domingo, 11 de outubro de 2009

HÁ 42 ANOS, A GUERRA!

Aconteceu exactamente no dia 11 de Outubro de 1967, há 42 anos, a minha partida para o Ultramar, como então se dizia e mais propriamente para Angola e a viagem foi feita no então Paquete Niassa.

Atracado o Niassa no cais de S. Apolónia, embarcaram nele uns quantos milhares de militares, no conjunto de vários Batalhões onde se incluía o meu.

Lembro-me bem, depois do desatracar e da progressão do barco Rio Tejo abaixo, de ver Lisboa cada vez mais distante e mais pequenina e guardo ainda na memória a visão da cúpula da Igreja de S. Engrácia/Panteão Nacional.

O momento era também de alguma angústia e recordo-me bem de a sentir já que, como é evidente ia a caminho da guerra, do desconhecido, do imprevisto e, porque não dizê-lo, do perigo. E, na verdade, dois meses e meio depois – precisamente na noite de Natal… - este jovenzinho de 23 anos, ingénuo e muito desconhecedor da guerra e dos seus perigos, estava a “ouvi-las” cantar e cruzar o céu, a poucos metros da sua cabeça, no inóspito e difícil leste angolano.

Mas, da viagem de 11 dias no Niassa também guardo uma desagradável ocorrência quando, por volta dos 4/5 dias no mar os soldados, em número muito elevado, apanharam uma fortíssima intoxicação alimentar, facto que gerou algum pânico a bordo. Segundo constou, os responsáveis chegaram mesmo a ponderar a hipótese de rumarmos à Guiné para aí se resolver o problema. Não foi todavia necessário mas lembro-me bem da situação com os soldados deitados pelos muitos corredores que davam acesso ás instalações onde sargentos e oficiais pernoitavam, dado que as condições onde eles viajavam, nos porões do navio, eram mais próprias para gado e cargas do que para humanos.

Os militares de alta patente responsáveis pela expedição, fizeram então constar que a indisposição dos soldados foi provocada pela passagem do Equador e as suas variações climatéricas, como se isso só atingisse os pobres dos soldados… Coisas do antigamente, do “tempo da outra senhora”…

 A verdade é que aos soldados era fornecida alimentação de deficiente qualidade a bordo enquanto nós Oficiais (em 1ª Classe) e Sargentos - na qual eu, como Furriel, me incluía – (em Turística) tínhamos excelentes instalações e óptima alimentação.

Os soldados viajavam pessimamente no porão do barco de forma e condições mais próprias para gado. Coisas e realidades que talvez hoje não fossem aceites…

Para sargentos e oficiais tudo era diferente, para muito melhor e para além das excelentes condições das instalações (viajávamos em cabines de 4 pessoas), utilizávamos ainda o restaurante de magnífica qualidade! Como prova disso deixo aí a Ementa do jantar de despedida da viagem. No dia seguinte desembarcaríamos em Luanda…


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