quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A CALMA BEIRA ALTA


Uns dias, como é habitual nesta época do ano, na calma e sossegada Beira Alta.

O recuperar de energias da azáfama e preocupações do dia-a-dia na grande cidade, num ambiente e num espírito que dá para ler, meditar, dormir e, até mesmo sonhar. Sonhar... não obstante a idade…

Não livre de um eventual contágio, claro, mas estamos talvez um pouco mais distantes do covid porque, para além de aqui pela aldeia não usarmos máscara por casa e no largo espaço seu envolvente, temos mais ar e mais liberdade de movimentos e só a ida às compras na vila recomenda e obriga o seu uso como importante medida de prevenção. E, na verdade, não fora as noticias da comunicação social, a net, os jornais, por aqui quase que dava para esquecer o danado do “bicho”...

Para quem gosta de leitura é um paraíso e disso tenho usufruído. Uns jornais, umas revistas e os inseparáveis livrinhos, fazem-me companhia permanente.

Acabei o grande volume que integra os oito primeiros Diários de Miguel Torga. Já os li, nem sei bem quantas vezes mas nunca me canso de saborear a sua rica escrita. Não obstante reconhecer que é algo lúgubre e triste – Torga fala da morte e da tristeza do existir vezes sem conta nas suas obras – acho-o de conteúdo muito rico na escrita e na discrição das vivências dos dias; de um português rico e exemplar e entendo mesmo que o mundo ficou a dever-lhe um Nobel, tão intensa, genuína e valiosa é a sua obra de prosa e poesia. Um senhor a escrever e a sentir, de uma expressão genuína e apaixonante, de que gosto particularmente.

Faria hoje anos se fosse vivo e não esqueço que tive a preocupação de propositadamente estar em Coimbra após a sua morte aquando da ida do seu corpo para S. Martinho de Anta, sua terra natal onde jaz.

Esta estadia por terras beirãs foi todavia um pouco agitada nos primeiros dias quando, depois de recebermos por umas quantas vezes na sala a visita de umas “simpáticas” vespas, que logo imaginamos “asiáticas” pelo seu porte e pela suas cores, descobrimos que tinham ninho, exactamente por cima das nossas cabeças, na chaminé da lareira.

Foi um bom bocado alarmante dada a envergadura das "meninas" - cerca de 4 cms (!) - e a robustez dessas sujeitas – só morriam depois de bem calcadas (!) - e também pelo natural receio de alguma picada…

Os serviços camarários foram prontos em socorrer-nos e, no cair de um dia, munidos de um comprido maçarico introduzido na chaminé em sentido descendente e depois no inverso (imagem junta), fizeram “churrasco” das indesejáveis visitas. Seriamos então esclarecidos que não eram “asiáticas” mas Vespa Crabro, de que aí fica uma imagem retirada da net.

De resto, aqui, nesta calma Beira Alta, os dias tranquilos e sossegados prosseguem, sendo quebrados a pedaços por uma ou outra visita de familiares e amigos que, embora sempre agradáveis, retiram um pouco o ambiente necessário para sentar e escrever uma linha, uma frase, uma crónica, coisa que sempre dá redobrado prazer a este pobre escriba.

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