Quis o acaso que, hoje, já no começo do dia (pelas 2,30 h), quando se completam 54 anos sobre a minha partida para a guerra, terminasse a leitura do livro “Cartas da Guerra”, de António Lobo Antunes que li numa penada, tal o interesse que me despertou.
E li numa penada porque, ao contrário de outras escritas dele, que li e que não me entusiasmaram, esta, tratando-se da publicação em livro, feita pelas suas filhas satisfazendo uma vontade da sua falecida mãe para que isso assim acontecesse depois da sua morte, contendo as cartas (aerogramas) escritas pelo escritor à então sua recente esposa, grávida na Metrópole, onde Lobo Antunes, (embora reduzindo a menos de um décimo os dramas e dificuldades vividas na guerra, como aliás também eu o fazia na correspondência que redigia…) descreve com realismo e saber a guerra vivida no leste angolano.
Li com vivo interesse as suas
narrações, não só pela qualidade da escrita – excelente! - como também porque
menciona lugares, paisagens, situações, costumes dos nativos, povoações,
viagens e picadas, num rol de referências que me são familiares porque, embora
3 anos antes, também estive naquele longínquo leste angolano tendo ali
permanecido mais de um ano a escassos 300/400 kms (o que para Angola é já ali…)
na zona do Cazombo/Lumbala (Lobo Antunes sofreu as “passas do Algarve” um pouco
a sul na área de Gago Coutinho onde, já no meu tempo, sabíamos haver “porrada
de criar bicho”... ).
Foram lidas num sopro as mais
de 400 páginas da edição e no final fiquei com pena de chegar à última tão
depressa...
Belíssimo testemunho de uma
vivência pessoal e idêntica a de muitos outros milhares de jovens portugueses
que, na flor da vida, sofreram e em muitos casos perderam o melhor de si mesmos
– a vida – por uma inglória causa que desde a 1ª hora se sentia estar perdida
para que outros – uma escassíssima minoria de grandes proprietários de
gigantescas fazendas com milhões de rendimento – abocanhassem mais e mais
fortuna…
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