quarta-feira, 8 de maio de 2019

VELHOS NACOS DO MEU CHOUTO ANTIGO (2)



O SISMO DE 28 DE SETEMBRO DE 1969


Foi muito sentido em todo o país, tendo provocado elevados estragos o sismo de 28 de Fevereiro de 1969 e, na minha aldeia, como é natural, também isso aconteceu, embora felizmente em reduzida escala mas, a população, não obstante a hora madrugadora (3h,45m.) a que ocorreu e estando quase tudo a dormir, sentiu mesmo assim intensamente o forte abanão.

Eu estava também em perigo na guerra em Angola e, curiosamente, parece que nessa hora corri menos risco de vida que os meus concidadão na aldeia e no Continente. O meu pai, nestes aerogramas de 28/6 e 9/3 cujos extractos aqui publico, confessa-me noutro ponto da sua narração que, em virtude dos vários minutos que o sismo decorreu, chegou a pensar que morria e não mais me via... 

Deixo aí na 1ª pessoa e ainda sob a sensação do forte abalo, a descrição do susto vivido, na versão do meu saudoso progenitor:




terça-feira, 7 de maio de 2019

VELHOS NACOS DO MEU CHOUTO ANTIGO (1)



ONDE SE REPRODUZEM RETALHOS DE VELHA CORRESPONDÊNCIA 


Creio que aqui, nestas pobres e despretensiosas crónicas tenho referido que, durante os meus mais de dois anos de guerra forçada em Angola troquei correspondência com dezenas de familiares e amigos que faziam o favor de me acompanhar naqueles difíceis dias em que por África andei. Era tão volumosa e assídua essa correspondência que criei mesmo uma lista dos correspondentes com símbolos de código que ia registando à frente dos respectivos nomes e assim sabia, num simples olhar pela lista, quem me devia resposta e a quem eu devia carta ou aerograma… Era coisa prática e de fácil leitura.

Tenho toda essa correspondência recebida em arquivo, na qual sobressai naturalmente a do meu saudoso pai que me escrevia mais de uma vez por semana e por isso totaliza umas dezenas os seus aerogramas e cartas onde me descreve, num bom e bem redigido português – redigia muito bem o meu pai, tendo em conta a sua escolaridade! - , contando-me não só as muitas situações, alegrias e tristezas, dos nossos familiares e amigos como, também, as muitas e diversas ocorrências vividas na nossa aldeia naquele período.
 
De vez em quando delicio-me com o desfolhar daqueles amigos aerogramas, escritos com tanta dedicação, carinho e amor e que fazem recuar-me àqueles velhos tempos em que a minha aldeia, social e economicamente, era tão diferente, tão diferente da que é hoje… Tempos muito pobres e difíceis os de então…

Mas, confesso, não deixo de achar delicioso ali “ter e viver” aquela época, numa singela leitura de uma simples e velha folha de papel, trazendo-me a sensação de que recuo no tempo, vivendo e sentindo aquela realidade...  Uma maravilha! Para o meu gosto… E é com esse espírito e esse sentimento e vivência, de um transporte ao passado, sentido e sofrido, que tem de se saber ler estas deliciosas descrições de então. 

Falava-me sobre tudo o meu pai: os que namoravam à janela ou em casa; os que “saltavam a cerca” pela calada da noite; os casamentos; as cerimónias na igreja e as bodas, não esquecendo a discrição das ementas; os fatos dos noivos e até de que eram compostos os colchões (de palha de centeio) e mesmo as almofadas das camas (com carôlo de milho); de festas e obras na igreja (“ficou bonito mas eu gostava mais de como estava antes...”); das trovoadas; das cheias; dos tremores de terra; das doenças e das mortes e até da difícil trabalho de, a pedido do pároco, que não sabia como cumprir a missão solicitada pelas autoridades, o acompanhar para transmitir a uns pais a morte de um seu filho na guerra (logo ele, que também tinha o seu filho na guerra...); etc, etc, etc. Tanta, tanta coisa bonita na narração manuscrita desde belíssimo homem e excelente pai que, infelizmente, partiu tão cedo!

De tudo isto e muito mais, em que se destacam as muitas vezes em que foi enfermeiro da aldeia, dando injecções a doentes retidos nas camas a kms de distância onde se deslocava de bicicleta, com esforço e a suas expensas e até sobre muitos tratamentos de socorro às vitimas de cajadadas e pedradas, resultantes das diversas desavenças que por vezes aconteciam na terra com forasteiros e não só. E, tudo isto, grátis, voluntariamente e num espírito de missão e altruísmo absolutamente impressionantes.

Pensei fazer uma colecção dessas “istórias” da minha aldeia - e não só… - e a seu tempo aqui as irei recordando e divulgando. Esta, datada de Outubro de 1968, que hoje anexo (desta vez teria sido apenas "um olho à Belenenses" e a Adília que fugiu "espavorida"), será a 1ª e outras a seguirão…

Ainda que possam não ser apreciadas pelos eventuais meus leitores, estas velharias dão-me um gozo pessoal e, reuni-las em selecção, ainda mais.

E pode até acontecer que no futuro algum vindouro as goste de ler…

NOTA FINAL – Neste e em futuros extractos alguns nomes são ocultados por razões óbvias.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

HOJE 47, AMANHÃ 48, 49 E... 50!


O título, deixa-me lá ser franco, é um desejo, naturalmente legítimo mas… atrevido por excesso…

Na verdade e depois da operação à figadeira, escolhi pedir apenas um aninho de cada vez no tocante a aniversários e agora já estava a “estender-me”…

Então, vamos lá a não ser apressado e, ao 47º aniversário do meu casório, ocorrido hoje, tenho de manifestar o desejo de vir a celebrar o 48º no próximo ano de forma a aproximar-me mais de festejar o cinquentenário de casamento, grande e justificada aspiração dos noivos de hoje e de 6 de Maio de 1972.

Ainda faltam 3 anitos mas, com calma e cuidado, com sorte na saúde e a preciosa ajuda dos médicos que ao longo das suas vidas queimaram pestanas e consumiram muitas horas e dias para progressivamente saberem mais do corpo e da saúde humana no sentido de prolongar a vida dos homens, pode ser que aconteça esse festejo…

Quero acreditar, porque é um desejo mútuo lindo, de mim e da noiva Tense, que atingiremos o dia 6 de Maio de 2022 para melhor recordarmos o dia em que subimos ao Senhor do Bonfim, na Chamusca e aí unimos oficialmente as nossas vidas e os nossos destinos!

Fica aí uma foto bonita desse dia 6/5/1972, imagem que julgo publico pela 1ª vez.