quarta-feira, 24 de agosto de 2016

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

TIA BEATRIZ - QUEBROU-SE O ÚLTIMO LAÇO...


Hoje, uma ida, dolorosa e triste ao Chouto, para acompanhar a Tia Beatriz, falecida ontem na Casa de Repouso de Idosos onde estava internada na margem sul, à sua última morada no cemitério da nossa aldeia.

Fina-se assim o último e derradeiro laço familiar materno directo que me ligava à minha vida e à minha existência. (Do lado paterno, igualmente em laços directos, há muito se foram…)


Tinha pela Tia Beatriz e, logicamente, pelo seu marido Tio Chico, grandes e inesquecíveis laços de afinidade e muito estima e disso dei conta aqui no Blogue na data do falecimento do Tio Chico mas acho que ficou hoje sepultado no Chouto mais um bom pedaço do meu ser...

Silenciosamente assisti ao funeral…  Silenciosamente vi o caixão descer na sepultura e ser coberto pelos torrões rudes e secos… Nunca faço choro ou alarido… Nesses momentos só sei expressar-me assim… Silenciosamente, recolhido no meu ser, é como gosto de estar… Sentindo, com verdade e dor, a partida física de alguém bem querido…

A amiga Tia Beatriz viu-me nascer, ajudou-me a crescer e a criar e sei que também ela tinha por mim muita, muita estima e grande amor! Tive, ao longo das nossas vidas, inequívocas e inesquecíveis provas disso mesmo! Dedicação, carinho e amor que jamais esquecerei!

Tenho registos fotográficos, de vídeos e, até muito mais velhos ainda, registos em áudio de diálogos belíssimos de carinho e afinidade que guardo com verdadeira religiosidade e de que não pretendo desfazer-me mas, hoje, aqui, quero apenas recordar, repescando uma velha página deste meu blogue, datada de 2004, quando Portugal estava em força no futebol no Euro aqui disputado e quando o seleccionador Scolari  tinha lançado a famosa ideia de todos hastearmos nas casas a nossa bandeira…
 
Estive com a Tia Beatriz e o Tio Chico – quase sempre os víamos juntos! – naquela data na Feira do Chouto e acho o dialogo que travamos delicioso de carinho, educação e inocência.

Deixo aí a página do Blogue onde descrevo a situação e uma foto que dias depois registei na frente da sua casa, já com a Bandeira Nacional hasteada. Bandeira que a Hortense, depois daquela seu expresso desejo, fez questão de lhe enviar pelo correio e que ela logo pediu ao marido que a hasteasse na frente do pátio.

Um encanto, a doce e amiga Tia Beatriz que me deixa muitas, muitas e muitas saudades!

Que descanse na paz que bem merece!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

PROF. MONIZ PEREIRA - PARTIU UM SENHOR...

Final do dia muito triste o de ontem com a bruta e fria notícia da morte do prof. Mário Moniz Pereira.

É verdade que já tinha 95 anos de idade e também adivinhavamos que a sua saúde seria algo precária mas, como sabemos, a morte de alguém que estimamos sempre na hora nos surpreende.

Um homem íntegro e ímpar na vida e sobretudo no atletismo e no desporto português, a ele ficamos a dever os vários campeões olímpicos e mundiais que fabricou no seu Sporting e que doou ao nosso país com brilhantes e inesquecíveis comportamentos em tantas provas nacionais e internacionais!

“Senhor atletismo” e “fazedor de campeões” lhe chamaram e, em boa verdade, os títulos estão bem aplicados.

Saíram das suas mãos campeões de atletismo como Manuel de Oliveira, Aniceto Simões, Armando Aldegalega, Carlos Lopes, Fernando Mamede, os irmãos Castros e, tantos, tantos outros que não atingiram tal estrelado mas tiveram comportamento brilhante nas pistas portuguesas e internacionais em muitas e diversas ocasiões.

Para além disto o prof. Moniz Pereira foi um mestre de elevadíssimo valor não só neste campo mas igualmente no campo musical. Criou canções e musicas para Amália e muitos outros artistas nacionais que ainda hoje são recordadas e famosas. Era, efectivamente, um homem de rara sensibilidade!

Mas tem uma faceta da vida deste nosso professor de que sou testemunha e que aqui quero e devo registar por a mesma demonstrar bem a sua integridade e a sua honestidade de procedimentos que sabemos ser de toda uma vida que dedicou ao atletismo e ao Sporting Clube de Portugal. Acho que devo contar, porque acho que é sempre bom sabermos e conhecermos com quem convivemos.

