domingo, 13 de julho de 2014

DIA LIIIIIIINDO!


Há muito que o nosso Rafael tinha manifestado desejo de me acompanhar à pesca no Alentejo mas só agora isso aconteceu... 

Não o levei no ano passado porque achei que ele ainda precisava de mais uns mezinhos de idade para se iniciar nessas lides e, este ano, com ele já com oito de idade, deixei passar o mês de Maio e também o Junho que esteve mau climatéricamente falando… O Maio teria sempre de evitar para ele... Primeiro, por causa dos fenos, dos pólens e das danadas das alergias onde os espirros e os olhos nos chateiam que se fartam e, depois, porque naquela data também encontramos as arreliadoras e inconvenientes pequenas carraças que nos sobem pelas roupas e pelo corpo…
Agora, passadas as trovoadas e as consequentes chuvas que amolecem as ervas e fazem desaparecer as carraças – para onde vão elas?, não sei… - achei que era a data ideal para satisfazer o desejo do netinho e assim o iniciar neste desporto lindo que há muitos anos pratico.
Dias antes do marcado para a pescaria comprei o necessário material adequado para ele utilizar: Uma cana leve, telescópica, para usar com linha directa porque o carreto agora está fora de causa, uns pequenos anzois, o isco (asticôt) etc, etc. Achei que para o iniciar e entusiasmar temos nas represas alentejanas as pequenas e malucas percas que se atiram aos iscos e aos anzóis doidamente e assim adquiri o material necessário para isso.
Ele queria ir à pesca sozinho com o avô mas, isso, embora fosse possível, não era muito aconselhável e o pai também fez parte da equipa. Não sabia muito da "faina" piscatória mas sempre ajudava a controlar o seu nervoso e a sua ansiedade...
Os 3 não partimos tão cedo quanto o aconselhável para pescadores mas não o quis molestar muito logo no inicio da prática e por isso saímos pouco depois das 7 da matina. Para alguém que, naquele sábado, não fora a pesca provavelmente nunca se levantaria da cama se não depois das nove/dez, já foi algum sacrifício…
No percurso, de pouco mais de 100 kms, foi a tradicional pergunta, cem vezes repetida: “Ainda falta muito?” e ainda a sua divulgação/confissão: "Avô, hoje vou ter um dia excelente!: De dia tenho a pesca e, à noite, vou jantar com os pais e uns amigos num restaurante!”. Achei uma delícia!
Chegados ao local da pesca, uma pequena represa situada numa Herdade na fronteira do Ribatejo com o Alto Alentejo, recebeu então ali as primeiras lições, primeiro do material que iria usar e, depois, da forma como o utilizar eficazmente para produzir resultados. Foi muito curioso e interessante observar as suas diversas reacções à vista de utensílios que naturalmente desconhecia… Cana, linha, anzol, chumbo, isco, etc.
Depois, foram os ensinamentos sobre a técnica a usar nos lançamentos, nas ferragens do peixe, etc, etc. e, com paciência e muito gosto, fui explicando, demostrando e ajudando, numa tarefa tão deliciosa quanto gratificante! Uma maravilha! Uma maravilha de bocadinho do dia e... da vida! Delicioso!
O Rafael foi aprendendo com relativa facilidade e o problema maior, que afinal me parece ser generalizado e, portanto normal nas crianças “meninos da cidade”, tem a ver com o segurar com a mão o peixinho vivo e agitado saído da água e a querer libertar-se... Habituadas a verem os peixes vivos nos aquários ou mortos nas bancas das peixarias, faz-lhes impressão senti-los vivos nas mãos… Coisa lógica. Natural. Uma pequena dificuldade que o nosso Rafael ultrapassará com o hábito ao longo do tempo. Logicamente. Naturalmente.
De resto tudo bem e, o nosso amigo que, a meio da manhã, à medida que ia sacando das águas pequenas percas, teve a franqueza de me confessar: “Avô, afinal isto é divertido!.”, no final da jornada, quando regressávamos a casa, à minha pergunta “Então, Rafael, preciso saber: A experiência é para repetir?” respondeu-me de imediato e bem alto, lá do banco de trás: “Ah! SIM! SIM!”
Para ornamentar esta minha gratificante narrativa deixo três fotos que me parece se justificam. Numa vemo-lo recebendo ensinamentos do avô; noutra ele expressando um "Fixe!" e o seu prazer pela tarefa; e, na última, as percas da sua pescaria já fritinhas e que serviram de aperitivo no almoço da família, hoje aqui em casa!
Por fim, será desnecessário aqui manifestar o muito prazer que senti neste dia único e liiiiindo, né?

