quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O SR. CAPITÃO


Vindo da sua alentejana Ponte de Sor, de onde era natural, na companhia de parte da sua família mais chegada (pai, madrasta e uma irmã) o jovem de 26 anos Eduardo Alvega Capitão , o “sr. Capitão” como sempre viria a ser conhecido e tratado, chega ao Chouto em meados da década de cinquenta do século passado e fixa-se no Casal de Vale da Bezerra, propriedade que seu pai havia tomado de renda para exploração agrícola onde sobressaía o cultivo e produção de arrozais em assinalável escala.

Jovem, alto, elegante e bem parecido, de voz melodiosa, conversa pausada e fluente, a sua presença desde a primeira hora fez-se notar não só por isso mas também porque o seu contacto com todos era educado, cordial e muito cativante e, desta forma, foi-lhe fácil granjear a admiração e o apreço da população local.

Mas tinha ainda dois factores mais que, ao correr do teclado agora ocorre  lembrar e sublinhar: o nosso jovem fazia-se transportar num moderno e desportivo automóvel (Volkswagen Karmann Ghia) de cor belíssima (igual ao da imagem anexa), coisa muito rara para a época e só ao alcance de certas bolsas e, como era conhecido por “sr. Capitão”, tinha quem fizesse a analogia do seu apelido com um suposto graduado na carreira militar e era ver como a muitos e muitas (com elevado destaque para certas moças de idades casadouras...) lhes causava uma admiração muito especial…

Mas o sr. Capitão, embora assim se apresentasse no Chouto e aldeias vizinhas, não era um estouvado “play boy” como poderia imaginar-se e, antes, era um jovem sereno, ponderado e com os pés bem assentes na terra.

Com idade para procurar a mulher que deveria ser sua fiel companheira para a vida e ainda que passeando em carro desportivo, último modelo e ser para algumas um capitão (militar), factores de grande atracção, Eduardo Capitão sabia bem isso e jamais se precipitou.

Nos seus primeiros tempos na aldeia tratou de analisar as muitas e variadas amizades que se lhe apresentavam para melhor conhecer as pessoas e as coisas que o cercavam e foi fazendo  a sua selecção…

Conversava e convivia cordialmente com toda a gente sem excepção mas as visitas e conversas eram mais frequentes e, no seu reconhecimento confesso com quem firmou mais amizade foi “com os Barretos, Antero e filho Zeca”, “com os alfaiates Acácio Varela e Arlindo Texugo” e, sobretudo, com o comerciante José Azevedo.

Foi com este último que Eduardo Capitão mais se identificou “via nele uma pessoa, educada, de caracter, de cultura e muito conhecedor da vida e das coisas” confessaria e, na verdade, os dois amigos conversavam amiudadas vezes durante largos tempos naquela época, tanto mais porque José Azevedo também apreciava muito a sensatez, cortesia e educação do seu jovem amigo.

Tendo então entre 10 e 14 anos de vida nessa data este escriba, porque ouvia uma ou outra vez os diálogos travados e também por confidências posteriores do seu progenitor, ele pode hoje aqui afirmar que muitas vezes as conversas versavam sobre a intenção de Eduardo arranjar noiva e as dificuldades inerentes a encontrar jovem que se enquadrasse nos seus desejos. 


José Azevedo, então com os seus já experientes 40/45 de idade sendo mais de 20 de conhecimento dos – e das… - habitantes na região, amigo do seu amigo como ninguém, também desejava que o seu jovem e bom amigo seguisse um rumo acertado e feliz e é neste quadro que, um belo dia, aconselha o amigo (“sr. Eduardo”, como sempre o tratou):

- Sr. Eduardo, anos passados tive um grave conflito com Custódio Pinheiro e o seu filho respeitante a uma casa que esse proprietário me arrendou e que me levou a cortar relações com eles que jamais reatarei porque são pessoas com quem mais não me interessa relacionar mas isso não me impede de lhe indicar a sua filha Alice, uma boa rapariga que, estou convicto, muito provavelmente será uma excelente esposa e o poderá fazer feliz. Do pai e do irmão não gosto mas isso nada me impede de reconhecer nela uma optima pessoa! Tente uma aproximação e poderá ser feliz.

Eduardo Capitão segue o conselho do amigo, faz algumas deslocações à Ribeira de Ulme, alguns kms distante, onde a recomendada noiva vive e consegue os seus objectivos de uma primeira aceitação. Convivem, trocam ideias, namoram durante algum tempo e, passado ele, um dia chega ao Chouto junto do seu amigo e diz-lhe:

- Sr. Azevedo (como sempre o tratou) participo-lhe que eu e Alice vamos casar! Gostaria muito de o convidar para a cerimónia e para a boda mas não me atrevo a isso porque sei a sua resposta face à sua incompatibilidade com os meus futuros sogro e cunhado, mas creia que é com muita pena que não verei o sr. Azevedo naquela data única da minha vida que o amigo, com o seu caracter e saber, ajudou a concretizar.

José Azevedo reconhecido e certamente reconfortado, abraça o amigo Eduardo e deseja-lhe felicidades!

Os anos passaram, José Azevedo partiu em 1978 muito prematuramente e o sr. Capitão viu também partir a sua amada Alice em 2010, depois de uma vida em conjunto de muitos anos bons e felizes e, agora, com quase 91 anos, raciocina em pleno, ainda passeia, convive com familiares e amigos, frequenta com entusiasmo a Universidade Sénior da Chamusca, vila onde mora, navega na internet com progressiva evolução no seu conhecimento, conduz a sua viatura (que não o desportivo carro dos anos 50, claro) e continua a ser o mesmo senhor de então: educado, correcto, cordial e amigo! A pé desloca-se amparado a uma bengala, se bem que a saúde não o incomode sobremaneira “a não ser os ouvidos, porque não me conseguem acertar com os aparelhos...” confessaria a este escriba que conhece desde adolescente dos seus belos tempos no Vale da Bezerra.

Para além de tudo isto, o sr. Capitão faz questão de estar presente no Chouto nos diversos eventos organizados pelo Grupo na net CHOUTO – NOSSA TERRA, NOSSA GENTE, como atesta a imagem junta registada por ocasião da festa do 2º aniversário do Grupo, onde contou a este seu amigo alguns detalhes da sua muita amizade com José Azevedo onde sobressai o seu aconselhamento da noiva, facto que desconhecia, consentindo que o divulgasse e onde teria a oportunidade de confessar: 

- Seu pai teve influência no meu casamento! A sua amizade e caracter permitiu-me arranjar uma excelente, amada e saudosa esposa!

Sem comentários: