quarta-feira, 6 de outubro de 2010

NOTÍCIA TRISTE

Hoje, logo de manhã, uma notícia triste: A “Vida Ribatejana” suspendeu a sua publicação o que, na realidade, nua e crua, quer dizer que acabou… Findou. Morreu. Mais uma instituição – sublinho: Instituição! – que sucumbiu, caiu e morreu, não suportando toda esta imensa crise económico/social que nos absorve, abafa e mata nos tempos que vivemos. Sinto particularmente esta morte porque foi na “Vida Ribatejana” que comecei a escrever – “escrever”, disse… Qual escrever?... – quando tinha apenas 15 anos de idade e Fausto Nunes Dias, fundador e director do jornal aceitou as minhas correspondências da minha aldeia natal, com as irreverências, anseios e reivindicações próprias de um rapaz “reguila” que tentava “guerrear” e contestar o poder local então instituído e... sem saber escrever, sem saber pensar devidamente, o que aquela gente da redacção me aturou… Lembro-me que na redacção do jornal davam então umas quantas voltas aos textos e lá publicavam o que lhes parecia melhor… Eu, no sábado seguinte, quando chegava o correio – na data tínhamos correio ao sábado – um luxo de antigamente!... – esperava pelo “Zé Matroco”, o homem que trazia a mala da Chamusca e procurava sofregamente o que me publicavam no jornal... Dá para imaginar ?...

Fica aí o cartão, de 13/8/1960, em frente e verso, onde Fausto Dias aceita a minha colaboração como correspondente do jornal "na importante e formosa freguesia que é o Chouto", relíquia que guardo com o justificado cuidado. Anos mais tarde convivi pessoalmente em Lisboa com Custódio Marques Montargil que, sob o pseudónimo de” Zé do Areal” muito escreveu na “Vida Ribatejana” sobre a Chamusca – ele tinha um estabelecimento na zona do Saldanha, em Lisboa e chegamos a almoçar ali, no Monte Carlo… – e recordo-me que apoiei-o francamente na sua inteligente iniciativa de atribuir o nome de Isidro dos Reis á Ponte da Chamusca para matar a “guerra” da denominação Ponte da Chamusca/Ponte da Golegã que em tempos existia. Zé do Areal lançou um “abaixo assinado” para atribuir á ponte o nome de Isidro dos reis e... a polémica acabou… Não mais se falou na… Ponte da Golegã… E como Isidro dos Reis era da Chamusca… Pois, agora, a “Vida Ribatejana”, depois de 93 anos de vida muito bonita, útil e valiosa em prol do Ribatejo, sua região e suas gentes, fechou as portas. Tudo o que ali se fez pelo Ribatejo e suas gentes acabou e, certamente, ninguém mais falará disso. Coisa do passado que, lamentavelmente, nada conta nos dias que correm… “Passa á frente!... Coisa velha não conta!...” – assim se entende, assim se pensa nos tempos malucos que se vivem. Estou triste! Muito triste! Acho até que morreu um pedaço de mim mesmo… Francamente.

3 comentários:

Maria Isabel Frescata Montargil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Isabel Frescata Montargil disse...

Terá acaso sido salva a biblioteca da "Vida Ribatejana"?
Custódio Marques Montargil era tio paterno de meu marido. Seria um enorme prazer ter acesso aos seus escritos sobre a Chamusca.
Até porque há sobrinhos-netos (e bisnetos) do "Zé do Areal"...
Muito grata por relembrar este episódio, pertencente à história da Chamusca.

Maria Isabel Frescata Montargil

Victor Azevedo disse...

Maria Isabel, não tenho elementos que me permitam responder à sua pergunta mas acredito como certo que haverá toda a colecção dos diversos anos de publicação do jornal, se não na Câmara, pelo menos nos proprietários que ficaram com o título. Eu tenho um ou outro número publicado, alguns com crónicas de "Zé do Areal" mas não são nada, considerando a sua vastíssima participação não só nas edições semanais como também nas revistas anuais, das quais também guardo algumas. Troquei entretanto com o nosso saudoso amigo vária correspondência que guardo em arquivo, bem como dois livros que publicou.