quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A VELHINHA ESCOLA PRIMÁRIA


Recordação cada vez mais acentuada de dias e situações vividas aquando da infância e juventude, numa experiência e sensação quiçá bem gostosa e agradável quanto nostálgica e que, em boa verdade, também não surpreendente porque já prevista há muito por este pobre escriba que desde sempre gostou de ouvir dos mais velhos as suas experiências e vivências passadas, sabendo assim que isso aconteceria, é o que vou sentido há já uns anos a esta parte e de forma cada vez mais acentuada nos dias que correm.

Acontece então que, chegada a convencionada dita 3ª idade, a caixinha dos pirolitos do pobre cidadão como que vai resgatando do seu lastro, do seu fundo, as cenas, os episódios, os objectos e as coisas vividas em tempos bem recuados e, num misto de surpresa e prazer, passa largos períodos a recordar e reviver tempos idos, lá muito, muito distantes nos dias.

Um objecto, uma imagem, uma simples conversa, fazem-no recuar no tempo e, agora, com a moderna internet que repesca por todo o lado os elementos do passado, as cenas de outros tempos, muito mais isso se acentua e se sente.

Pensava exactamente nisto mesmo quando, num site de velharias “tropecei” na velha fotografia que aqui junto de uma sala de aula de pequenas crianças e que de imediato me transportou aos meus tempos de criança, aluno na então chamada Escola Primária do meu Chouto natal (aí também numa outra foto dos nossos dias já com o edifício devidamente recuperado e bonito) onde aprendi as primeiras letras e ali permaneci até perfazer a na época denominada 4ª classe.

Para meu especial prazer e dado que, ao que julgo, não existirão quaisquer fotos da minha sala de aulas desse tempo – as máquinas fotográficas eram escassas e só ao alcance de algumas poucas bolsas... - esta interessante foto e salvo algumas poucas diferenças, é uma cópia quase fiel da que tínhamos naquela altura nesse recanto onde a professora dava a aula. Vendo-a é possível imaginar e ver ali a mestra, os alunos (todos, como então, de bata branca), as carteiras (com os velhinhos tinteiros de loiça branca onde molhávamos o aparo da caneta) e a disposição dos diversos móveis, sendo por isso o que aí está uma cópia quase exacta da escola que frequentávamos nos idos tempos.

A professora (Maria Angelina) era um pouquinho mais cheiinha que a que aí vemos (um pouquinho, mas era mesmo mais para o “grosso”…); ao canto, junto à mestra, ”descansava” sempre, quando “descansava”, a grande e rija cana-da-Índia; em cima da secretária (de tampo talvez um nadinha maior…) sempre “repousava” a régua (palmatória), quando “repousava”, nos intervalos em que não era usada para sovar o alunos; o quadro era em ardósia preta e um pouco mais pequeno; os vasos e jarra de flores estão aí a mais (Maria Angelina era pouco de flores…); a janela à esquerda, de sistema guilhotina e embora alta como a da foto, era um pouco menos larga; não tinha calendário na parede e muito menos com imagem de santos ou santas (Maria Angelina não era muito dessas coisas…); por cima do quadro preto tinha um crucifixo em bronze ladeado por duas grandes fotos em molduras de madeira com os rostos do Marechal Carmona (Presidente da República) e do Dr. Salazar (Presidente do Concelho), conjunto obrigatório nas escolas da época e, por fim, nem o pequeno estrado, onde a professora se movimentava e de onde aplicava as reguadas aos alunos no plano inferior, aí falta.

Pelo exposto e em imagem quase fiel, eis como ali vejo esse recanto da minha sala de aulas da já então velhinha Escola Primária na primeira metade dos anos 50 do século passado, época em que também fazia as cópias que aí deixo, cópias certamente redigidas em casa e que depois levava para escola como os hoje chamados TPC. 

Já na época realizávamos os chatos “trabalhos de casa”... Sempre contrariados; sempre com medo da professora; sempre forçados pelos pais; sempre aborrecidos quando não a choramingar porque nos aguardavam nas ruas e largos de terra batida da aldeia, o Rainha, o Carvalho, o Diamantino, o Rui, o “Ervilha”, o Zé da “Calistra”, o Manuel “Barracão”, os irmãos Tomé e Manuel João, o Manuel João Garcias, o João e o Manuel Espadinha, o Zé Augusto "Montefato", o..., o…, os muitos outros amigos e companheiros com quem jogávamos ao pião, à bugalha, à bola (com uma meia cheia de trapos a fazer de esférico) e com as oliveiras ou umas simples pedras a servirem de balizas; calçados uns mas, de pés descalços outros, já que as posses dos pobres pais não lhes chegavam a tais luxos de botas ou sapatos… Esfolados de joelhos e braços mas felizes.

Alegres e felizes sem o sabermos.

Danado de tempo que se foi.

... E que se foi tão rápido...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

A III "RECAUCHUTAGEM" VAI ACONTECER


Chegada hoje por telefonema do competente cirurgião que desde a operação em 2017 me acompanha na evolução deste chato estado da minha figadeira e menos de um ano decorrido sobre o tratamento por quimioembolização sofrido, a notícia chegou: Novo internamento, novo exame, nova quimioembolização.

A III “recauchutagem” da minha “pecinha das iscas” vai assim realizar-se de novo e, ou muito me engano – e oxalá que sim! - mas, pelo historial, parece que estarei sentenciado a, ano a ano, ver nascer estes “brincos” danados que não incomodam com dor, é verdade – do mal o menos… - mas não deixam de muito preocupar.

Mas, ainda bem, como hoje me fez ver o amigo cirurgião, que felizmente há tratamento para o que vai surgindo porque, como disse, “se algo aparece, sendo que para isso não há remédio, é que é mais chato”, coisa que, convenhamos, é bem verdade.

Mas, uns com uns achaques, outros com outros, todos temos que nos conformar, ao mesmo tempo que, esperançados e animados em dias melhores, temos que ir tratando e combatendo as maleitas surgidas.

É o que tenho feito e que continuarei a fazer na convicção que, como o anterior exame tudo se passará sem esforço ou contrariedade de maior e, em poucas horas (em Maio passado foram exactamente 45 horas de internamento), pelo meu pé tornarei a casa mais aliviado, mais animado.

E, passados mais uns tempos, se estes “brincos” tiverem seguidores, cá estarei tentando rejeitá-los. 

Não há alternativa.

É a vida...