domingo, 5 de março de 2006

VAI UMA MEDALHINHA ?...


Creio que em tempos, aqui ou numa qualquer publicação, já contei esta história mas, a febre com que Jorge Sampaio, a horas de sair de Belém, resolveu atribuir medalhas e condecorações, suscita-me recordar o episódio.

Estava na guerra em Angola, nos finais de 1969 e prestes a terminar a “Comissão de Serviço” (era assim que se chamava à nossa permanência na guerra do então Ultramar). Aprestando-me então para findar a Comissão fui convidado pelo meu superior hierárquico a escolher entre os homens sob o meu comando uns quantos (até me foi sugerido o número) para que lhes fossem atribuídos louvores que eu redigiria. Bem argumentei que eram todos bons rapazes e não via motivos de destaque que justificassem esse reconhecimento mas, de nada serviu... Houve insistência, com o argumento que todos os Batalhões quando findavam as suas missões procediam a esse costume e nós não poderíamos fugir ao hábito. E foi assim que, com forte injustiça para os não escolhidos, lá elegi o número sugerido de militares, tendo eu próprio redigido igual número de louvores com que foram premiados aqueles rapazes... E foi assim, com este sistema, naturalmente, que também eu “levei” um louvor que ainda para aí guardo num caixa... de camisas.

Pois então, esta febre de medalhas, medalhinhas, condecorações e condecoraçãozinhas que o nosso Presidente da República resolveu atribuir na hora de saída do cadeirão de Belém, mais não é que exactamente o que comigo se passou em Angola...

Está a ser medalhado “tudo o que mexe”, num número absolutamente exagerado e verdadeiramente incrível, justificando-se Sampaio com o argumento que, não obstante os milhares já condecorados, as atribuições ainda são inferiores às realizadas por Eanes e Soares que o precederam no lugar. Pois sim, mas é mesmo pelo facto dos anteriores presidentes também terem exagerado que, agora, já medalhada toda a gente, se vulgarizou a cena, só restante pouco mais que eu e aqui o meu vizinho do lado para receber a medalha...

Mas, na verdade, já pensei que ainda surgirá a minha vez de pendurar aqui ao pescoço a medalhinha de “qualquer coisa”...

Hoje comecei a pensar que ainda vou ter uma... E, então porque não ?...

Pensando bem: penteio-me com risco ao lado e ainda não sou careca; gosto de cozido à portuguesa, caldeirada e feijoada; delicio-me com um bom tintinho; gosto muito de tremoços e de amendoins; aprecio um bom fado e também não enjeito um bom rancho folclórico; também adoro uma boa jogatana de bola e, por fim, tenho a barriguinha um pouco redondinha e crescida mas nada que uma dieta não resolva...
Ah ! Só vejo um contra que talvez possa dificultar a escolha: a patroa diz que ressono !... É !...Parece que ressono, na verdade... Bom, mas li há poucos dias que uma simples cirurgia resolve a problema e, portanto, poderei também debelar o mal para poder ser escolhido na próxima carrada de medalhados. Valeu ?...

Tenho esperança...

Se não for com Sampaio... talvez com Cavaco...


1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Vitor,
Espero sinceramente, que um dia destes, o tio Cavaco se lembre de si.
É por estas e outras, que cada vez mais defendo a monarquia, pois pelo menos só teriamos uma familia para sustentar. E a avaliar por um trabalho efectuado por uma revista bastante credivel da nossa Praça (Exame), o gasto que temos com a nossa querida Republica e os nuestros Hermanos com o seu amado Rei, a diferença não era singificativa, e não estavam contabilizados os custos de um campanha eleitoral. Dá que pensar, não?
Podemos ainda, avaliar o nível de vida dos países regidos por monarquias parlamentares (Espanha, Bélgica, Suécia, etc...) e sonhar que um dia talvez consigamos viver como estes nossos concidadão Europeus.
Um Abraço
Paulo Afonso