A CIRURGIA E OS CUIDADOS INTERMÉDIOS
Um domingo internado num hospital não será nunca um bom domingo mas assim teve hoje de ser e, francamente, passou-se como outro qualquer dia de semana. As visitas, as conversas com os companheiros (poucos) do quarto, os tratamentos e medicações habituais e o domingo está a chegar ao fim.
Mas hoje quero narrar como vivi as horas antes e após a cirurgia e os consequentes dias nos Serviços Intermédios, onde permaneci mais de cinco dias. Permaneci e bem contrariado… Mas, disso falarei um pouquinho mais à frente.
Como é natural lembro-me bem das horas e dos minutos que antecederam a operação, dia 15.
Embora estivesse prevista para depois das 17 horas, sendo a última do dia, mandaram-me que estivesse preparado a partir das 8 porque poderia haver alteração ao programado e foi assim que a essa hora já estava aqui pela enfermaria envergando apenas uma leve capa azul mas na convicção que assim permaneceria até ao fim da tarde…
Puro engano: por volta das 10,30 horas mandaram-me avançar para o “Bloco” e aí seguiu o Victor de cama de rodas a caminho da sua aventura…
Lembro-me dos corredores, do elevador, da entrada na Sala do Bloco Operatório e até de ter por cima 3 discos bem grandes cheios de lâmpadas. Recordo-me de alguém entabular pequena conversa comigo e, depois, rematar: "agora vai dormir um bocadinho". E… aí, “apaguei”…
Viria depois a saber pelo cirurgião que o “apagão” demorou 4 horinhas!...
Recordo-me de às tantas ouvir, dito não sei por quem: “Já está! Correu tudo bem!”
Depois e, quanto tempo depois não sei, abri os olhos, acordei e vi o Nuno e depois a Tense e a Joana e, aí, comecei a gemer e a queixar-me. Sentia dores e um danado de um mal-estar que nunca antes havia experimentado… Dizem-me que pedi o computador e… os chinelos.(???) Eh!Eh! Administraram-me qualquer medicamento, a dor passou e, até hoje, não mais voltou.
Depois começou um período chato: tinha uns níveis baixos (albumina) e tive que permanecer naqueles Serviços Intermédios durante mais de 5 dias e foi demasiado contrariado que ali estive.
Eu tinha estado na enfermaria na véspera da operação e sabia como ali era um “paraíso” comparado com aquele “inferno”.
Nada a dizer em desabono do trato das enfermeiras e pessoal auxiliar comigo ou com os meus 3 outros companheiros de “odisseia”, que foi sempre muito bom mas, elas entre elas, de manhã e à noite, fora das horas das visitas, era uma gritaria e uma barulheira dos diabos! “Ó Mónica! Ó Ana!". Sempre aos gritos e até entoando as canções que passavam num transístor sempre com elevado som. Uma falta de respeito incrível pelos doentes em condições tão difíceis ali internados. Um desastre completo!

Repito: Um verdadeiro desastre!
Por tudo isto e porque sabia como era aqui na enfermaria, detestei aqueles dias e estava ansioso pela saída dali. Creio que milhares de vezes olhei aqueles 5 dias para aquele relógio que se pode ver nessa foto que aqui deixo tirada pelo Nuno a meu pedido, na parede em frente à minha cama! Olhava, olhava e não via o ponteiro grande dos minutos a mexer-se. Que pachorrento!... Danado de mandrião!
Até que, finalmente, na segunda-feira de manhã, um médico que me habituara a ver de costas, sentado na frente de um computador na ala do relógio mas que ainda não me havia dirigido qualquer palavra, me pergunta:
- Então e o doente da cama 12, sabe quem foi o seu operador?
- Sei! Respondi, informando-o.
- Oh, esse tem cá um mau feitio?!... – gracejou. E como foi para ele?
Respondi de novo informando-o ao que me retorquiu, ainda mais brincalhão:
- Esse ainda tem mais mau feitio que eu!
E depois informou-me:
- Sei as suas análises anteriores mas não sei as de hoje. Vou ver ao computador para ver se pode sair.
Voltou-me passada meia hora depois de eu olhar através do vidro dezenas de vezes, mais que ansioso, sempre vendo a sua figura sentado ao computador sem o ver levantar-se da cadeira com a pressa que eu desejava.
Mas eis que se levantou, deu a volta e dirigiu-se à minha cama… Eu nem respirava de ansiedade para o ouvir…
- O doente da cama 12 tem análises com números dum bebé recém-nascido!
Estendeu-me a mão num cumprimento bem apertado e deu as suas ordens ao pessoal! Muito simpático o senhor!
Aleluia! Ia sair, finalmente! Nunca imaginei ouvir num hospital palavras tão bonitas!
Eu odiara aquele ambiente! Estava farto! Fartíssimo! (Depois de mim chegou um meu companheiro de quarto, que só passou ali uma tarde e uma manhã e que se queixou do mesmo.)
Num hospital bom, com excelentes serviços e pessoal tão competente, ter aqueles Serviços Intermédios a funcionar assim, é uma nódoa!
A coisa já vai longa. Amanhã conto mais…
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