sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

DEPOIS DAS PÚTEGAS, OS FIGOS DA ÍNDIA


Depois de aqui falar das pútegas que colhíamos nos matos que circundavam o Chouto, acorre-me lembrar um fruto que igualmente colhíamos com muito e geral agrado, apenas com o pequeno senão de termos de usar do maior cuidado no seu manejamento...

Refiro-me aos “figos da índia”, que tão saborosos são e que procurávamos e colhíamos logo que da cor rosa se apresentavam nas piteiras dos valados.

Mas os picos – os danados dos picos!... – incomodavam a valer…

Recordei-me então que já em 2003, neste blogue, hospedado noutro espaço da net, tinha redigido algo sobre eles e, procurando e encontrado que foi, trago para aqui o então escrito.

São recordações curiosas que hoje me dão prazer rememorar e me fazem sorrir…

E… como éramos felizes sem sabermos…


Vendo esta bonita imagem, eis que recuei aos meus tempos de criança no Chouto, minha aldeia natal quando, qual pardalito ligeiro, com os meus companheiros de infância, - o António Rainha, o Fernando Carvalho, o Diamantino Carloto e tantos outros -, percorríamos os campos e as hortas da vizinhança em busca de bons e belos frutos ali criados.

Estes “Figos da Índia” eram então dos mais procurados nas piteiras que existiam nos


valados que serviam de vedações das pequenas hortas dos meus vizinhos.

Manejados logo na apanha com a maior delicadeza, eram também abertos com muito cuidado por causa dos seus finos picos que, a uma pequena distracção, se espetavam aflitivamente nos nossos deditos provocando-nos um incomodo dos diabos!... E, tirá-los, depois, era o cabo dos trabalhos!...


A imagem mais curiosa que tenho dessa operação de abertura dos figos era a forma como o fazíamos: Traziamos sempre nos bolsos uma muito práticas “lâminas” feitas de canas verdes que antes preparávamos cortando a cana em pequenas tiras e que afiávamos, cortando fininho, num dos lados, com a faca de cozinha da mãe, ficando como se fosse a lâmina de um canivete. Como os nossos pais, naturalmente, não nos davam dinheiro para adquirirmos canivetes, habilidosamente, contornávamos assim a dificuldade…



Mas, mais ainda: A parte laminada encaixava noutro pedaço de cana, então já cilíndrica na totalidade, onde fazíamos uma pequena fenda. Desta forma, encaixávamos e guardávamos ali a “lâmina” como se fosse um canivete não nos aleijando quando a colocávamos no bolso.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A FRANQUEZA DO GESTO...


Gosto particularmente desta foto que tempos atrás me foi facultada pelo amigo Manuel Vital “Barracão” no dia do seu casamento com a Deolinda na igreja paroquial do meu Chouto natal!

E gosto não só por ela recordar o casamento desses amigos mas também por nela surgir a minha falecida mãe e por a imagem expressar fielmente a franqueza, pureza de espírito e vivência daquela que teve a virtude de me conceber e criar e que passou na vida todos os seus dias com sinceridade e justeza de atitudes, trabalho, honestidade e carácter, muito carácter!

A mão francamente estendida - expressivamente bem aberta! - para um são e amigo cumprimento de felicitações, é bem o retrato fiel do quotidiano viver de toda a existência da nossa saudosa Maria do Rosário!

Que repouse em paz, na paz, na quietude e na franca harmonia com que sempre viveu neste mundo e que tão bem soube transmitir aos seus filhos que sempre a recordarão com profunda saudade!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BELA JORNADA DE CONFRATERNIZAÇÃO FAMILIAR!



Num novo espaço que adquiriram recentemente num dos prédios mais altos de Almada de onde se desfruta uma magnífica vista sobre o Estuário do Tejo e Lisboa, os meus cunhados Alberto e Gorete proporcionaram ontem uma belíssima confraternização familiar que reuniu irmãos, filhos, cunhados, netos, sobrinhos e sobrinhos-netos num total de 23 pessoas!






Todos à mesa, saboreando uns deliciosos cabritos assados ali mesmo em forno de lenha nas excelentes instalações criadas e que fazem questão de afirmar que se destinam ao convívio com familiares e amigos e que as quadras, nascidas da veia inspiradora do Alberto e fixadas com destaque no pano da chaminé da lareira da sala isso mesmo confirmam e que, pela sua habitual lhaneza e amizade, não temos como duvidar que assim será. Fica aqui a minha gratidão e estima, 
na parte que me toca!





O cabrito, acompanhado das inevitáveis batatinhas assadas e do arrozinho estava magnífico, o vinho tinto “Grão Vasco” – que provei em meio copinho… - era divinal e as diversas sobremesas estavam super-gostosas e, por via das inevitáveis repetições - no cabrito servi-me 3 vezes! - , terão sido responsáveis por mais uns quantos gramas (?) no peso aqui do rapazinho de velha carcaça!...




Terminou tudo com o cafézinho, o digestivo e o inevitável jogo de snooker (aí, convenhamos, parece que o dono da casa não terá gostado tanto do resultado final…rsrs).




Tudo resultou numa excelente confraternização e num extraordinário convívio familiar que fica para a história das nossas vidas! Muito bom, mesmo!




Ficam aqui algumas imagens do lindo convívio e ficam também as felicitações e um bem-haja ao Alberto e à Gorete, num particular agradecimento, franco, pessoal e amigo!




segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

NO CARNAVAL, LEMBRANDO "MESTRE ARLINDO"


Nesta época do ano em que se festeja o Carnaval, é incontornável lembrar-me sempre do nosso saudoso amigo “Mestre Arlindo”, de seu nome completo Arlindo Alves Texugo, amigo de sempre, que me viu nascer e crescer na nossa aldeia.

