terça-feira, 25 de dezembro de 2018

NATAL - SEMPRE IGUAL E SEMPRE BOM!


Bem, em boa verdade, se é certo que todos os Natais são bons e bonitos, também não será errado considerar que nem todos são exactamente assim, pelo menos no tocante ao número de participantes no convívio e, naturalmente, ao ambiente daí resultante.

Já tive em redor da sempre bonita mesa da Consoada ou do almoço do Dia de Natal numero avultado de presenças e, como hoje aconteceu, número bem reduzido de convivas. Como hoje aconteceu…

Desde as cerca de duas dezenas, como o registado por exemplo em 2003 e 2004 quando, irmãos, cunhados e sobrinhos festejamos em Crescido o frio Natal local até hoje, em que terminamos no almoço de Consoada com 8 à mesa e agora ao almoço com apenas 6, assim o número de celebrantes tem vindo a reduzir... Desde os velhos tempos de muitos à mesa até hoje as famílias foram sofrendo evoluções com novos nascimentos, namoros e casamentos com a natural formação de novos lares e novos contactos com sogros, afilhados, companheiras e até alguns tristes falecimentos etc e assim chegamos à meia dúzia de hoje, afinal apenas os meus familiares mais chegados.

Convenhamos que tudo isto é natural mas, francamente, a mim não deixa de me provocar algumas recordações e até uma certa e sentida nostalgia. Coisa de velho, certamente…

Foi, pois, mais um Natal que se passou. Este, como os outros anteriores, sempre com a recordação da triste data vivida em 1978 quando perdi o meu saudoso pai. Faz hoje 40 anos que o sepultamos e, desde então, como é inevitável, nunca mais os Natais foram iguais…

E agora que o ano civil está a chegar ao seu término importa salientar que, no que à saúde diz respeito, este foi um ano sem preocupações de maior para a minha família e para mim próprio. Não foi mau de todo, não. Um ou outro achaque de fácil remédio e tudo foi passando… No meu caso a cirurgia resultou em pleno e neste ano vivido nada de anormal me surgiu. Felizmente!

Que no Natal de 2019 possa repetir igual afirmação e a coisa já não será má de todo…

Como registo final deixo uma imagem em que de forma humorada surjo com o compadre Lenine e outra da nossa mesa de ontem na Consoada deste Natal de 2018, com filhos, nora, neto e compadres.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

ALÍVIO!... A "RECAUCHUTAGEM" CONTINUA VÁLIDA!


Uff! Hoje mais um dia de grande alívio para este rapazinho por via de ter ouvido da médica que há já mais de um ano o vem vigiando, a preciosa informação resultante da análise ao resultado da TAC feita oito dias atrás que, para meu grande alívio, assim se expressou:

- Muito bem! Esteja descansado! Está tudo bem!


Caramba, grande alívio! Grande carga que saiu de cima desta velha carcaça que, não obstante nada sentir que fizesse prever qualquer complicação, a apreensão sempre existe porque a figadeira não dói ainda que algum apêndice maligno nela nasça.

Agora, se tudo decorrer consoante o previsto, só voltarei de novo a ser examinado pela radiologia lá para Abril, o que o mesmo é dizer que tenho licença por mais 4 mesinhos.

E, assim, semana a semana, mês a mês, vão passando os dias…

Sempre debaixo de vigilância contínua e na esperança que não nasça nova merda maligna, cá me vou aguentando, comendo de tudo com alguma moderação, sendo que o maior óbice resulta principalmente em não poder ingerir álcool…

Custa sobretudo um bocadito quando me encontro em convívio com amigos e eles mamam uns copos e… eu olho…

É a vida!...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

HOJE, DE NOVO, UM BELÍSSIMO REENCONTRO!


Hoje, logo pela manhã, um muito agradável encontro com um velho amigo, meu conterrâneo, que já não via talvez desde há 60 anos!

Fruto do Grupo que criei e administro na net relativo à minha terra natal, denominado CHOUTO – NOSSA TERRA, NOSSA GENTE, foi possível e a exemplo de muitas outras idênticas situações, saber do paradeiro do velho amigo Manuel Coelho, rapaz que não via desde os finais dos anos 50 do século passado quando ele estava empregado no então “Café do Caixa”, na Chamusca e, eu, hospedado em casa de tios, ia passeando os livros pela então Escola Industrial e Comercial de Torres Novas.

Guardo da época a imagem do Coelho no café, rapaz brincalhão, sempre bem disposto, contando anedotas mil e partidas imensas que fazia a este e àquele com quem convivia alegre e francamente, sempre mais ou menos às escondidas do patrão e encontrei hoje na sua gratificante visita, neste Coelho já com oito décadas de idade, o mesmo espírito vivo, franco e de continua boa disposição e alegria de viver!

Em duas horas que passaram demasiado rápidas, rememoramos velhos tempos, recordamos antigos e actuais amigos comuns e mil e uma ocorrências das nossas vidas para trás vividas.

Mas o Coelho, ainda que mais velho, continua o mesmo rapaz na verdade e, até, como então, mantém a sua gentileza e cortesia de sempre bem expressa na forma como me cumprimentou hoje, passadas todas estas décadas sem me ver: 

- Olha como aqui tenho, de novo, o Victor com a sua sempre carinha de menino?!… - Eh! Eh! Assim mesmo.

Simpático, o rapaz! Simpático e... mentiroso!...

Um abraço forte, Coelho!

Um abraço e também uma viva saudação à net que proporciona estes tão agradáveis reencontros!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

GUERRA COLONIAL - UMA CHATA CRÓNICA


Esta velha fotografia que aqui anexo, em que surjo acompanhado do meu velho companheiro Joel Costa, amigo praticamente sempre presente no meu dia a dia dos tempos difíceis da Guerra de Angola nos anos 67 a 69 do século passado, provoca-me diversas recordações que aqui gostaria de registar, fazendo desde já a primeira, sendo que outras se seguirão.


A foto foi tirada no Muaco, pequeno lugarejo situado perto do Cazombo, na picada que nos conduzia a Lumbala, lá bem no interior do Leste angolano, no quadrado à direita, assim como que um apêndice, que sai do mapa na fronteira leste.

O nosso pelotão, de cerca de 30 homens, dava protecção aos civis da então Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA) que procedia à construção dos necessários aterros para acessos à ponte sobre o Rio Muaco (cuja denominação certamente daria o nome ao local onde estavamos) aterros de que careciam a respectiva ponte já antes erguida pela engenharia militar, sendo portanto o nosso trabalho proteger os trabalhadores e a maquinaria de um eventual ataque inimigo.

Alojados - alojados, é favor mas… enfim… -  em toscas barracas de madeira, deixadas pelos militares da engenharia, lúgubre e estranhamente pintadas de preto, possivelmente em aproveitamento de um qualquer resto de tinha adquirida para outros fins, ali dormíamos – ou fazíamos por isso… - em cima de umas toscas armações de troncos de madeira erguidas a 40/50 cms. do solo para evitar a mordedura de alguma cobra, lacrau ou outro qualquer outro bicharoco por ali em visita nocturna. Como o "estrado" não era minimamente liso tratamos de lhe colocar como "estrado de colchão” (?) uma chapa de zinco. Isso mesmo: uma chapa de zinco das que tinham sobrado da cobertura das barracas. Mas, acontecia que, como sabemos, essas chapas são onduladas e então houve que usar a imaginação para encher as partes côncavas da ondulação… Como fazer? Terra, suja e húmida, não. Óbvio. Por isso fomos às folhas das árvores e arbustos que abundavam na mata para além da pequena clareira onde se erguia o acampamento. Lembro-me que eram pequenas e verdes folhas, assim como que de mióporos, que serviram de estrado liso e fresquinho. Por cima colocamos uma manta e assim estava o “colchão” perfeito… Pois é… Não me canso de dizer que, nos dias de hoje, nenhum – nenhum! - militar português, soldado ou graduado, estaria disponível para passar o que passamos na nossa geração por via da guerra forçada!

Mas, avanço nas recordações daqueles difíceis dias:

Para além das barracas para os civis, tínhamos as dos militares sendo que duas eram para soldados e cabos, outra para furrieis e ainda outra para o alferes. A cozinha era mais ou menos ao “ar livre”… Um pequeno telheiro e nada mais.

Eu, como furriel, dormia com mais dois companheiros com igual posto: o já falado Joel e um velho amigo que nunca mais vi e que era meio “cacimbado”, de nome Abreu. Bom rapaz mas um nadinha nada louco… E ele ria-se quando lhe chamávamos “Abreu - O louco”…

Dessa colectiva dormida recordo-me de duas situações algo complicadas na altura e que agora, vistas à distância, considero patuscas (pelo menos uma…) A primeira resultou da situação de stress, ou talvez melhor dizendo, medo, medo com que ali vivíamos naquele fim do mundo, com fraca preparação e ainda mais fraco armamento, acontecendo por mais de uma vez que, ao virarmo-nos durante a dormida, as chapas de zinco faziam um natural e característico barulho e era ver, pelo menos por duas vezes, o amigo Joel, imaginando rajadas de metralhadora, mandar um salto para o chão e abraçar a amiga G3 que, fielmente, dormia a seus e nossos pés encostada à parede da barraca. Quando se lembrava onde estava, esfregava a cara e pedia-nos desculpa pelo cagaço... 

A outra situação…Bem, a outra situação é hoje patusca mas foi na altura deveras confrangedora para este escriba, ingénua e virgem criatura a viver situação absolutamente inédita…

Surgiram-me, nos denominados “países baixos”, uns indesejáveis, comichosos e arreliadores bichos de muitas patinhas e. este pobre rapaz, na altura a dormir com os outros dois companheiros, sentiu-se deveres constrangido…

Faleis-lhe francamente:

- Ó pá, estou tramado!... (bem, não falei bem assim, porque usei o apropriado e obsceno vernáculo…)

- Então? - pergunta um.

- Estou com uma carrada de chatos, pá! - confessei-lhes de imediato e acrescentei:

- Não me sinto bem a dormir com vocês assim e vou ter que ir depressa ao Cazombo para matar esta merda! Vou catando os gajos mas não dou vazão e continuam sempre a nascer, cada vez mais.

Eles foram impecáveis, não esqueço: jamais me apresentaram qualquer obstáculo por com eles continuar a dormir enquanto não tivesse transporte para a sede do batalhão e, ainda assim passei mais umas noites. Duas? Três? Já não me recordo mas recordo-me bem que, nem única vez, tanto o Joel, quanto o Abreu, manifestaram o seu desagrado pela situação. Foram impecáveis! Foram amigos!

E fui ao Cazombo, logo que pude…. E, chegado ali, procurei de imediato o Rosa, furriel enfermeiro amigo que de pronto me pediu:

- Mostra lá essa merda!

Visto o porco panorama, abre a boca e, entre espanto e, em lamento, confessa:

-  Ó pá, como isso está!… E com lêndeas!… E eu sem remédio para atacar os gajos… Vamos aplicar o que tenho: o spray para matar os mosquitos e as lêndeas tens de as catar…

- O quê? Uma a uma, Rosa?- pergunto estupefacto.

- Que remédio, Azevedo… Não há alternativa. O spray não acaba com elas.

E assim foi!… Teve de ser! … Durante um ou dois dias, várias vezes ao dia, atacávamos os danados dos bicharocos com spray das melgas e que, assim, pouco a pouco, foram sendo dizimados e o mais chato foi mesmo os “ovos” dos gajos… Tive de os ir catando. Catei, catei e, regressado ao Muaco, o catar ainda continuou por largo tempo…

E pronto, já chega de porcaria!… 

Fico-me por aqui, tanto mais que acabei por redigir numa chata narração uma porca crónica.

E prometo não voltar ao tema...

EM TEMPO - Muito depois de redigir e publicar esta crónica encontrei no meu Baú de Velharias uma outra foto também tirada no Muaco, que agora incluo no texto e onde podemos ver algumas das barracas pretas do acampamento, sendo que a nossa, a dos furrieis, era a que está à direita.