terça-feira, 14 de junho de 2005

NA MORTE DE ÁLVARO CUNHAL



Ontem, com 91 anos, morreu Álvaro Cunhal . E, no dia anterior partira o general Vasco Gonçalves. Dois comunistas puros que em 1975 tentaram colocar esta terra debaixo do domínio da URSS e que quase levaram ao desencadear de uma guerra civil em Portugal. Cunhal, com um passado importantíssimo de combate aos regimes de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, que o fez passar muitos anos da sua vida nas cadeias da PIDE, em que aí se destacou a sua sensacional fuga do Forte de Peniche, nasceu comunista e morreu comunista, demonstrando convicções e vontade muito fortes, pelas quais lutou toda a sua vida. De destacar o importante facto de aí, nas cadeias, se ter formado em Direito, com a importante classificação de 19 valores, num máximo de 20 ! Vendo há anos e de consciência plena o desmoronar de todo o regime da União Soviética, a queda do Muro de Berlim e de todos os regimes de Leste, acredito que deve ter sentido uma particular dor e um grande sofrimento, uma vez que sempre acreditou naqueles sistemas políticos onde aliás viveu muitos anos e que por isso bem conhecia. Conhecia aquela miséria e desejava-a para a sua terra ? Coisa que me parece contraditória e que, confesso, não entendo bem… O seu passado antes do 25 de Abril foi valiosíssimo na luta contra a ditadura mas outro tanto já não poderei dizer após essa data onde, a vingar as suas ideias, com toda a certeza, não poderia estar aqui a escrever que discordei e discordo das políticas ideais que nos apontava como exemplares. Para além disso, o que se passou em 1975, em que Cunhal teve um importante papel e que acompanhei e vivi intensamente e em que a guerra civil esteve mesmo, mesmo à porta de todos nós, nunca teve, nem tem a minha aprovação. Isso não obsta a que reconheça ao homem Cunhal a sua coerência e a sua verticalidade, admirada e louvada por uns e criticada e vilipendiada por outros. 

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