segunda-feira, 20 de setembro de 2021


Coimbra, 13 de Abril de 1943

 Posso então sair amanhã?

- Pode. Um pequeno passeio a experimentar.

- Não. Se ponho os pés na rua, vou direita à Rainha Santa pagar a promessa que lhe fiz.

- Ah! Fez-lhe uma promessa?

- Então a quem é que me havia de apegar, na aflição em que me vi?

- Evidentemente…

E desci as escadas atordoado, já sem saber se fora eu que curara aquela criatura da sua labirintite, ou se teria sido, de facto, a mulher de D. Dinis.”


(Diário II

Miguel Torga, médico, poeta e escritor.)


segunda-feira, 13 de setembro de 2021

MÁS NOTÍCIAS - AVANÇA A IV "RECAUCHUTAGEM"!

Vinda da parte do sr. dr. que sabe da matéria como poucos, acaba de chegar a notícia que, como é bom de imaginar, abanou um bocado com a minha “caixinha dos pirolitos”: há que fazer, breve, nova quimioembolização e eliminar mais um “brinco” criado na “pecinha das iscas”.

Novo internamento que, a exemplo dos anteriores, possivelmente será curto (2, 3 dias) e novas dores e preocupações para este sofrido rapaz…

Assim, de tratamento em tratamento, e enquanto a ciência e o saber dos homens o permitir, aqui vou adiando mal maior.

Felizmente no dia-a-dia sem dores (a “traição” destas doenças ditas silenciosas, não sendo desagradáveis porque não doridas, são por de mais graves e perigosas), com a organização e os prestimosos e graciosos serviços de SNS, cá vamos controlando esta encrenca que me atingiu e que há já 4 anos me mantém em contacto permanente, com médicos, hospitais, consultas, exames, medicamentos, etc.

Mas há que olhar em frente e seguir o parecer e saber da ciência e dos homens e mulheres que muito estudaram e muito sabem.

É o que faço no dia-a-dia.


domingo, 12 de setembro de 2021

...E O APRENDIZ VAI EVOLUINDO...

Com a permissão de pescar numa nova herdade onde me facultam a entrada e onde sabia de um bom local com achigãs, julguei ser o momento certo para fazer o meu Rafael iniciar-se na pesquinha de tão desportivo peixe, largando a cana, o asticô e as malucas perquinhas que, sendo fáceis de fisgar, entusiasmam, divertem mas não passa disso e não é pesca que se veja. Não resolvem.

Ora, a pesca ao achigã é coisa totalmente diferente e, por isso, o meu desejo de ensinar o netinho a iniciar-se nesse passatempo/desporto que, ao longo dos anos tanto prazer e bem-estar me tem proporcionado.

Não sendo aconselhável entretê-lo com isso no período das aulas, só nas férias o costumo levar e, este ano, com ele com outra idade e com o novo local de pesca (um pequeno açude em propriedade fechada e por isso bem “recheado” de verdinhos), entendi ser o tempo e o local ideal para o iniciar nesta belezura que me apaixona e dá saúde porque vivo em contacto com a natureza, respiro ar puro e, melhor ainda, em tempos conturbados, aliviou-me a cabeça e fez-me esquecer preocupações e dificuldades surgidas.

Ontem foi a 2ª lição e desde os primeiros instantes, observando-o, logo verifiquei como tinha evoluído no trato da cana, do carreto e da linha com a respectiva amostra artificial, manejando o conjunto com mais destreza e os resultados não se fizeram esperar: para além de vários peixinhos com 100/200 grs naturalmente em crescimento para um dia nos deliciarmos com umas boas ferragens, o meu aprendiz fisgou mesmo um grandolas que, pesado ali mesmo por curiosidade, mostrou-nos 0,750 kgs. na balancinha de bolso.

O Rafael ficou admirado e algo surpreendido, como é natural e, o avô confessa, francamente, que ficou ainda mais satisfeito por ver o neto sacar um bichinho daqueles das águas - muito mais satisfeito! - de que se tivesse sido ele próprio a ferrar aquele bonito achigã.

Proporcionou-lhe, estou certo, mais entusiasmo, maior prazer e, naturalmente, maior vontade de continuar na prática de tão salutar desporto em que agora se inicia.

Para a posteridade fica aí a imagem do Rafael com o bonito achigã junto à pequena represa e a convicção que, pouco a pouco, ainda mais familiarizado com os apetrechos da pesca e com outro à-vontade com as “chatas” situações que se vivem nestas jornadas no campo e no mato (segurar peixes vivos, mato, silvados e ramagens, calor e, sobretudo, as muitas e chatas mosquinhas de Verão que não largam lábios, olhos, orelhas de um indígena, sobretudo depois de manusear um peixinho...) ele continuará evoluindo e, a exemplo de ontem, bastas vezes o “aprendiz” fará ver ao “mestre” como se pescam achigãs...


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

MORREU UM SENHOR


Após internamento hospitalar de alguns dias, morreu hoje de manhã o Dr. Jorge Sampaio, antigo Presidente da República e com a sua partida deixa-nos um homem integro, simpático, educado, amante de causas e humanista convicto e actuante, de trato muito afável e por isso bem agradável no convívio com o seu semelhante!

Com um percurso de vida absolutamente notável e gratificante de cidadão, pai de família e político foi, desde estudante universitário nos regimes ditatoriais dos Drs. Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, em que se fez notar como lutador primeiro e, depois, já como advogado, gracioso defensor jurídico dos então presos políticos a, já Presidente da República, por voz e actos corajosos e importantes, apaixonado defensor da causa do na época chamado Timor Leste que lutava por ver reconhecida a sua independência com separação da Indonésia invasora. Com muita coragem, nas instância superiores e na imprensa internacional Sampaio abraçou a causa de que felizmente sairia vencedor.

Humanista, era um homem de grande franqueza e coluna direita e ficou na memória de muitos a forma corajosa como, em plena campanha eleitoral para a presidência da República e perguntado, talvez com segundas intenções, se era religioso e praticante, respondeu de pronto que era ateu, indiferente às consequências que isso acarretasse na votação e perante o alarme dos seus membros de campanha que entendiam que, com essa confissão, as eleições estavam perdidas. Afinal viria a vencer, tendo como resultado uma maioria absoluta.

Com a morte de Jorge Sampaio Portugal fica mais pobre porque perde um grande homem, uma boa pessoa e um grande senhor na política e na vida.