sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

UMA MINISTRA EM LÁGRIMAS...

Avesso a interessar-me, falar e sobretudo escrever sobre política e os políticos que temos depois de me desiludir com os métodos e o nível da classe política que nos vinha – e vem - dirigindo e mais concretamente após os nossos eleitos representantes em tempos idos terem criado as então escandalosas, incríveis e mesmo ofensivas Pensões Vitalícias, numa decisão pessoal que tomei e que só foi alterada uma ou outra isolada vez em casos esporádicos e bem raros eu, que no pré e no pós 25 de Abril me interessei e vivi a política e durante muitos anos e tanto escrevi em milhares de linhas, muitas vezes de páginas inteiras em jornais e revistas publicadas no meu torrão natal, abro hoje um novo parêntesis nessa posição há muito assumida.

E faço-o sincera e convictamente depois de, fortemente impressionado, ter visto na televisão e já revisto aqui na net, a nossa actual Ministra da Saúde, Marta Temido de seu nome, numa emoção para mim jamais vista num governante, verter lágrimas enquanto discursava no Instituto Ricardo Jorge perante os seus trabalhadores.


Emocionou-se assim a senhora de voz embargada e com várias e emotivas lágrimas a rolarem-lhe pela face quando se dirigia aos trabalhadores do Instituto, que o seu ministério tutela, no seu agradecimento e muito apreço pela dedicação e esforço por eles despendido no combate à terrível pandemia que nos assola, que naturalmente a todos muito preocupa e, como agora se comprova, com a Ministra da Saúde a estar na 1ª linha desse combate e dessas preocupações.

Preocupações que, agora se constata com franca admiração, não são apenas oficiais mas, sobretudo, muito sobretudo, pessoais.

Em toda a minha existência não me recordo de ver em público num governante tamanha emoção, tamanho sentimento e tão grande sensibilidade pessoal no desempenho da sua importante missão e entendo que deve merecer todo o apreço e toda a estima.

Não sei se é boa ou má ministra; se é competente ou não; se desempenha o seu cargo com saber ou não; sei que é sensível, sei que sente a responsabilidade do seu cargo e isso diz-me muito.

Porque nunca me acanhei a criticar os frios, distantes, maus, se não mesmo mentirosos e falsos políticos, aqui estou hoje, francamente e também emocionado q.b., a manifestar toda a minha estima e muita admiração pela sensibilidade de Marta Temido, ministra de um governo de Portugal.

Bonito e sensibilizante!

Mulher de carne e osso – e lágrimas!… - como eu.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

OS (DEFUNTOS) CARTÕES DE BOAS FESTAS

 
Vivíamos então as décadas de 50, 60, 70 e mesmo 80 do século passado... 

O digital ainda não tinha nascido; a internet igualmente ainda não havia surgido, não tinha sido inventada e, eventualmente, tão pouco seria sonhada pelas mentes mais imaginativas; os telemóveis idem-idem, aspas-aspas e, nos poucos aparelhos fixos, as ligações eram deficientes e… caras; as comunicações entre os humanos eram na época feitas quase exclusivamente pelo correio escrito em cartas, cartões, postais, telegramas, etc.

Era assim antigamente e foi neste quadro que surgiu o então designado “Cartão de Boas Festas” para ser enviado nesta quadra natalícia ao amigo, ao familiar, ao namorado e, depois, numa maior divulgação, a associações, instituições, quiçá empresas mais dedicadas e estimadas do remetente. 

Chegada este altura do ano todos corríamos às papelarias, tabacarias e até a cafés e mesmo mercearias em pequenas aldeias, na compra dos pequenos cartões e seus envelopes, que se vendiam em conjunto já com as dimensões adequadas às dos cartões.

Na Chamusca, sede do meu concelho natal, recordo-me que o estabelecimento grande fornecedor da população era sobretudo a “Papelaria do João Fonseca”, principal estabelecimento do género na vila mas, também no meu pequeno Chouto, na mercearia do meu tio Antero Barreto, que de tudo vendia, num ou noutro ano os houve, numa venda em que sobressaía a boa vontade e a simpatia do primo Zeca, sempre solícito em procurar destacar as belezas do produto e em agradar ao cliente.


Tanto quanto me lembro, os simpáticos cartões começaram nos recuados anos por serem fornecidos muito simples e de pequeno formato mas, depressa, de um simples cartão inicialmente com desenhos de paisagens sempre nevadas com casebres e árvores alvas de neve, depressa passaram a ter maior formato e a mostrar-nos imagens já mais coloridas de presépios com a Virgem Maria, S. José, o menino Jesus e os tradicionais burro e vaquinha com o seu bafo aquecendo a criança na manjedoura.

Mas não se quedariam por aí os simpáticos cartões e, logo, logo surgiu a grande novidade dos desdobráveis, de multi-faces, bem originais e bonitos para a época. Eram os mais procurados quando se pretendia presentear a namorada, o amigo especial, o familiar mais querido. Abria-se a face principal do cartão e no seu interior surgiam-nos imagens como que em movimento, dando uma dinâmica e vida ao cartão particularmente agradável à vista. Naturalmente, eram também os mais carotes mas, mesmo assim, como o desejo era agradar ao destinatário, isso pouco contava… Também com o surgimento das guerras de África começaram a circular uns cartões bem específicos, alusivos à presença dos nossos militares nos campos de batalha e que tinham a particularidade de apresentarem imagens de namoradas, de rostos e poses sempre mais ou menos apaixonadas mas obrigatoriamente discretas e castas, ou disso aproximadas, porque outra coisa a censura da época não deixaria passar…

Nas duas quadras natalícias que passei na guerra nos finais da década de 60, lá bem no distante e inóspito leste angolano, recebi naturalmente muitos e diversificados cartões de Boas Festas remetidos por familiares e amigos e, como seria inevitável – este rapaz guarda tudo!… -, ainda hoje os conservo como gratificante recordação. 

Para aqui documentar para a posteridade, escolhi desses cartões uns quantos variados que fotografei e aí deixo como ornamentação das minhas palavras. 

No grupo poderemos ver os mais simples e pequenos, com imagens de neve e árvores; um outro mais sóbrio e discreto de um amigo; e, encima, dois dos desdobráveis: um com o tradicional presépio e o outro, que aprecio bastante e que destaco em separado, que apresenta a saudosa jovem namoradinha no jardim da sua eventual casinha de aldeia empunhando um raminho de flores sendo  que, abrindo a janela, vê o seu amado que, de camuflado vestido, sinal que estava na guerra distante, surge-nos de perna trocada, muito prazenteiro numa paradisíaca praia de coqueiros e mar calmo já que, mostrá-lo sujo, cansado e a combater na mata, como infelizmente acontecia muitas vezes no seu dia a dia, seria absolutamente proibido pelos poderes de então. Lírico e romântico… Coisas da época…

Todos estes cartões e este hábito de comunicação entre nós entretanto se foram com a chegada dos mais modernos e rápidos meios de comunicação mas, convenhamos, o velhinho “Cartão de Boas Festas”, com o gosto que se escolhia de entre os muitos aos dispor na loja, com o carinho com que se redigia a sua dedicatória e até com a amizade com que se colocava no marco do correio, era bem mais amigo, fraterno e carinhoso que esta coisa das frias e quase impessoais mensagens escritas – e muitas vezes copiadas e partilhadas às dezenas e centenas… - recebidas nos telemóveis, nos computadores e na internet. 

Sinto-o eu...