quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

QUANDO UM RAINHA SE TORNOU PRIMO


Quando estava internado recebi, enviada pela minha prima Fernanda Pratas, esta foto do marido António Rainha com o comentário “Vê bem, depois de velho deu em pintor!...” e logo pensei escrever umas linhas sobre este velho amigo de infância e juventude no Chouto.

Conhecemo-nos e convivemos desde a infância, atravessamos o período da escola primária e da juventude, com bailaricos e namoricos pelo meio, sempre em excelente convivência. O Tónio é um bom rapaz!

As nossas residências na aldeia, não sendo juntinhas, distavam menos de uma centena de metros e avistavamo-nos mutuamente e por isso brincávamos e convivíamos amiudadamente pelas ruas da povoação, então empedradas de seixo redondo ou até mesmo em terra batida, como era o caso do largo em frente de minha casa e, já em fase mais avançada nas nossas idades, nomeadamente na guerra de Angola que ambos vivemos – e sofremos!... – trocamos correspondência muito regularmente. Mas desses aerogramas não deixo aqui cópia porque o bom do Tónio usa aqui ou ali linguagem menos adequada, porque algo picante e que não se coaduna com as pudicas linhas do meu blogue… O rapaz sempre foi um “língua destravada”. Eu, não…

(Anos antes, este bom sacana também fez parte do grupinho que me envolveu na inesquecível bebedeira que me pregaram e que já contei aqui e que só não terminou em forte tareia do meu pai, abstémio, graças à boa e doce Ti Lucinda Espadinha que foi fazer e me forçou a beber café amargoso que talvez tenha aliviado a “carga” que me pesava a cabeça…)

Bom, mas deixemos isso e avancemos, voltando ao tempo da nossa juventude já namoradeira…

Quis o destino que este velho amigo se travasse de amores com a minha prima Fernanda, namoro que foi iniciado antes ainda dele ir para a guerra. E é desse período que quero aqui contar a “istória” por eles vivida e que tanto falatório deu na aldeia…

Na época dava-se importância ao facto das raparigas casarem virgens – hoje em dia, como sabemos, isso é um mero pró-forma. Eh!Eh! – e, no Chouto, igualmente esse hábito tinha o seu valor, a não ser que… A não ser que… 

Foi o que aconteceu – ou não… - e que rebentou, que nem uma bomba, no falatório da aldeia… De um dia para o outro, no “diz que diz” de boca em boca, começou a circular a notícia/boato que o “castelo” já havia sido tomado… Num pequeno lugar, como o Chouto, foi a bronca das broncas!

“O quê?”; “Verdade?“; “Quando e onde?”; “Sem vergonha!”- ouvia-se de boca em boca.

Ninguém sabia se era verdade, ninguém sabia se era boato, ninguém tinha provas e, perante isto, no meio daquele turbilhão de falatório sem fim, que fizeram os bons dos namoradinhos António e Fernanda? Que fizeram? Pois, ainda lançaram mais achas para a fogueira ou, melhor, lançaram-lhe mesmo… gasolina! 

Na época existiam nas rádios uns programas de “Discos Pedidos” onde os interessados em ouvir determinadas melodias escreviam ou telefonavam a fazer o seu pedido de audição e, perante isto, que fez um deles - já não me lembro qual, mas acredito que tivesse sido a atrevida da Fernanda… - vá de pedir uma canção do então muito famoso fadista/cançonetista Tony de Matos. O título da canção? Ora vejam bem…. Vejam bem?! Nem mais, nem menos que: “Só nós dois é que sabemos!”

Foi bronca ainda maior que a boataria que já reinava até ali!

“Incrível!”; “Atrevidos!”; “Sem vergonha!"; "Provocadores!" – foi o mínimo que se ouviu. Sim, porque a coisa subiu de tom... Eh! Eh! 

Foi tão falado e comentado tal atrevimento que... eu nunca mais esqueci.

E, olhem: casaram (não fui ao casamento porque estava na guerra e deixo aí a participação da Fernanda enviada para Angola), têm filhos, têm netos e são felizes! Muito felizes!

Abraços carinhosos para estes grandes e velhos amigos!

E que desculpem a brincadeira deste atrevido primo!

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