez, de forma mais moderada porque o euro-deputado já não se encontra entre nós para eventualmente se defender...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

FOI BONITO, SENHORES!

 A julgar pelo que conheço da situação vertente, do ambiente envolvente à mesma e da pessoa da minha idosa e estimada conterrânea, acredito que Ti Rosa Maria, com quase 92 anos, muito vivos e muito activos, ao recepcionar o representante das Rações Zêzere que ao meu Chouto se deslocou de propósito para lhe ofertar uns sacos de rações para aves, como reconhecimento pela sua dedicação como cliente daquele produto, deve ter sentido um natural misto de surpresa, gratidão e natural satisfação.

E, estou a ver a cena, com a chegada do surpreendente visitante à porta de Ti Rosa, empunhando a foto que em 16 de Dezembro de 2010 lhe tirei numa rua do Chouto, com um saco de rações à cabeça, numa tarde gélida de Inverno, com ela, então com os seus 90 anos, surpreendentemente despreocupada e sem queixas de frio, vinda do mini-mercado onde tinha ido fazer a sua compra…

Publiquei então essa foto e uma pequena narração dessa minha experiência no blogue   http://victor-azevedo.blogspot.pt/search?q=tia+rosa+maria  e, as Rações Zêzere, tendo conhecimento da mesma pediram-me licença para usarem a foto no seu site. Acedi naturalmente e, a partir daí ficou o contacto com a empresa que me pediu igual contacto de Ti Rosa ou de algum seu familiar dado que pretendiam premiar a sua fidelidade como cliente, bem expresso naquela imagem registada em condições tão adversas de temperatura. 

No tempo entretanto decorrido e dado que uma desejada ida de Tia Rosa à fábrica das rações, como era pretensão da empresa para a premiarem não era viável, a mesma foi substituída pela ida de um seu representante ao Chouto, resultando daí agora a concretização deste belíssimo gesto das Rações Zêzere!

De Dr. Luis Guilherme, administrador daquela firma recebi de surpresa uma mensagem que me dizia apenas: “Promessa cumprida!”.

Daí até me facultar a foto que aqui anexo foi um instante de franco prazer, como vários instantes de prazer foi depois constatar as muitas manifestações de agrado recebidas no Facebook pelos muitos amigos e desconhecidos que, sabedores deste belo gesto das Rações Zêzere, expressaram o seu gosto pela gratificante atitude! 

Agora, também eu, bem satisfeito pelo desenlace deste caso, aqui deixo um “bem hajam!” às Rações Zêzere pelo seu gesto, certo como estou que, durante um bom pedaço de tempo a nossa Ti Rosa com aqueles saquinhos como valioso stock vai alimentar e criar os seus franguinhos lançando a ração no galinheiro com mais desenvoltura e sem que a mão lhe trave pelo peso do custo do alimento dos seus galináceos. Vários quilos de rações darão para formar um robusto franguinho que depois poderá transformar numa boa e suculenta canjinha!
Foi bonito que um simples e despretensioso escrito deste modesto escriba tivesse dado no que deu, graças à bonita atitude comercial e humanista dos amigos das Rações Zêzere! 

Muito bem! Bem hajam!  

sábado, 12 de maio de 2012

INADMISSÍVEL!

«Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade».

Estas, por incrível que pareça, são palavras de um primeiro-ministro - rapaz de seu nome Pedro Passos Coelho -  que, nesta data, segundo números oficiais, conta com mais de UM MILHÃO de desempregados num país falido, país sem prespectivas, amorfo e desalentado e onde a população activa não ultrapassará os cinco milhões...

COMO É POSSÍVEL TANTA INSENSIBILIDADE? COMO É POSSÍVEL TANTA FALTA DE SENSO? COMO É POSSÍVEL TANTA ESTUPIDEZ???...
POR FAVOR, DIGAM-ME QUE EU NÃO OUVI ISTO DESTE RAPAZ QUE ESTÁ EMPREGADO - EMPREGADO!... - EM S. BENTO...

CUIDADO, RAPAZ! MUITO CUIDADO!

POR MUITO MENOS JÁ TEMOS VISTO MUITO HOMEM DESESPEADO, AINDA QUE CIVILIZADO E PACIENTE, PERDER A CABEÇA!...

PÕE-TE A PAU!...

domingo, 6 de maio de 2012

40 ANOS DE CASAMENTO!


Passaram exactamente 40 anos sobre esta foto. Foi tirada no dia 6 de Maio de 1972 e estava um dia de sol como hoje.

De então para cá vimos nascer mais duas gerações na família: Primeiro os dois filhos e, ultimamente, o neto que é o encanto de todos!

Mas, olhando aí a imagem e contando um a um, soma já mais de duas dezenas os queridos familiares e amigos que nos deixaram neste período de 4 décadas… Um a um, tendo começado pelos avós e logo seguido de pais e tios a que se juntaram também alguns amigos, eles foram partindo do nosso convívio deixando-nos mais sós e mais tristes. Sabemos que é a chamada “lei da vida” mas custa sempre ver estes documentos antigos e recordar quem nos foi querido e que tantas saudades nos provoca. Paciência… Não há mais nada a fazer…

Neste já comprido percurso dos 40 anos, para além das vicissitudes e tristezas que agora não interessa lembrar, houve momentos bons e felizes que ficam na nossa memória e que ao longo do tempo tenho vindo a documentar e comentar aqui na net sempre com muito gosto. Primeiro o nascimento dos filhos e recentemente o netinho, tendo pelo meio agradáveis momentos de que destaco boas e bonitas viagens pelo mundo e por vários continentes.

Foram episódios nas nossas vidas que, estes sim, importa recordar com prazer e que queremos repetir ou renovar com entusiasmo e boa vivência, na convicção de que só se vive uma vez e há que aproveitar…

E, agora, ultrapassadas estas 4 décadas, outras 4 seria bom desejar mas… bem sabemos que não é possível, razão porque resta pedir que se viva um a um, um ano de cada vez e que aqui tentarei registar ao mesmo tempo que os conto festejar com familiares e amigos como fiz hoje…

Amen!...