É mesmo verdade e, digamos que é da natureza humana: Com o avançar dos anos, com o somar dos aniversários e atingida que é uma determinada idade, começam a nascer na mente do “jovem de ontem” as recordações do caminho percorrido, as memórias das vivências sentidas, o rememorar dos dias e das situações passadas.
Está a passar-se comigo isso mesmo e vou aproveitando para registar por escrito o que a memória me trás sobre os dias passados e as alegrias, tristezas e vivências sentidas nos dias e anos vencidos. Penso depois passá-las a papel e a livro e pode ser que alguém um dia, quando este pobre escriba já for pó as leia, eventualmente se divirta, ou então ache que fui muito atrevido, corajoso talvez (sendo que outros me achariam então provocador…) e de certeza bastante “reguila” e serei nesta hora que corre meio sonhador, meio lunático...
Sim, porque só um “maluco” atrevido, ia “clandestino” a uma bruxa que andava a endoidecer na aldeia quem nela acreditava, provocando com a sua divulgação no jornal um enorme escândalo; escrevia que na sua freguesia tinha gente que vivia sem conhecer a então Previdência, hoje Segurança Social e no tempo feudal (Cantaro); e outra era escravizada a carregar por dezenas de kms os seus mortos para o Chouto por falta de cemitério na sua terra (Parreira/Salvador).Tudo isto em difíceis tempos passados, no dito chamado “da outra senhora”, em 1ªs páginas e com letras garrafais, sem receio da censura e de ser visto como do “contra”, do “reviralho”. E bem se sabia o que acontecia aos do “reviralho”...
As maluquices e os atrevimentos que tive, escrevi e publiquei, hoje admiram-me pela coragem de então e não sei se hoje as repetiria…
Coisas dos "vintes" anos... Coisas de juventude que queria mudar o mundo... Coisas de lunático...
Pensava em tudo isso quando me recordei que passam hoje 47 anos sobre a data (25/6/1972) da chegada ao meu Chouto natal da energia electrica, coisa porque tanto me bati em jornais, entrevistas, correspondências, etc. Pessoalmente não tinha força absolutamente nenhuma, era um verdadeiro “zero à esquerda”, mas não me calava...
Sim, porque só um “maluco” atrevido, ia “clandestino” a uma bruxa que andava a endoidecer na aldeia quem nela acreditava, provocando com a sua divulgação no jornal um enorme escândalo; escrevia que na sua freguesia tinha gente que vivia sem conhecer a então Previdência, hoje Segurança Social e no tempo feudal (Cantaro); e outra era escravizada a carregar por dezenas de kms os seus mortos para o Chouto por falta de cemitério na sua terra (Parreira/Salvador).Tudo isto em difíceis tempos passados, no dito chamado “da outra senhora”, em 1ªs páginas e com letras garrafais, sem receio da censura e de ser visto como do “contra”, do “reviralho”. E bem se sabia o que acontecia aos do “reviralho”...
As maluquices e os atrevimentos que tive, escrevi e publiquei, hoje admiram-me pela coragem de então e não sei se hoje as repetiria…
Coisas dos "vintes" anos... Coisas de juventude que queria mudar o mundo... Coisas de lunático...
Pensava em tudo isso quando me recordei que passam hoje 47 anos sobre a data (25/6/1972) da chegada ao meu Chouto natal da energia electrica, coisa porque tanto me bati em jornais, entrevistas, correspondências, etc. Pessoalmente não tinha força absolutamente nenhuma, era um verdadeiro “zero à esquerda”, mas não me calava...
Porque a minha freguesia era a única - e foi-o durante muitos anos! - que não tinha energia electrica, em detrimento de outros povoados que, sem serem sede de freguesia a tinham, fazia barulho e procurava lembrar e pressionar as pessoas e os organismos e, nem no dia da inauguração da luz, em pleno almoço festivo comemorativo, servido com pompa no salão do edifício da Junta de Freguesia e na presença de diversas autoridades civis, militares e religiosas, com destaque para os presidentes de várias Juntas de Freguesia, do Presidente da Câmara da Chamusca e sobretudo do Eng.º Carlos Amaral Neto que era só (!) a 2ª figura do Estado, porque era o Presidente da então Assembleia Nacional, este rapaz se calou, tendo atrevidamente destoado de todos os discursos alegres e festivos da hora que se vivia.
Na verdade, botei palavra de improviso durante uns extensos minutos e, embora manifestando o meu regozijo pela chegada da luz electrica, embora muito tardia, lembrei detalhadamente o muito que ainda era preciso realizar na minha terra. E recordei um ribeiro que era urgente tapar, a água que era necessária chegar, etc.
Fui muito contra a corrente da hora mas eu não podia perder a ocasião de me fazer ouvir pelas entidades oficiais e elas estavam ali à minha frente, em carne e osso e tinha que lhes dizer cara-a-cara como a minha terra estava esquecida, abandonada e… ofendida.
Ninguém me encomendou o sermão, certamente fui um bocado inconveniente mas, fiquei aliviado. Muito aliviado. Fiquei mesmo satisfeito.
Na verdade, botei palavra de improviso durante uns extensos minutos e, embora manifestando o meu regozijo pela chegada da luz electrica, embora muito tardia, lembrei detalhadamente o muito que ainda era preciso realizar na minha terra. E recordei um ribeiro que era urgente tapar, a água que era necessária chegar, etc.
Fui muito contra a corrente da hora mas eu não podia perder a ocasião de me fazer ouvir pelas entidades oficiais e elas estavam ali à minha frente, em carne e osso e tinha que lhes dizer cara-a-cara como a minha terra estava esquecida, abandonada e… ofendida.
Ninguém me encomendou o sermão, certamente fui um bocado inconveniente mas, fiquei aliviado. Muito aliviado. Fiquei mesmo satisfeito.
Em resposta o Presidente da Câmara (o Presidente da Junta, por incrível que pareça, não usou da palavra em hora tão festiva para a freguesia…) manifestou regozijo pela inauguração e sobre as minhas pretensões disse que elas estavam inseridas no conjunto das aspirações do restante concelho (coisa que todos eles falavam bem mas não cumpriam, porque o Chouto estava sempre em último, dos últimos lugares…) e prometeu a água em breve (situação em que falhou redondamente porque ela só chegou muitos anos depois…).tendo afirmado mesmo “Portanto, amigo Victor Azevedo, vamos a pensar noutra coisa porque essa está arrumada.” Pois… até parecia que era verdade...
No final registei com gosto e algum prazer, devo confessar, que vi o eng Amaral Neto levantar-se do seu lugar para me vir cumprimentar na outra ponta da mesa, ao mesmo tempo que me dizia ao ouvido:
- Chore, amigo Victor Azevedo, chore porque… quem não chora não mama!…
Está tudo narrado de forma detalhada nas páginas do então “Jornal da Chamusca” (à excepção do conteúdo deste ultimo conselho porque me foi dito ao ouvido) e dela deixo aí uns pequenos recortes, deixando também uma foto da entrada das entidades oficiais para o almoço comemorativo da inauguração da energia electrica na bonita terra que me viu nascer.
E, como já disse, acho que hoje já não teria “estaleca” para tamanhas “reguilices”...
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