quinta-feira, 11 de outubro de 2018

HÁ 51 ANOS, A GUERRA!


Pois é!... Pois é!… Já lá vão 51 anitos que este rapazinho – era mesmo um rapazinho, confesso, não obstante os quase 23 de idade… - foi metido num barco (Paquete Niassa) e enviado para a distante e desconhecida Angola para combater  e tentar não morrer numa guerra sem nexo e sem proveito. Coisas dos homens e suas ganâncias…

Nos últimos anos tem sido meu hábito escrever aqui sobre as emoções sentidas na época e as interpretações conhecidas hoje e, afinal, como as mesmas são iguais às do ano passado vou fazer hoje o então chamado na imprensa de “tesoura e cola” e limito-me a copiar para aqui o já escrito em 2017. O tempo passou mas a emoções e os sentimentos são os mesmos e evito de me repetir.


Que leia quem tiver tempo e… pachorra...


"Não vou dizer, como é habitual, que “parece que foi ontem” porque, na realidade, não parece isso mas, também constatar que já passaram 50 anos sobre a minha partida para a guerra colonial, na verdade também me deixa a pensar como o tempo voa…

Foi no dia 11 de Outubro de 1967 que, embarcando no paquete Niassa, este rapaz, ingénuo e purinho, verdinho, verdinho para enfrentar uma guerra de guerrilha daquelas, avançou com mais uns milhares de outros igualmente ingénuos e impreparados rapazes na flor da idade e que, qual “carne para canhão”, tiveram de deixar pais, irmãos, namoradas e, quando não, noivas, esposas e filhos e, forçados, verem-se envolvidos em problemas tamanhos de sobrevivência radical e… mortal.

No meu caso particular, anjinho e terrivelmente impreparado, não obstante os cursos intensivos recebidos na “recruta” e depois na “especialidade” e depois transmitidos aos soldados aquando da formação do batalhão, embarquei a 11/10 e, dois meses e meio depois, lá bem no “cu de judas”, no distante e inóspito Leste de Angola, já estava a “ouvi-las” num violento ataque ao aquartelamento onde estava instalado chefiando uma curta secção de 10 homens. Valeu-nos os fuzileiros, tropa muito especializada e experiente que igualmente ali estava instalada por nos encontramos muito junto ao Rio Zambeze que eles patrulhavam muito assiduamente.

No dia 25 de Dezembro, dia de Natal, pelas 20 horas, já noite serrada, vinha a pé para as nossas instalações na companhia de um fuzileiro desde a mercearia de um branco ali estabelecido, onde tínhamos bebido umas cervejinhas quando, subitamente, o ataque foi desencadeado ali a 20, 30 metros de nós. As primeiras vinham terrivelmente ajustadas e só não nos atingiram por enorme sorte. Mas o fuzo ficou apenas com o gargalo da garrafa de bagaço que trazia na mão… Eu não fui molestado felizmente e, depois das primeiras balas bem ajustadas e como eram tracejantes, lembro-me bem de as ver passar por cima em grande quantidade que nem estrelas cadentes…

Depois, bem, depois foram mais dois anos de sacrifícios, sustos medos, fome e sede – onde não faltou outro ataque inimigo, igualmente sem consequências de maior naquelas terras, naqueles mundos que nada nos diziam e que nos eram tão adversos.

Mas felizmente regressei inteirinho e, como bem sabemos, muitos milhares de jovens, como eu forçados a lutarem e a defenderem as suas vidas, não tiveram essa sorte e perderam o melhor deles próprios, as suas jovens e promissoras vidas.

E, face ao posteriormente ocorrido, não podemos deixar de nos interrogar: e para quê? 

Para quê?..."

(Deixo as imagens do local onde sofri o “baptismo de fogo”, mapa de parte de Angola onde se vê a localização de Chilombo, pequeno lugarejo onde se deu a ocorrência e um rascunho do Relatório do ataque que fiz ao Comando.)

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