quinta-feira, 12 de julho de 2018

O ROL DO ZECA


Um dia destes, logo que a sua saúde o permita e a ocasião assim o proporcione, quero falar com o meu primo Zeca sobre essa importante “ferramenta de trabalho” na sua mercearia de sempre no Chouto.

Dias atrás já abordamos essa ideia e ele confessou-me que ainda guarda religiosamente o seu rol onde, lamentou, ainda hoje são destacados alguns “calotes” que lhe deixaram – “Ficaram a dever-me, pá!... E alguns já não me pagam… Já morreram….” – lamentou-se.

Um dia destes falaremos melhor e registaremos para arquivo imagens do “seu” rol. Logo que a ocasião o proporcione. Um dia destes acontece…

O rol, nos velhos tempos das antigas mercearias, era algo absolutamente imprescindível e totalmente indispensável ao cabal e eficiente desempenho do negócio daquele comércio… Os habitantes das aldeias no interior do país, gentes de parcos recursos financeiros, viviam com muitas dificuldades económicas e sociais e, comer e beber a crédito era a única hipótese que tinham de viver e subsistir. E o Chouto, o meu Chouto natal que conheci no antanho, não fugia a isso. Ainda para mais porque alguns dos seus habitantes faziam – aventuravam-se a fazer!… - searas sazonais e, assim, falando com o merceeiro, prometiam pagar-lhe quando da colheita… Mas acontecia – e infelizmente demasiadas vezes ocorria… - que, se o “tempo” pregasse partida e a seara não produzisse o previsto, nova conversa com o homem do rol era inevitável…


Pois, no Chouto e no país, valia sempre a muitos e muitos o amigo merceeiro que, vendo a necessidade e conhecendo a seriedade e honradez dos seus pobres clientes – e certamente também algumas vezes, quando não muitas, usando o seu próprio crédito juntos dos seus fornecedores - assim ajudava, acudia e até matava a fome a clientes e famílias para que o pãozito, a massa, o arroz e o azeite não faltassem muito na mesa… 

Quantas histórias, dramas e mesmos choros e lamentos, confidenciados em surdina ao balcão não guardarão esses róis? 

Quantos pedidos de compreensão e paciência, feitos ao amigo merceeiro, não ouviram?

Quanta confidência, quanto rogo, quanto pedido de ajuda?...

O “rol do Zeca” - que já vinha do pai Antero -, encerra-as e guarda-as, certamente.

Inevitavelmente…

NOTA - Imagens anexas retiradas da net.

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