quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

GUERRA COLONIAL - AS LAVADEIRAS


Nos muitos e diversificados textos que têm sido publicados sobre a Guerra Colonial e que tenho lido, noto que apenas em muito poucos deles é feita referência ao papel das chamadas “lavadeiras” no contexto da guerra e dos seus envolventes prestadores de serviços e, todavia, o desempenho destas personagens no teatro da guerra não foi assim tão irrelevante quanto se possa imaginar. Não foi, não.

Falando de “lavadeiras” devemos considerar as duas espécies que ali tinhamos em serviço: aquelas – como as que tive nos diversos locais por onde andei destacado da sede da Companhia no Leste e no Norte de Angola – que apenas nos cuidavam da roupa (lavar e passar) e… as “outras”… As “outras”, em boa verdade, são exactamente as que viram o seu nome oficializado como… “lavadeiras”. Estas então conhecidas “lavadeiras” não cuidavam apenas da roupa do militar mas também do… corpo… Prestavam-lhe, isso mesmo: favores sexuais. 

Eram então “lavadeiras para todo o serviço” e realmente muitos militares as contratavam com essa dupla missão e havia até uns quantos que tinham com as mesmas um relacionamento particular e por isso personalizado. O militar “sustentava” a senhora com uma acertada “avença”, ela cuidava-lhe da roupa e ele tinha a garantia – não tão certa quanto isso mas… já lá vamos mais à frente – que os seus favores sexuais eram exclusivos do “marido”. (“Marido” e “esposa” era como mutuamente se relacionavam com evidente ironia, eheh). 

Uns quantos soldados e cabos e, sobretudo, vários furrieis e escassos oficias, porque estavam quase sempre permanentes no quartel junto ao aldeamento, tinham estas “esposas” e optavam por isso para terem a sua actividade sexual com algumas garantias de não serem atingidos por uma eventual doença venérea já que mantinham as “companheiras” sempre devidamente limpas e cuidadas, coisa que as experiências fortuitas não garantiam. (Num aparte refiro que as “esposas” dos enfermeiros, por estarem sempre mais “cuidadas” eram as mais pretendidas às travessuras “extra-conjugais”… eheh)

Todavia, para quem andava destacado por aqui e por ali como eu e meu pessoal, esse relacionamento privado não era viável porque, com diz o ditado; quem não aparece...eheh E assim seria impossível controlar os “passos” da parceira...

E havia que controlar porque os que as tinham reservadas não estavam tão certos disso não. Na verdade, não era tão invulgar quanto se possa imaginar, o “esposo” chegar à porta do “quimbo” (denominação de tabanca, no Leste de Angola) e encontrar a porta fechada porque a senhora estava cravando-lhe os… chifres… eheh. Em algumas ocasiões chegava mesmo a ouvir-se alguns… tirinhos… Atirados pelo "chifrado" para o ar, para assustar o intruso… eheh. (Mas que raio de coisa eu agora haveria de lembrar-me!…)

Mas, eu penso e não deverei estar muito errado, que as “lavadeiras”, ao mesmo tempo que prestaram um importante papel no teatro da guerra, foram também umas grandes vitimas desse mesmo conflito…. Porquê? 

Como bem sabemos as “lavadeiras”, sobretudo as que prestavam favores sexuais, ficavam muitas vezes grávidas dos militares e, com a partida destes para locais desconhecidos e sem a mais pequena referência aos pais das crianças elas - sabe-se lá de que maneira… -, tiveram de criar os filhos “café com leite” e, pior, muito pior, com o fim da guerra e a tomada do poder pelos homens da guerrilha, certamente foram referenciadas como tendo colaborado com os portugueses e foi-lhes apontado o dedo e… a mira e o gatilho da metralhadora.

É isso... Acho que não deverão ter vivido muito tempo após as independências...

Talvez tão certo como eu estar a carregar nestas teclas do computador...

(Foto anexa retirada da net)

2 comentários:

Artur Oliveira disse...

Victor Azedo desculpo-me se estiver errado, tive a ler com atenção todo o seu comentário se é isso que se pode chamar, sobre a guerra colunial, no final tem
a data, 2/14/2019..... ás 04:26:00 da tarde, é o meu reparo, me desculpe se estiver a errar...Um ABRAÇO.

Victor Azevedo disse...

Caro amigo Artur, obrigado pela sua visita e pelo reparo!
Sobre o mesmo devo esclarecê-lo que a referência à data e hora em que os comentários são publicados não são de minha responsabilidade mas sim por formatação do hospedeiro do blogue e que escolheu essa apresentação desses elementos.
A data não está errada, só é apresentada numa sequência em que a indicação do mês surge primeiro e o respectivo dia logo a seguir.
Espero que tenha ficado esclarecido.
Desejo que volte mais vezes aqui, que comente se assim entender e deixo um abraço!
PS - Na janela da coluna da esquerda do blogue, com a indicação de "Pesquise no blogue" pode escrever o assunto ou palavra que deseja consultar. Por exemplo: Chouto"