terça-feira, 3 de julho de 2018

RECUANDO NO TEMPO...

Imaginando-o a viver numa localidade do Oeste português fiquei surpreendido quando uma recente informação dava conta que o velho amigo vivia e residia desde há uns tempos a esta parte em Lisboa e, sendo assim, não descansei enquanto não concretizei o encontro.

Encontro com alguém que, seguramente já não via há bem mais de 50 anos…

Vive então, actualmente, este velho amigo com hospedagem num bom prédio de uma grande e concorrida avenida do centro de Lisboa e, informado disso, foi aí que o procurei pelas 10,30 horas da manhã de hoje.

Tocada a campainha e aberta a porta do moderno edifício sou recebido por uma jovem senhora que, muito cortês e com um sorriso nos lábios me saúda e pergunta ao que venho. Dou-lhe conta do meu desejo e, ela, informando-me que o vai buscar a um piso bem superior, pergunta-me quem deve anunciar. Dou-lhe conta da minha identidade e, confessando-lhe a minha curiosidade na reacção do amigo perante o nosso encontro, peço-lhe que mantenha sigilo sobre ela para testemunharmos a sua reacção.

A senhora pede que me sente numa bem decorada e acolhedora sala de espera, sobe no elevador e, poucos instantes passados, surge-me acompanhada de um homem já de alguma idade, vestido de escuro, de roupa de Inverno neste Verão que teima em não chegar, cabelos brancos, óculos de aros leves e de físico entroncado.

Atiro-lhe de imediato:
- Se não soubesse, não o reconheceria fora daqui….


O velho amigo responde-me igualmente;
- Nem eu o reconheço, também. Estamos empatados.

Sorriu e, curioso, tenta adivinhar quem sou mas… confessa a sua incapacidade:
- Não consigo. Confesso que as feições não me são totalmente estranhas mas… não vou lá…

Abro-lhe então o jogo e digo a palavra mágica:
- Chouto! Diz-lhe alguma coisa?

Abre-se-lhe um sorriso:
- Chouto? Ooooh… tinha José Azevedo!...

- Não está longe… - esclareço-o

- Não? Tinha Polidoro!...

Aí, volto a ajudá-lo:
- Já se afastou. Já esteve mais perto… Falou em José Azevedo, nem deveria ter saído de casa…

- Não? Então o Victor! És o Victor? E também havia a Adília…

Foi o abrir imediato, espontâneo e franco dos braços e, emocionados, apertamo-nos fortemente e… vi-lhe, debaixo das lentes, os olhos bem brilhantes e… humedecidos…

A emoção, porque inesperada e gostosa, era franca e sincera.

Ao fim de mais de meio século sem se verem, estavam nos braços um do outro, o Padre Zé (José Francisco de Faria) que, saído “verdinho” do seminário “caiu”, perto dos finais da década de sessenta do século passado, em Ulme e Chouto como suas primeiras paróquias e o seu então jovem “sacristão”, que lhe fazia as leituras e ajudava nas missas e restantes cerimónias religiosas tanto na igreja da aldeia como em lagares, barracões e escolas primárias dos lugares vizinhos, porque o acompanhava em viagens feitas de “vespa”, primeiro e automóvel depois.

Pode imaginar-se como foram deliciosos e muito gratificantes os momentos deste reencontro com o recordar destas velhas vivências e, sobretudo, para meu espanto o comprovar como ainda se lembra, para além dos já referidos José Azevedo e Polidoro, de Antero Barreto, Zeca, Acácio, de Antero Pratas e sua mulher Laura e - imagine-se!... – do “guarda-rios” e “do seu filho João, que morreu subitamente”; também de Ulme me recordou o João Augusto, o João Neto, o António da “Carroça” e o Manuel “Charrete”, o “homem do talho” Zé Alves e o filho prof. Fernando, do "Franklim que casou com a Fátima" e… a Dona Chica!

Um espanto, a memória do Padre Zé!

Bom, resta acrescentar que a horinha que conversamos passou num saltinho, foi super-gostosa – o amigo Padre Zé ficou encantado com a minha visita! – e que já aprazamos uma ida ao nosso Chouto onde almoçaremos. Será no final do Verão que irá comigo matar saudades e recordar anos antigos.

Mas, agora, já foi lindo, lindo o nosso encontro! Não mais o esquecerei.

Assim, recuando no tempo…

Sem comentários: