Embora já aqui tenha sido mencionado diversas vezes em anteriores crónicas, volto hoje com gosto a escrever sobre o Tio Zé “Pisco”, homem bom, honesto e de carácter que me orgulho ter como amigo, num franco sentimento que sei ser reciproco e que muito me gratifica.
Tio Zé, num gesto que desde há muitos anos já tornou hábito quase obrigatório, sempre que me sabe na aldeia procura-me, passa comigo uns longos pedaços de tempo e aqui conversamos, trocamos ideias e, sobretudo, ele faz questão de me recordar e contar longos e interessantes episódios que já vêm desde a sua infância. E quão deliciosas são as suas “istórias” e quão gratificante é vê-lo entusiasmado a narrar desde cenas vividas no seu tempo de escola primária a aventuras de jovem nos anos 30 do século passado e até situações de supostos “affaires” na mente da sua desconfiada e ciumenta Tina…
Homem de muito trabalho de toda uma vida, beirão assumido de rija têmpera, ainda hoje, à beirinha de festejar os seus 93 anos de vida, faz questão de não parar e de manter-se activo, numa vivência do dia-a-dia a todos os títulos espantosa.
Cumprindo o seu “ritual” de sempre que me faz por cá, esteve ontem aqui e, depois de talvez uma hora de desfilar de “istórias” e recordações de tempos idos, diz-me:
- Eu vou consigo! Pode ser?- pergunto-lhe.
- Embora! Vamos desenferrujar as pernas!
Avançamos então e, nuns curtos 5/10 minutos, ele com a ajuda da sua agora inseparável bengalita - “É um amparo”, diz-me – eu com a chatas artroses nos joelhos, chegamos às “Almas”, sua pequena “quelha” que o meu amigo cultiva com um inexcedível zelo e carinho e um confesso e compreensível prazer.
Mas, digo, mesmo sabendo da sua invejável vitalidade não obstante a passagem dos seus 93, abri a boca de espanto quando ele, depois de usar o seu fino humor perguntando-me “Trouxe a chave? Não trouxe, pois não?”, empurrou o portão e abismei, francamente, com o que vi…
Tudo cavado, semeado, plantado, corado e tratado pelo Tio Zé, tinha à minha frente um viçosa horta ricamente composta e cultivada única e exclusivamente por este amigo de 93 anos de idade! Um espanto! Um espanto!
Ali tem desde favas a abóboras, passando por cebolas, alfaces, tomates, couves, salsa, coentros, etc. Trata tudo com o maior cuidado e desvelado carinho e tem mesmo um pequeno e tosco “barraco” “para me abrigar da chuva e do Sol e descansar quando estou cansado”, informou-me e eu aí o registei num momento de pausa depois de também o ter gravado na rega das suas couves... (Por vezes na ida de volta a casa já me tem dito: "Fui regar os meus tomates"...).
Um encanto! Um maravilhoso encanto!
Vi, admirei, fotografei e aqui estou a registar para a posteridade o bonito que é ver este homem, depois de uma longa vida de árduo e laborioso trabalho, em que verticalmente passou pela vida de chefe de família e pai de filhos, chegar agora ao outono, se não inverno dessa vida, com tão bonita e invejável vitalidade e alegria de viver!
Gratificante, muito gratificante ter o prazer de contar com o Tio Zé “Pisco” como dedicado e estimado amigo!
Que assim continue por muitos mais anos, com a mesma vitalidade e o mesmo gosto de viver!
2 comentários:
Lembro muito bem dele quando almoçamos juntos.
Comentário que julgo ser do amigo Atá, escrito lá do seu Brasil. Um abraço, caro amigo! Nosso Tio Zé é rijo, rijo não obstante a sua já considerável idade e tenho muito prazer e orgulho quando me considera seu amigo dedicado!
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