sexta-feira, 13 de março de 2015

UM CENTENÁRIO MUITO ESPECIAL


Meu saudoso pai se fosse vivo festejaria hoje o seu centenário de nascimento e realmente estaríamos a celebrar uma data muito especial mas, dada a sua brusca partida muito cedo do nosso convívio, quis o destino que assim não acontecesse.

Deixou-nos com 61 anos de vida e fez-nos uma imensa e inquestionável falta quando ainda dele tanto esperávamos  e precisávamos. Não exactamente no campo material – longe disso - mas, sobretudo, no de chefe, de moral e respeitável exemplo, com que sempre fez questão de pautar a sua vida e disso fazia ponto de honra.

Para mais e ainda que isso não fosse minimamente necessário, partiu em quadra e data marcante da nossa vida colectiva, querendo o destino que dias antes e respondendo a meu convite para, com minha mãe, passarem o Natal connosco em Lisboa – para o que poderiam contar com o meu transporte – escreveu-me um postal, que guardo religiosamente, dando conta dessa impossibilidade dadas as obrigações diárias que tinham de acompanhamento aos muitos animais de que dispunham na aldeia.

E afinal a hora terrível para ele e para nós aconteceu a 24 de Dezembro de 1978, com funeral no dia 25 e, assim, passamos a Noite de Consoada e o dia de Natal acompanhando em choro os seus restos mortais. E desta forma foi possível estarmos juntos na Quadra Natalícia… Triste, muito triste ironia!…

Amigo maior que tive em toda a minha vida, guardarei até aos restos dos meus dias toda a sua imensa memória de homem integro, honrado, sério, amigo de todos e, principalmente, muito amigo do seu amigo como nunca conheci pessoa igual.

Fazia amigos com facilidade e que muito o consideravam e estava sempre disponível para ouvir e ajudar todo o semelhante tendo um carinho especial com os amigos dedicados.

Dele soube um dia que, sendo procurado por um amigo que lhe rogava o empréstimo de uma determinada verba para satisfazer um compromisso e não podendo valer-lhe, dada a avultada quantia não hesitou e, recorrendo a um outro seu amigo, que calculava poderia dispor desse valor, fez um pedido de empréstimo e satisfazendo assim o primeiro amigo necessitado. 
E, embora não sendo enfermeiro de profissão, quantos milhares de injecções e curativos médicos, muitos realizados nas residências dos próprios doentes e sempre totalmente grátis, não fez ao longo da sua vida? Seguramente vários milhares na aldeia e até fora dela, em povoados vizinhos.
 
De entre as várias fotos que do meu querido pai guardo e pensando exactamente na forma como estimava os amigos, escolhi esta que aqui deixo onde o vemos chamuscando um porco que criou especialmente para matar festejando a minha vinda da guerra em Dezembro de 1969 (a foto é do mês seguinte, dias após) e para cuja matança convidou familiares e amigos de estimação. Vê-mo-lo aí, para além de minha irmã que lhes levara o tradicional “mata-bicho (passas de figos com aguardente) com 3 dos muitos que estimava (Acácio Varela, Juvenal (encoberto) e José Dinis).

Hoje não festejamos o centenário de nascimento de José Azevedo mas recordo com imortal saudade a sua figura de pai, homem integro, honrado e de muito caracter, que passou pela sua curta vida deixando um rasto de bem, de amizade, de muita dedicação aos seus familiares e amigos que para sempre dele se recordarão.

Com profunda saudade e imensa gratidão de filho, aqui ficam os meus desejos que para sempre descanse em paz!