Pois... Na verdade, foi um dia lindo, liiiindo!

domingo, 6 de julho de 2014

CORTIÇA - O SUOR E A DOR NA SUA ORIGEM!


Encostados ao balcão do pequeno pavilhão na Feira de S. Pedro, oito dias atrás, conversávamos e íamos “molhando a palavra” e refrescando-nos com umas “imperiais” loirinhas e bem fresquinhas. 

A conversa era ligeira e falávamos da feira em que estávamos e dos muitos e velhos amigos que ali sempre vamos encontrando e reencontrando como é hábito neste evento anual na nossa terra natal quando, no intervalo de mais uma fresquinha golada da loira cervejinha o amigo me desabafa: “pois… é tudo muito bom e bonito mas o diabo é que amanhã, logo bem cedo, já andarei de novo à roda dos sobreiros!...”
Fiquei assim a saber que o meu amigo, homem multifacetado nos trabalhos agrícolas, andava agora na tiragem da cortiça, num trabalho bem especializado, só ao dispor de alguns mais experimentados e também de boas posses físicas dado que é necessária força e sabedoria para o executar. Para além disso e porque a tiragem da cortiça só pode ser feita nesta época do ano em que o Verão nos traz o muito calor, a empreitada torna-se difícil, se não mesmo violenta porque feita ao sol, exigindo esforço físico considerável e em zonas habitualmente muito secas e portanto onde o calor mais incomoda.
Nascido e criado em zona de sobreiros e frequentador também no Alentejo, por via da pesca, de locais com muitos montados, tenho seguido praticamente todos os anos esta labuta e, com curiosidade vou acompanhando o valor dos salários que os proprietários dos montados vão pagando aos trabalhadores. Trabalho especializado e duro é sempre mais bem pago que o vulgar trabalho agrícola e, segundo informação do amigo com quem conversava, neste ano e na zona onde laborava, o valor da jorna era de 70 euros aos homens e 35 às mulheres. Ambos com pagamento “a seco”, portanto sem comida nem bebida.
O valor pago aos homens foi considerado pelo meu interlocutor de “jeitoso” mas outro tanto não acha, coisa que eu subscrevo, quanto ao auferido pelas mulheres já que nos parece demasiado escasso face ao muito esforço e à considerável força física que elas têm de despender para pegarem e transportarem à cabeça as grandes e pesadas pranchas de cortiça que, caídas junto aos sobreiros, depois de sacadas das árvores, há que leva-las até junto dos tractores ou camionetas - e iça-las para a carga! - que depois as transportarão até ao Monte da herdade onde serão empilhadas e guardadas até à sua venda e ida para a fábrica transformadora. É necessária, não tenhamos dúvida, muita força muscular - muita força muscular! - e ter ainda uma boa coluna vertebral!... As mulheres, acho, estão a ser muito mal pagas para este esforçado trabalho mas, muitas delas, coitadas, precisando e achando que aos 70 euros dos maridos juntarão os seus 35, totalizando assim um valor já considerável que levarão para casa, que amealharão e que os ajudará a passar melhor os difíceis dias de Inverno de menos trabalho que aí vem, são forçados a este grande esforço e sacrifício físico. É a vida muito dura das gentes do campo! É a vida muito dura de quem precisa!
Como disse, nas minhas andanças na pesca do achigã durante o Verão, encontro-me muitas vezes com estes trabalhos e, aqui ou ali vou captando com a máquina as diversas situações que me parecem mais interessantes. É o caso das duas fotos que aqui deixo vendo-se numa a extracção da cortiça e as difíceis condições com que o trabalho se executa e, na outra, uma pilha que achei interessante fotografar porque aí podemos comprovar como especializado e até artista foi esse trabalhador que conseguiu “sacar” do sobreiro, parece que com um simples e único corte de alto a baixo, a sua “samarra”... Bonito!