sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A RÁDIO DO NOSSO ENCANTO


Celebrando-se hoje o Dia Mundial da Rádio e, apaixonado como sempre fui pela comunicação social, não poderia deixar de aqui referir o evento e, a propósito disso, lembrar dois dos aparelhos de rádio que me foram particularmente queridos durante a vida.
Um é este de que deixo aqui a imagem e que era o aparelho de casa dos meus pais, que acompanhou toda a minha juventude e que ainda hoje guardo com particular cuidado. Julgo que o meu pai comprou-o na década de 50, talvez perto do seu final e que, como no Chouto não havia ainda energia electrica e embora já viesse preparado para ela, era alimentado com a energia de um grande e pesadona bateria de camioneta, colocada numa robusta caixa de madeira para seu transporte quando ia periodicamente a carregar à Chamusca. Funcionava e funciona a válvulas e depois de ligado tem que se aguardar uns momentos até que elas aqueçam. Não sei se este será o termo mais adequado mas lembro-me que era assim que diziamos… Lembro-me de aos domingos à noite e sempre a prejudicar o meu sono, porque na segunda cedo teria de “apanhar” a camioneta para ir para a Chamusca e Torres Novas para os estudos, de ouvido colado ao rádio, para não incomodar os meus pais que já dormiam, ouvir por volta das 10 da noite um programa desportivo na Emissora Nacional que nos dava conta dos resultados dos jogos de futebol e respectivas classificações. Um vício de me manter actualizado que ainda hoje mantenho mas agora na TV ou, mais recentemente, na net.
O rádio, como se vê muito bonito, era a estrela lá de casa e recordo-me também do meu pai o colocar na janela, em altos berros que se faziam ouvir em toda aldeia, aos sábados à noite em que a então Emissora Nacional transmitia em directo um espectaculo então muito famoso que dava pelo nome de “Serão para Trabalhadores”. Recordo-me que o principal locutor/apresentador era Artur Agostinho que aproveitava para contar umas quantas anedotas que as pessoas muito apreciavam.
Viveu e reinou o aparelho sempre lá em casa, primeiro com a força da bateria e depois de 1972 já com a energia electrica, que chegou à aldeia em Junho desse ano. Hoje guardo-o com o natural carinho e apreço e estimo-o assim como se de uma joia se tratasse.
O outro aparelho porque nutro particular apreço é um pequeno transístor que curiosamente agora não encontrei para fotografar – guardo-o tão bem que nem me recordo onde o coloquei com a recente mudança de casa… - e que me acompanhou durante toda a minha guerra de Angola. Não me recordo onde o comprei mas julgo que foi em Luanda, quando lá cheguei…
E porque tenho apreço pelo pequeno aparelho? Ora, porque foi nele que ouvi sempre as retardadas notícias que nos chegavam no Leste e depois no Norte e recordo-me sobretudo de acompanhar nele com vivo interesse as notícias sobre a caída de Salazar da cadeira e depois a tomada de posse de Marcello Caetano e do seu discurso. Ouvi isso quando estava em Lumbala, lá bem interior, junto à fronteira com a Zambia. Depois e ainda com mais destaque, recordo-me de ouvir a empolgante reportagem da chegada do homem à Lua. Ainda hoje não perdoo à guerra e ao regime de então o ter-me impedido de seguir em directo pela televisão tão importante acontecimento, como muitos milhões de pessoas o fizeram em todo o mundo.
Recordo-me que estava no Norte de Angola a cerca de 70/80 kms de Luanda, na Fazenda Lifune e, deitado na cama, de madrugada, ouvi empolgado toda a odisseia numa transmissão da Rádio Eclésia, de Luanda, que recebia a reportagem da Rádio Renascença, aqui de Lisboa, cujos locutores viam na tv e relatavam. Foi de tal maneira emocionante que nunca mais esqueci.
De manhã, quando cheguei junto aos soldados para o pequeno-almoço, lembro-me que lhes contei o que tinha ocorrido nessa madrugada e alguns deles não acreditaram no feito. Acharam que era aldrabice dos americanos…
Sendo estas algumas das minhas ligações/recordações com a Rádio, não são todavia as únicas… Não são, não!... Tenho algo ainda bem especial da minha juventude, que nunca desvendei – nem os meus pais alguma vez souberam!... – mas, como o texto já vai extenso, ficará para uma próxima oportunidade.
Algo que, a concretizar-se naquela data, bem poderia ter alterado todo o meu percurso de vida… Daqui a uns dias conto aqui...