Aprestava-me para sair quando ouvi o característico e conhecido toque de piíaro do amolador…
Um amolador? Oh, que beleza! E que coisa tão rara nos nossos dias !... Não hesitei. Há muito que a navalhinha do queijo necessitava de ser afiada para que os cortes saíssem mais a gosto, de fatias bem fininhas... Peguei-a e desci a escada correndo, não fosse o nosso homem embora.

Tenho ali em casa mais umas facas da cozinha… – lembro…
- Vá buscá-las que eu espero. -diz-me.
Não hesito. Regresso a casa já com ela fisgada… Pego em três facas mas também na máquina fotográfica…
- Posso tirar-lhe uma fotografia? – pergunto, cortês.
- Pode. – responde de imediato.
Disparo a máquina duas ou três vezes perante os olhares gozões do merceeiro e do talhante e, agora, vejo que as fotos, de pouco vulgares, até um dia poderão merecer a aprovação dos vindouros… Amolador de rua é coisa já muito rara e, com toda a certeza, mais ano, menos ano, desaparece mesmo.
Voltemos ao nosso homem: O trabalhinho está quase pronto e o artista é de poucas falas…
- O senhor é aqui de perto? – pergunto, curioso.
- Não. Sou do Barreiro.
- Ehhh !!!... Do Barreiro para aqui, de bicicleta? – minha ingénua interrogação.
- Não. Trago-a na carrinha. Venho de carrinha.
Ora toma que é para não seres nabo e curioso!...
Quinze minutos decorridos. Trabalho executado. O cliente anjinho quer saber:
- Muito bem! Quanto devo?
- São quinze euros! – responde-me de imediato.
Três facas e uma navalha?...Quinze minutos... Meio incrédulo, não obstante, não vacilo. Puxo dos quinze euros e pago ao nosso amolador.
Ele segue, todo feliz, tocando o pífaro e eu fico pensando:
Há dias em que um amolador, amola mesmo…
Ou será que me cobrou a imagem, pelas fotos?...
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