segunda-feira, 22 de outubro de 2012

EFEMÉRIDE COM 45 ANOS!


Aconteceu exactamente no dia 22 de Outubro de 1967, fazendo portanto hoje 45 anos, que ocorreu o meu desembarque em Luanda para participar activa e arriscadamente na guerra de guerrilha que então ali existia.

A viajem fora algo atribulada e difícil, sobretudo para os soldados que sofreram uma intoxicação alimentar por algo menos próprio que lhe forneceram na alimentação e que forçou umas largas centenas deles a passarem 2 ou 3 dias particularmente difíceis. Chegou mesmo a pensar-se em atracar na Guiné para tentar resolver a situação mas, felizmente, depois e talvez por serem rapazes novos, os seus organismos por si próprios encarregaram-se de trazer melhoras e solucionar o grave caso. Mas a coisa chegou a estar feia…

Depois, foi então o desembarque e a dura e demorada viajem por terra para o leste angolano onde se iniciou a comissão – como então se chamava ao tempo que permanecíamos na guerra – que teve início na zona de Lumbala, no saliente do Cazombo, bem perto da fronteira com a o Zambia e terminou passados mais de dois anos já no Norte de Angola, na zona do Caxito, bem perto de Luanda.

Foram no total 26 meses de dura e por vezes arriscada vida, com alguns momentos particularmente difíceis, nos quais incluo duas situações debaixo de fogo inimigo em que, sobretudo na 1ª, exactamente dois meses e dois dias depois do desembarque (noite do dia de Natal de 67), vi a situação bem complicada.

A coisa passou-se, as baixas na minha Companhia e no Batalhão não foram tantas quanto temíamos no início mas não deixei de passar por “elas” e de assistir mesmo a casos bem graves e dramáticos. Lembro-me de, por exemplo, porque muito me impressionou, ver o cadáver de um jovem tenente fuzileiro do agrupamento que connosco do exército estava logo nos primeiros meses no destacamento do Chilombo e que era uma tropa particularmente bem preparada e destemida, com um buraco bem no centro da testa, de uma bala que por ali entrou e saiu na nuca por trás. Impressionante! Os guerrilheiros – então por nós chamados de “turras”, diminutivo de “terroristas” – tinham por hábito “flagelar” com alguns tiros os botes dos fuzileiros que patrulhavam as águas do Rio Zambeze que passava mesmo ali ao lado e já sabiam que os fuzos de imediato avançavam para as margens para responderem aos ataques. No caso da morte deste tenente foi só calcular o local mais à frente onde o bote atracaria e, de arma apoiada no tronco de uma árvore, mirar e disparar certeiramente. Para infelicidade do nosso companheiro foi mesmo no centro da testa… Não mais esqueci…

Não ficou por lá esta minha carcaça mas muitas e muitas mortes por lá sentiram os militares portugueses nos 13 anos que duraram as guerras em Angola, Guiné e Moçambique.

E agora, olhando para trás penso, como certamente muitos dos outros que por lá passaram, no proveito desse sacrifício e desse tempo perdido… Passados todas essas vicissitudes e dramas, largamos de “mãos a abanar” sem o mínimo proveito e até sem o mínimo acordo que defendesse os nossos interesses e bens ao longo dos anos criados e mantidos. Tivemos ainda de integrar na nossa sociedade meio milhão de colonos, a que chamamos então de “retornados” e que, felizmente, não obstante as suas muitas mágoas e preocupações, tiveram um comportamento exemplar e, com uma força de vontade impressionante, refizeram as suas vidas e integraram-se tão bem quanto puderam.

E agora, e agora, numa curiosa ironia do destino e passados estes anos, assistimos a esta cena que a todos impressiona de vermos os angolanos a "colonizarem" Portugal comprando tudo, tudo o que mexe nesta terra… Com o dinheiro, ou com o nome de Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, dirigente máximo de todo aquele imenso e rico território, firmas, imóveis e tudo o que vale, está passando para a sua posse e ainda de mais uns quantos angolanos que se passeiam em brutos automóveis topo de gama e investem em luxuosos imóveis a que os portugueses não consegue chegar pelo seu elevado preço.

Meses atrás o semanário "Expresso" publicou um interessante trabalho sobre o assunto e deixo aí o cartoon que o acompanhava, com Isabel dos Santos carregando as suas muitas “prendas”… Isto, naquela altura porque, de então par cá, outras se lhe somaram… E outras se seguirão… Pela certa…