sexta-feira, 2 de abril de 2021

COMADRES E COMPADRES NOS "MEIOS-DIAS SANTOS"


Na voragem dos dias e dos meses diz-nos o calendário que estamos a instantes de celebrar a Páscoa e, mais exatamente hoje, temos aqui a “Sexta-feira Santa” que, vá lá saber porquê, mas a que certamente não serão alheios os aninhos que já vão carregando esta velha carcaça, faz-me recuar aos tempos de juventude na minha pequena aldeia – o meu Chouto natal - quando, tradicionalmente, nestes então denominados “Meios-dias Santos” rapazes e raparigas, de puberdade a rebentar, tinham por hábito juntar-se e jogarem o apreciado e saboroso jogo das “Comadres e Compadres”.

Se a memória não me falha acontecia isso nas tardes de sexta-feira quando a malta nova – eles, de sangue na guelra e nascente desejo, que já olhavam com verde interesse e admiração para elas e, elas, que, jovenzinhas de sainha travada ou rodada (dando pelo joelho!…) de olhar baixinho, discreto e simples, como convinha e era de bom tom a moça prendada e ajuizada da época – reunia-se no largo onde hoje temos erguido o Salão de Convívio, então chamado de “Largo da Junta” (imagem junta do local, numa foto da época) em pares previamente ordenados. Instalavam-se os pares criados, separados 15 ou 20 metros entre si – não convinha ficarem muito perto uns dos outros para que nalguns casos as conversas fossem mais reservadas… - e estendiam-se em circulo desde os então existentes sobreiros junto à Estrada Nacional à entrada da aldeia até perto da sede da Junta de Freguesia.

Uma moça, munida de um cinto, facultado por um rapaz, fazia de “padre” e a sua missão era visitar os pares perguntando à menina se estava bem casada: “Maria, estás bem casada?”.

Se acontecia a companhia do cavalheiro agradar à dama, a menina respondia que sim, que estava bem casada e a “padre” passava ao par seguinte.

Muitas vezes a moça respondia que não, que não estava bem casada e era-lhe então perguntado com quem queria casar? A perguntada escolhia dos outros “noivos” presentes no jogo o que desejava para si e aí acontecia a troca. Ambos os rapazes cruzavam-se e fugiam da “padre” e das consequências de levarem de castigo com o cinto mas, muitas vezes, propositadamente, deixavam-se apanhar para terem o saboroso gosto de agarrar a moça, sentir a sua pele macia e aveludada, o seu cheiro e a sua respiração e essa era umas das duas únicas ocasiões em que naquela época um rapaz tinha e sentia fisicamente com prazer nos seus braços uma moça. (A outra situação acontecia nos bailes.)

Instruído desde terra idade que “numa menina não se toca nem com uma flor!”, ao pobre rapaz daquele tempo restava-lhe imaginar o cheiro do corpo, o aveludado da pele das mãos, dos braços ou da cara da menina que apreciava, de que gostava e de quem queria maior aproximação e, nas “comadres e compadres” e nos bailes eram as únicas, as únicas hipóteses que tinha de tocar e sentir a moça.

Noutros tempos, noutros velhos e saudosos tempos, pudicamente, inocentemente e, verdade se diga, tristemente castrados nos seus desejos, os jovens de então, eles e elas, os homens e mulheres de hoje com 60, 70 anos, divertiam-se com estes joguinhos marotos é verdade mas, inocentes q.b. quando comparados com o que nos tempos actuais encontramos por aí nas praias, nos jardins, nos campos…

É isso: Nascemos cedo de mais...

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