domingo, 6 de janeiro de 2013

OS 40 ANOS DO "EXPRESSO"


O "Expresso" celebra hoje o seu 40º aniversário  e, ontem, depois de comprar o seu número comemorativo, escrevi umas quantas linhas que agora aqui resolvo publicar e que talvez fiquem bem como arquivo e memória futura...

 Hoje é sábado e, como todos os outros sábados, desde há 40 anos, aqui tenho comigo o “Expresso” que hoje saiu numa edição muito especial porque amanhã celebra o seu 40º aniversário de publicação!

Sair de manhã aos sábados e, no primeiro quiosque comprar o “Expresso”, é para mim um hábito, se não mesmo uma obrigação que sinto quase, quase, como o cristão que todos os domingos vai à missa…

Compro o “Expresso” “obrigatoriamente desde o seu 1º número e para além de ainda guardar esse exemplar, guardo muitos outros, sobretudo do período revolucionário que vivemos após o 25 de Abril de 1974 e lembro-me tão bem como hoje com que expectativa aguardei a saída do 1º número e sobretudo com debati com um velho amigo, há muito já falecido, o conteúdo do jornal acabado de sair. Tratava-se do Afonso, Afonso Henrique Santos de seu nome completo mas que assinava os seus poemas e outros escritos com o pseudónimo de Henrique Bravo. Relojoeiro de profissão, trabalhava numa pequena relojoaria e ourivesaria no Calhariz, junto à então Caixa Geral de Depósitos na Calçada do Combro. 

Esse amigo tinha-me sido apresentado pelo António Bento do “Jornal da Chamusca”, seu velho amigo com quem chegaram a publicar uns cadernos de poesia, de nome “Atitude” e o Afonso chegou também a escrever no “Jornal da Chamusca”. Costumava também sugerir ao António Bento e a mim formas de melhor apresentarmos o jornal e recordo-me por exemplo que numa das vezes deu a ideia de publicar em grande destaque na 1ª página uma foto de um “Bate Papo” em que eu aparecia a entrevistar em palco o padre Diogo, da Chamusca mas apresentado a foto em negativo. O Bento, concordou, ficou bem interessante e lembro-me que muitas pessoas apreciaram a originalidade.

Mas voltemos ao “Expresso” cujo nascimento, na verdade, está bem fresco na minha memória… O jornal nasceu assente na chamada Ala Liberal da então Assembleia da República que era composta entre outros por Pinto Balsemão, que o fundou e dirigiu durante anos e ainda por Mota Amaral, Sá Carneiro, Miller Guerra e Pinto Leite, um homem de que muito pouco se fala porque morreu muito novo num acidente de helicóptero na então Guiné portuguesa mas curiosamente o seu nome vem publicado na 1ª página do “Expresso” no seu 1º número. Era um jovem empresário e político de que muito se esperava.

Foi então assente neste grupo que muito escreveu no jornal de então e aproveitando a pequena abertura que Marcelo Caetano trouxe ao regime do chamado Estado Novo que Balsemão pensou e criou o jornal. Caetano tinha aberto qualquer coisita o ambiente político e esses então jovens deputados achavam que era possível mudar o regime pelo dialogo na Assembleia. Ficaram celebres as discussões deles com os deputados mais velhos e conservadores, ultras, defensores do regime de Salazar e lembro-me por exemplo duma contenda entre Miller Guerra e Cazal Ribeiro que constava do Diário da Assembleia e que circulava mais ou menos clandestinamente entre nós…

O pessoal mais à esquerda – leia-se gente de ideais comunistas que vivia clandestina, mais ou menos ”abafada” – acharam o jornal demasiado conservador porque esperavam mais agressividade na escrita mas eu lembro-me que gostei muito, logo do 1º número. Até então só podíamos ler umas coisitas ou outras contra o regime no “Diário de Lisboa” e no velho “República”. O “Expresso”, trazia uma linguagem algo diferente e como era semanário, o que era uma novidade na altura, dava para ir lendo durante a semana.
Desde a 1ª hora foi sempre um jornal muito influente no poder e não raras vezes tem contribuído para a queda de governos. Recordo-me por exemplo quando Vasco Gonçalves em pleno PREC, num comício em Almada, se atirou ao “Expresso” chamando-lhe pasquim. Desabridamente o homem parecia que estava fora de si e, logo, logo vaticinei: já caíste…! Durou duas ou três semanas…

O jornal está agora muito diferente, como é lógico e tem acompanhado a  evolução dos tempos estando muito mais moderno e competitivo.

É, para mim, o melhor jornal português e ficaram pelo caminho muitos outros que o tentaram abater… Lembro-me do “Semanário”, do “O Jornal”, do “Independente” e ultimamente do “Sol”. Todos tiveram de desistir e morrer, excepção ao “Sol” que ainda aí está porque ultimamente se agarrou a capitais angolanos…

Neste número comemorativo do 40º aniversário, na “Revista”, eles publicam um trabalho com leitores fiéis do jornal desde o 1º número mas esqueceram-se de mim…

Imperdoável!... Eh! Eh!

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