segunda-feira, 26 de novembro de 2012

EANES, O 25 DE NOVEMBRO, O PAÍS


“É inaceitável, é inadmissível, já não em termos democráticos, mas em termos de sociedade, em termos de humanização, que haja cidadãos, sobretudo crianças, que não tenham direito àquilo que é fundamental”, nomeadamente o direito à alimentação, disse o antigo presidente da República Ramalho Eanes, à margem das comemorações do 37.º aniversário do 25 de novembro de 1975.”
Retirei da imprensa estas acertadas palavras de quem tem toda a autoridade para as proferir e de quem sempre se nos apresenta como uma reserva moral e séria do que deveriam ser os políticos e os dirigentes que ao longo dos tempos dirigiram ou dirigem Portugal.
Ramalho Eanes tornou-se conhecido dos portugueses aquando dos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, data em que acabou a ”bagunça” então reinante nas forças armadas (chegou a realizar-se “juramento de bandeira” de punho erguido…) e tudo voltou para os quartéis de onde nunca deveriam ter saído para as tropelias que então se verificavam. Sei que as hostes comunistas e esquerdistas mais radicais, que então ambicionavam tomar o poder e bem estiveram perto disso, não estarão de acordo com isto, no que estão do seu direito mas, essa será outra discussão…
Para colocar as forças armadas e o país nos carris Eanes precisou politicamente do forte apoio do então chamado “Grupo dos Nove”, com o falecido major Melo Antunes à cabeça e necessitou ainda e logicamente da força, bem ordenada e potente dos Comandos da Amadora, cujo Regimento era superiormente comandado pelo Coronel Jaime Neves, homem de “barba rija” que vergou as forças mais renitentes e que assim muito contribuiu para o êxito da missão. (Na foto vemos, numa cerimónia da época, o General Ramalho Eanes, o Coronel Jaime Neves e o então Capitão Vasco Lourenço, que também fazia parte do "Grupo dos Nove")
Por mero acaso vivi mais ou menos de perto esses dias já que Jaime Neves era então meu vizinho e moravamos no mesmo prédio, ali não muito longe do quartel e, por várias ocasiões fomos companheiros de elevador, sobressaindo as vezes, naqueles dias quentes em que, armado de metralhadora com um homem da sua escolta, igualmente de metralhadora e camuflado, desciam para tomarem o jipe com militares armados que o aguardava na rua. Eu descia também para ir para o emprego e ainda guardo na memória a 1ª vez que entrei no elevador no meu piso e deparei com aquela cena de dois militares de metralhadora ao ombro ali num prédio de civis. Na ocasião desconhecia que o coronel Jaime Neves ali morava e dá para imaginar o susto que apanhei quando o vi assim pela 1ª vez no elevador…Depois tornou-se vulgar, como é obvio.
Com uma força muito bem preparada e fortemente disciplinada Jaime Neves foi sem dúvida figura muito importante no êxito do movimento militar que fez voltar a ordem e a disciplina ao país!
Com o General Ramalho Eanes só estive uma vez pessoalmente e guardo dele a memória do seu ar austero – dele se dizia que não ria… - a sua fisionomia sisuda e fechada, não só por lhe ser habitual mas também pelas circunstâncias do momento que vivíamos. Tratava-se do velório do corpo do escritor e poeta Miguel Torga, em Coimbra. Sendo um dos escritores cuja vida e obra mais admiro, forçoso era que, sabendo da sua morte em Janeiro de 1995 ali me deslocasse para uma derradeira homenagem. Torga era apoiante e admirador de Eanes e este também apreciava muito o escritor e lógico seria que igualmente gostasse de o homenagear na sua derradeira viajem. Foi assim, junto ao corpo do homem que ambos admirávamos, que conheci pessoalmente Ramalho Eanes.
Foi num local insólito como é evidente mas, para mim, também não deixou de ser gratificante por se tratar de uma figura cujo comportamento apreciava e que, com o tempo até hoje decorrido, mais tenho admirado e respeitado e disso já aqui dei conta algumas vezes!
Tivesse Portugal muitos homens honrados e sérios como Ramalho Eanes e teríamos forçosamente outro país, outra terra e outra gente!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A MINHA PESQUINHA


Faz hoje um mês que pesquei este achigãzinho de quilo aí da foto que acompanha estas linhas e com ele encerrei a minha pesquinha deste ano de 2012.
Chamo-lhe pesquinha porque na verdade é isso mesmo que pratico de há uns anos e esta parte... Saio de casa não tão cedo quanto deveria (gosto de levar o “Expresso” e espero que chegue às bancas…) e regresso muito antes do pôr-do-sol, altura em que ainda deveria estar na pesca, dado que é nessa hora que a mesma é mais produtiva…
Mas a minha preocupação, não obstante o grande prazer em ferrar um bom exemplar que sempre se sente, não é só a pesca propriamente dita... Não é, não. Gosto de me levantar cedo; gosto do fresquinho da manhã no Verão; gosto da viajem, das árvores, dos arbustos, das peças de caça que vou encontrando, das aves e outros animais selvagens que vão surgindo, enfim, da Natureza. Na cidade nada disso temos e, muito menos temos e respiramos o ar puro que encontro no Ribatejo e no Alentejo onde me desloco no exercício deste belíssimo desporto.
O curioso deste meu vício, de que um dia espero aqui falar com mais detalhe, é que fui iniciado nestas lides exactamente por meus cunhados de um lado e outro da família… Uns iniciaram-me na também muito interessante pesca no Rio Vouga, com os pequenos “ruivacos” que ali abundavam e, outro – que por sinal já não é, por força de divórcio… -, naquela que mais dias e horas me tem absorvido e que ainda hoje mantenho com redobrado prazer, a pesca do achigã.
A 1ª, na Beira Alta, era feita com uma rudimentar Cana da India, só com uma linha, um chumbinho e um anzol muito pequenino (mosca), sem carreto e produzia excelente resultado, chegando, com a evolução da minha tecnica a, posteriormente, sacar do rio boas bogas e sobretudo belíssimos exemplares de excelentes e bem batalhadores barbos.
Na outra, a do achigã, lembro-me que me equipei na década de 70, talvez por volta de 1977/78 numa pequena Casa de Pesca em Alhandra (o sr. Manuel, que felizmente ainda é vivo e ainda se mantém atrás do balcão e onde muito material tenho adquirido ao longo dos tempos). Umas botas de borracha, um saco-mochila que ainda uso, umas "medalhas" para amostras e uma cana e um carreto que também ainda possuo. Mas estes dois não eram indicados para a pesca do achigã… Não era o carreto e muito menos a cana, por ser muito grande e pesada. Tenho-a usado na pesca à beira mar.
Ficam por aqui estas recordações – outro dia desfíarei mais uma ou outra memória e uma ou outra história… - e importa agora dizer que findou este ano a pesquinha. Começou a chover, os acessos às barragens são mais difíceis, quando não impossíveis mesmo de jipe e os terrenos nas margens ficam muito mais pesados e, com algum frio também a chegar, as águas arrefecem, os peixes afundam e nas margens a pesca só se justificará em finais de Fevereiro, quando se aproximar a Primavera e as temperaturas se tornarem mais amenas.
Até lá, é para arrumar fotos, materiais e recordações e aspirar pela chegada da nova época. Nos últimos dias, que antecedem o regresso às lides, até se contam os dias e, mais pertinho dessa data, até as horas vão recuando aqui na caixinha dos pirolitos…
Um vício danado! Mas, bonito! E saudável!...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

...E JÁ SÃO 68!


O homem ganhou este hábito: desde que nasce e embora caminhe para o envelhecimento e consequente morte, festeja a passagem dos seus aniversários natalícios…
Não fujo à regra como é natural e hoje festejo mais um, de uma soma que já produz resultado volumoso, atingindo os 68! Já começa a pesar, esta coisa…
De novo juntei os familiares mais chegados e amigos próximos e, num restaurante, no jantar à pouco, saboreamos uma boa Cataplana de Garoupa confeccionada pela senhora do restaurante.
Para além da garoupa, à mesa esteve também presente, como seria inevitável, a terrível crise económica/financeira que se arrasta e a todos tritura e  mata aos poucos, sem que se vislumbre nos dirigentes nacionais e europeus a mínima capacidade para a debelar.
Os meses e os anos passam e arrastam-se e a receita é sempre a mesma, com os mesmos resultados: Impostos e mais impostos; cortes e mais cortes e as pessoas cada vez mais pobres e necessitadas, quando não já miseráveis nalguns casos...
Para além de quem trabalha, sofrem agora também pesados cortes os pensionistas, num roubo descarado e aviltante dado que se vai ao bolso de quem aceitou um acordo de apoio à velhice com o Estado, que para isso durante dezenas de anos recebeu as devidas contribuições e agora faz tábua rasa e como que se rasga esse acordo, fazendo elevados cortes nas acordadas pensões e assim criando difíceis condições de subsistência para muitos milhares de cidadãos e suas famílias.
É o que temos que aturar e suportar com esta terrível incapacidade de dirigentes e técnicos que mandam no país e na Europa, com uma Alemanha que põe e dispõe na restante Europa como se sua quinta fosse a apostar na austeridade, mais austeridade e mais austeridade. As economias não funcionam, ninguém compra nada a ninguém, as empresas fecham e vão à falência e é todo um arrastar de situação que, com toda a convicção o digo, nos levará a dias muito e muito difíceis.
Oxalá me engane mas, a continuar assim, celebrar aniversários será cada vez mais difícil e complicado para mim e de certeza para muitos e muitos dos meus concidadãos e tenho mesmo a plena convicção que muitos, muitos já não os festejam… Não têm disposição, não têm dinheiro, não têm possibilidades…