Tentando ser conciso, conto, então:
Estavamos em 1984 no mês de Setembro e o país e naturalmente o Sporting e Moniz Pereira ainda festejavam o saboroso e inédito triunfo de Carlos Lopes na Maratona de Los Angeles no mês anterior. O ambiente era de euforia e logicamente o Sporting tentava reforçar cada vez mais a sua hegemonia nacional no confronto directo com o rival Benfica.
Na data eu tinha na Chamusca – e tenho ainda, felizmente! – um jovem afilhado de 18 anos (a quem infelizmente nunca dispensei a atenção merecida… Mas isso são contas doutro “rosário” pessoal que ele conhece bem e que um dia deverei aqui abordar …) que se destacava com muito êxito no atletismo, primeiro como Juvenil e nessa data já na categoria de Júnior, como Campeão Nacional em diversas categorias que praticava. Mas o Vítor Malaquias, de seu nome, sobressaía sobretudo no Salto em Altura, de que era Campeão Nacional no seu escalão!

Acontece então que o seu treinador, sendo benfiquista e conhecendo o valor do atleta, o tenta colocar no clube do seu coração.

Eu sou alertado para a situação – já não me recordo bem por quem… - e, de imediato, contacto o Vítor e o pai Chico Pedro com quem tinha e tenho excelente relacionamento e falo-lhes na hipótese de ouvirmos o interesse do nosso Sporting (eu sabia que tanto o Vítor quanto o pai eram grandes adeptos do clube de Alvalade) na contratação do jovem Vítor.

Lembro-me que ficaram admirados com a minha sugestão – talvez não acreditassem… - mas deram-me “carta-branca” para avançar.

Abordei então com brevidade o professor Moniz Pereira que era a alma forte do atletismo leonino, numa abordagem que me foi fácil, não só porque ele era pessoa extremamente afável e acessível, mas também porque lhe falei da minha “costela” leonina por influência do meu padrinho António Cerqueira, entretanto falecido, durante muitos anos dirigente da casa e também da minha madrinha Ricardina que, na data, ainda era viva e por vezes frequentava Alvalade e que ele bem conhecia. Isso também facilitou o contacto, acho…

O professor conhecia de nome, muito bem, o jovem Vítor Malaquias e logo se manifestou interessado no contacto ficando ali acertado que, para evitar mais deslocações do Vítor e do pai a Lisboa, no dia que tivessem marcada a entrevista no Benfica, viriam um pouco mais cedo para Lisboa e passariam por Alvalade para falarem com ele. E assim aconteceu…

No dia aprazado o Vítor, o pai Chico Pedro e eu estávamos à porta do velhinho Estádio de Alvalade onde fomos recebidos muito bem pelo nosso professor no seu gabinete.

A entrevista decorreu muito bem, como seria de esperar e recordo-me que o que mais me admirou de imediato foi como Moniz Pereira conhecia de memória, sem consultar qualquer apontamento, todas as marcas do Vítor Malaquias nas diversas disciplinas de atletismo que praticava. Se a memória não me falha, só tinha dúvida numa qualquer que pediu ao Vítor para o esclarecer… Confesso que fiquei admirado!

O professor manifestou todo o interesse no ingresso do atleta no Sporting, apresentou-lhe as condições que o clube lhe poderia oferecer (pagamento de deslocações, alojamento e equipamentos e ainda um subsídio que, todavia, que me lembre, não quantificou ali. Eu não me recordo que ele tenha referido o seu valor… Um dia deste hei-de perguntar ao Vítor ou ao Chico…)

E que aconteceu depois? Bem, aí o meu maior espanto, num espanto que atesta bem a honestidade de processos e o desportivismo de Moniz Pereira, um verdadeiro senhor, com todas as letras!...

Quando seria de esperar que colocasse à frente do atleta e do pai um contrato para assinarem (na época, a disputa e o “roubo” de atletas entre Sporting e Benfica e vice- versa era o “pão nosso de cada dia”…) Moniz Pereira remata assim:
“Ouviram as condições do Sporting. Vão à entrevista com o Benfica, ouçam o que eles vos oferecem e depois façam a vossa opção. O Sporting está interessado mas devem ouvir o Benfica porque a ele vêm destinados.”

Assim, desta maneira frontal, honesta e 100% desportiva, procedeu o grande prof. Mário Moniz Pereira! Um grande senhor! Nunca mais esqueci esta sua decisão!

Resta acrescentar que o Vítor e o Chico foram à entrevista no Benfica – eu aí já não os acompanhei, como é óbvio… - onde creio que também esteve o seu treinador da Chamusca - e regressaram a Alvalade onde assinaram um contrato e o campeão Vítor Malaquias passou a ser atleta do Sporting Clube de Portugal!

(Para além da lógica imagem do já saudoso prof. Moniz Pereira, deixo também uns recortes do  “Jornal da Chamusca” da época onde a notícia da transferência é dada em 1ª página e onde Vítor Malaquias dá conta da minha influência no seu inesperado “desvio” da Luz para Alvalade. Fiquei satisfeito e feliz com o sucesso da minha intervenção no caso, claro! E não era de ficar?...)