Era pessoa extremamente simpática, educada, muito amiga de todos e muito prestável e, de tão sofrida e madrasta que lhe foi a vida, ainda mais admirava a bonomia e a alegria com que dia a dia encarava as difíceis horas da sua existência. (O sr. Arlindo esteve internado muitas e sofridas vezes e teve, que me recorde, pelo menos seis intervenções cirúrgicas em Lisboa. Cheguei a visitá-lo amiúde no Hospital do Rego.)

Alfaiate de profissão, esteve estabelecido em frente à extinta Sociedade Recreativa e, depois de construída a sua casa de habitação (a segunda da esquerda na foto que aqui deixo, num bonito registo da época) foi para ali que se mudou de fazenda, tesoura e agulhas. Mas, é do local da anterior oficina, frente à Sociedade, que me recordo da mais antiga brincadeira de Carnaval praticada pelo nosso amigo “Mestre Arlindo"...


Na época não tínhamos água canalizada na aldeia e era usual o sr. Arlindo ver passar pela frente da sua oficina na Rua da Fonte as senhoras de cântaro à cabeça e com elas “meter palheta”. Para todas ele tinha uma conversa, uma graça ou uma simples saudação amiga e cavalheira. Muitas vezes com algum picante, com alguma bicadazinha marota, sobretudo quando se tratava de moças solteiras mas, mesmo para as casadas, a sua brincadeira maliciosa mas nunca ordinária ou ofensiva, era frequente. “Mestre Arlindo” era assim, alegre, bem-disposto e mesmo folgazão.

Ficou famosa na época a “partida” que pregou à “Ti Barbara”, uma senhora idosa, alta e magra, que todos os dias por ali passava a caminho da fonte e que era casada com o “Ti Bartolomeu”, quando o nosso maroto sr. Arlindo comprou uma “onça” de tabaco “Duque” (ele sabia que o velho pastor fumava daquela marca os cigarrinhos que fazia à mão), a esvaziou e substituiu o precioso tabaquinho por uma seca e esfarelada bosta de boi que, com frequência também passavam pela rua e por ali deixavam “presentes”. “Mestre Arlindo” deixou secar a dita cuja, esfarelou-a para que ficasse parecida com tabaco e encheu a embalagem da “onça” com o “precioso” recheio. Quando viu no Largo da Igreja que se aproximava a “Ti Barbara” a caminho da fonte atirou a “onça” para a calçada e ficou de espreita a ver o resultado da malandrice… (E ele contava isso tanta vez e com tanta graça…) “Ti Barbara” viu a bonita “onça” abandonada na calçada e disse: “Olha que bela “onça” pró meu Bartolomeu!”. Agachou-se e guardou-a, feliz da vida, no bolso do avental. À noite, quando o marido chegou, contou-lhe do valioso achado: “Ó Bartolomeu, olha o que achei na rua ao pé da oficina do Arlindo?!”

Pois, mas o pior foi quando o “Ti Bartolomeu” resolveu fazer um cigarrinho e começou a chupar o “fuminho” que dali vinha… Era amargo para caramba e, analisado e sobretudo cheirado bem aquele estranho “tabaco”, foi-lhe fácil detectar a “partida” em que a pobre mulher tinha caído e, daí, associá-la de imediato ao maroto do Arlindo, foi um rápido. Arlindo que, claro, sempre lhe negou a autoria da malandrice.

São várias as marotagens e brincadeiras deste saudoso amigo que, tempos atrás, numa ida ao cemitério velho do Chouto visitei na sua última morada e, em momentos de recolhimento bem dele ali me recordei com tristeza e saudade mas, por hoje fico-me por aqui, que a conversa já vai longa.

Que “Mestre Arlindo” descanse para sempre em paz e harmonia, na bonita paz e na harmonia que sempre nos transmitiu em vida e que tão bem nos fez!

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

OUTROS TEMPOS, OUTRAS PRÁTICAS...


Viviamos os anos 50 do século passado…

Pequenas bicicletas para crianças não existiam no mercado e, mesmo que as houvesse, onde estavam as posses para os nossos pais as comprarem? O dinheirinho era pouco, escasso, muito escasso e o pouquinho que se conseguia era para a fraca alimentação e para fazer face a mais importantes necessidades como doenças, médicos, medicamentos, etc.

Sendo assim, como fazer para andar de bicicleta, nessas velhas pasteleiras, como se chamavam na altura, que os nossos pais com esforço adquiriam para mais facilmente deslocarem-se nos seus afazeres diários usando os fracos caminhos de cabras de que se serviam na época, montes e vales adiante?

Como fazer? Ora, como diz o ditado, “quem não tem cão, caça com gato” e, assim, vá de aprendermos a enfiar as frágeis pernitas no quadro da dita e, caindo aqui, levantando acolá, no inicio de um equilíbrio instável, ganharmos prática e avançarmos destemidamente.

Como muitos de nós naquela idade fiz assim quilómetros e quilómetros nas centenas de vezes que percorri o caminho Chouto - Anafe do Avô Gregório e volta. Um ano? Dois anos? Três anos? Não sei… Não me lembro… Foi o tempo necessário até as pernitas crescerem e poder então chegar aos pedais galgando a perna por cima do quadro da bicicleta.

Velhos tempos… Tempos passados…

Tempos passados, não mais esquecidos e que, agora, estas imagens circulando pela net mais nos trazem à memória…

Meninos livres, descomprometidos e despreocupados.

Meninos de mil sonhos e mil anseios.

E como éramos felizes sem sabermos!...