domingo, 19 de janeiro de 2020

UMA VELHA FOTO E UM DETALHE...


Chegou há dias ao meu Grupo da net CHOUTO – NOSSA TERRA, NOSSA GENTE uma velha fotografia que aqui deixo e que nos mostra os rapazes da minha freguesia aquando da sua Inspecção Militar – as “sortes”, como então se dizia – em Julho de 1961.

Olho para ela, reconheço um ou outro velho amigo de juventude, sendo que uns quantos já não pertencem ao número dos vivos e reparo num detalhe, num pequeno detalhe que para muitos talvez passe despercebido mas que, todavia, a mim, parece-me curioso se não mesmo importante, dado que por ele poderemos entender melhor os tempos político/sociais que vivíamos naquela época.

Estávamos politicamente em pleno chamado Estado Novo sob o comando de Salazar que, governando o país com pulso de ferro, tudo controlava e dirigia, impondo nomeadamente uma apertada censura aos meios de comunicação social e, controlando ideologicamente tudo sob a batuta de António Ferro, seu homem de confiança, orientava a comunicação no sentido da ideologia salazarista.

Mas, subitamente - ou talvez não… -, em 1961 desencadeia-se a guerra em Angola, tudo começa a mudar e o chamado Império Português vê iniciar-se o seu desmoronamento.

Era a revolta, era a cobiça de outras nações mais poderosas, era a guerrilha e todos sabemos que não há na história dos povos uma guerrilha que tenha perdido uma guerra...

Salazar sabia isso. Salazar sentia isso mesmo e tentou mobilizar e doutrinar os portugueses para a situação na esperança de assim conseguir um apoio popular que lhe permitisse controlar e aguentar a guerra na retaguarda no maior espaço de tempo possível com as suas inevitáveis consequências sócio/económicas.

Como primeira medida decretou Luto Nacional durante vários dias e proibiu festas e bailes de Carnaval em Fevereiro de 62 e bem me recordo de na minha freguesia todos os bailes serem cancelados.

E, como o Luto era Nacional e o povo assim o entendia e cumpria a rigor, veja-se como nesta foto os mancebos, no dia da sua Inspecção Militar, vestidos a rigor, como era então usual, todos apresentavam, em sinal de respeito, “fumos” pretos nas bandas dos seus casacos em sinal de luto.

Era assim na época.

Foi assim durante décadas.

NOTA FINAL – A referência aos “fumos” e à sua razão de ser é feita por dedução pessoal, baseada no conhecimento da realidade então vivida e sentida e, por isso, susceptível de erro de interpretação..

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