terça-feira, 1 de janeiro de 2019

JÁ "FUI" CHINCHILA


NA MORTE DE "CHICO RITA", MAIS UMA VELHARIA...


Vivíamos os primeiros anos da década de sessenta do século passado e o meu pai, apaixonado criador de animais em cativeiro (criou, conviveu, deu e vendeu desde vacas a pequenos bicos de lacre, passando por coelhos, galinhas, pavões, faisões, periquitos e dezenas de muitas outras espécies e variedades) nunca tendo conhecido pessoa que mais gostasse de animais e que sentisse tão evidente pena quando tinha de, por venda, dádiva e sobretudo morte para nosso consumo, de alguns se desfazer. (Ainda guardo na memória as suas penalizadas expressões quando tinha de vender uma vaca leiteira ou matar um porco, um pato, uma galinha ou até uma cria de pombo para nosso consumo ou mesmo para venda ao público, dado que chegou a explorar um pequeno talho a que na data se chamava "salsicharia"…)

Foi então nesse início dos anos 60 que, através do “Diário de Notícias” que eu recebia diariamente por ser seu correspondente na aldeia e que meu pai lia de uma ponta à outra, que a sua curiosidade despertou para uns artigos e sobretudo uns anúncios de uma nova exploração que estava a iniciar-se em Portugal: a criação de chinchilas em cativeiro. E daí a pensar e decidir iniciar essa nova produção, foi um ápice…


Para além de ainda muito pouco se conhecer sobre as tecnicas de manutenção e reprodução, os bichos ainda eram carotes, havia que comprar as jaulas, rações, etc e por isso tinha que ter-se cuidado com o investimento e, pensando nisso José Azevedo tratou de entusiasmar dois amigos a entrar na aventura e foi nisso bem sucedido. 

Os eleitos e companheiros da sociedade, que eu titulei de "Pobrichila" , foram os seus muito amigos Acácio Varela, que tinha as instalações adequadas porque os animais requeriam sossego e tranquilidade e “Chico Rita”, Francisco Neves de seu nome de baptismo que sem função destinada para o efeito se limitou a entrar com a sua quota no capital investido. Meu pai era o encarregado da manutenção e conservação com os muitos cuidados que a reprodução exigia, cada um entrou com a sua parte no capital indispensável e a aventura avançou.

Durou alguns anos a “brincadeira” e aconteceram entretanto várias reproduções em ninhadas quase sempre de dois filhotes: A exploração funcionava numa dependência junto à alfaiataria de Mestre Acácio na vivenda que vemos na foto junta em 1º plano e, às tantas, a coisa começou mesmo a constituir atracção turística muito embora os animais não apreciassem muito esses “cumprimentos” porque de preferência queriam  solidão, pouca luz e mesmo a falta dela.

Existiu durante alguns anos o negócio, os sócios não tiveram prejuízo no seu investimento (o escoamento/venda das crias estava garantido por compra dos vendedores dos progenitores) mas teve uma existência não muito longa porque os animais eram muito atreitos a doenças e na época os conhecimentos da sua cultura eram escassos e por isso aconteciam algumas mortes que eram sinónimo de lamento e… prejuízo. Mas era gratificante ver nascer os bichinhos e depois vê-los crescer e evoluir e muito mais ainda tocar-lhes porque a sua pelagem era por demais aveludada e macia. Fofinhos, fofinhos!

Este escriba cumpria então o seu serviço militar obrigatório e, entusiasmado também com a novel  exploração dos simpáticos animais, ia falando disso aos colegas da tropa e, daí a ser alcunhado de “chinchila”, foi coisa de um dia para o outro. Em vez de Azevedo, passei a ser o… "chinchila". E, confesso, até achava graça à alcunha.

Lembrei de tudo isto quando neste Natal tive notícia do falecimento do velho amigo “Chico Rita”, um dos sócios da sociedade de amigos das chinchilas, um “Chico Rita” então rapaz dos seus 30 e poucos anos, muito educado, simples, bom e que só fazia amigos. Curiosamente veio agora a falecer no mesmo dia do seu sócio de chinchilas José Azevedo passados foram exactamente 40 anos e lembrei-me também que na ocasião do 1º aniversário da criação da exploração das chinchilas no Chouto dê conta disso no semanário “Correio do Ribatejo” para o qual escrevia na data e de que junto o seu recorte.

Velharias... Velharias, como eu lhes chamo quando estas coisas encontro e me recordo dos bons anos da minha juventude em que vivia com felicidade entre esta gente querida e amiga, infelizmente, infelizmente já desaparecida…

É a chamada “lei da vida” sabemos mas é sempre com dor e saudade que se lembra gente honesta e boa que nos fez crescer e viver.

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