terça-feira, 2 de abril de 2019
O MEU AMIGO ALENTEJANO PARTIU...
(...)
E, para último guardei o meu amigo José Jacinto Gonçalves, alentejano puro, de uma aldeia junto a Aljustrel, que veio para a cama onde estava o alfacinha. Fala bem, bem, com o sotaque dos alentejanos, tanto ele como a esposa que diariamente, com estadia em casa de irmã na Bobadela o visita e, com ambos, tanto eu quanto a Tense temos conversado bastante e constituímos já uma boa amizade. Ele, por ainda não ter sido operado (pâncreas) ajudou-me quando cheguei abalado dos “Cuidados” e, nestes últimos dias, sou eu, já bem melhor que o procuro auxiliar em qualquer dificuldade da sua grande cirurgia. O amigo Zé levou um considerável golpe de vários centímetros em feitio de “L” invertido no peito e abdómen. Nos primeiros dias do pós-operatório esteve algo malzinho mas, agora já vai estando muito melhor, embora ainda não esteja a ingerir comida sólida.
E foi assim que eu e a Tense ganhamos mais dois amigos! Modestos, cativantes, bons conversadores, muito educados e super-simpáticos! Gostamos muito de os conhecer!
E é uma amizade e uma simpatia que já nos fez aprazar na Aldeia Nova, onde moram, confeccionada pela esposa Madalena - que ele já me confidenciou que cozinha muito bem! -, uma bem alentejana e certamente deliciosa “Caldeirada de Achigãs”!
- Com “hortelã da ribeira"? – perguntei.
Ao que a senhora me retorquiu:
- Claro! E que temos lá no nosso quintal.
E eu que adoro “caldeirada de achigãs”, prato tipicamente alentejano!...
E, já que falo em comida, deixo como “ornamento” uma imagem da “lareira” montada na sala de refeitório e, uma outra do jantar de hoje, que estava bom mas que, em nada por nada, poderia rivalizar com uma bem alentejana “caldeirada de achigãs”…
Uuuunh!!!
Já estou a sentir-lhe o cheirinho
******************
Face à dificuldade de contacto com ele ou com a esposa, de quem tinha igualmente o número de telefone e não conseguindo estabelecer ligação, confesso, confesso francamente que andava com receio que algo de mal tivesse acontecido ao amigo Zé Gonçalves, alentejano com quem criei laços de amizade aquando do meu internamento hospitalar em Novembro de 2017 e de que deixo aí, como introdução trecho do texto alusivo publicado aqui no meu blogue naquela ocasião…
Os dois números de telefone não aceitavam as chamadas e, hoje, depois de várias insistências sem resultado, procurei chegar à fala com alguém da Junta de Freguesia da sua residência, numa aldeia junta a Aljustrel, na tentativa de conseguir alguma notícia sobre o meu amigo alentejano …
Atendeu-me uma senhora funcionária, presumo, que, muito simpática e depois de ouvir o que pretendia saber, respondeu-me:
- Pois, mas tenho pena e não tenho boas notícias para lhe dar: o sr. Zé Gonçalves infelizmente já não está entre nós!…
Ficando chocado com a triste notícia mas, ainda assim não surpreendido quanto isso porque, deste sempre achei que o meu recém-amigo talvez não tivesse muito tempo de vida, quis ficar mais certo de que estavamos a falar da mesma pessoa e perguntei-lhe:
- Mas será que falamos da mesma pessoa? A senhora conhecia-o?
- Sim, muito bem! A ele e à esposa dª Madalena e até fui colega de escola do seu filho.
Confirmavam-se assim os meus receios e estou muito triste com a partida de um bom amigo, amigo feito em horas particularmente difíceis para ambos mas onde também fomos mutuamente solidários em ajudas para minorarmos o mal estar que sentíamos naquelas horas bem desagradáveis das nossas vidas.
Homem muito atencioso, educado e amigo, partiu muito cedo porque, na verdade, tinha o pâncreas muito mal e a cirurgia nada lhe fez de melhor. E, por só agora ter sabido da sua morte, não o acompanhei à sua última morada, de certo no seu amado Alentejo…
Falavamos com regularidade pelo telefone e, na última vez que conversamos, coisa de há seis meses talvez, dizia-me na sua voz arrastada e cansada:
- Estou muito magrinho! Como muito “poucachinho”. Peso 45 quilos!
Atencioso, educado, de sotaque bem alentejano arrastado e bonacheiro, já não voltará a ouvir mais, como naquele dia ao meu lado na cama do hospital as chatas “madames” de uma qualquer seita, daquelas “patas chocas” que a toda a hora nos batem à porta impingindo-nos as virtudes milagrosas das suas “religiões” e não lhes responderá mais, despachando-as com a minha ajuda, quando lhes perguntei se nem cama dum hospital nos largavam a cabeça:
- As senhoras sabem? - perguntou e respondeu-lhes o amigo Zé - “A gente, lá no mê Alentejo, né costume os homens irem à missa ou terem essas religiões”...
Que descanse em paz, amigo Zé!
EM TEMPO – Deixo uma foto da enfermaria do Hospital Curry Cabral onde nos tornamos amigos, tendo a cama do amigo Zé à esquerda e a minha ao seu lado, junto à janela.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário