domingo, 26 de novembro de 2017

"MAUS FÍGADOS" - RECAUCHUTAGEM - DIA 12


A CIRURGIA E OS CUIDADOS INTERMÉDIOS

Um domingo internado num hospital não será nunca um bom domingo mas assim teve hoje de ser e, francamente, passou-se como outro qualquer dia de semana. As visitas, as conversas com os companheiros (poucos) do quarto, os tratamentos e medicações habituais e o domingo está a chegar ao fim.

Mas hoje quero narrar como vivi as horas antes e após a cirurgia e os consequentes dias nos Serviços Intermédios, onde permaneci mais de cinco dias. Permaneci e bem contrariado… Mas, disso falarei um pouquinho mais à frente.

Como é natural lembro-me bem das horas e dos minutos que antecederam a operação, dia 15. 

Embora estivesse prevista para depois das 17 horas, sendo a última do dia, mandaram-me que estivesse preparado a partir das 8 porque poderia haver alteração ao programado e foi assim que a essa hora já estava aqui pela enfermaria envergando apenas uma leve capa azul mas na convicção que assim permaneceria até ao fim da tarde…

Puro engano: por volta das 10,30 horas mandaram-me avançar para o “Bloco” e aí seguiu o Victor de cama de rodas a caminho da sua aventura…

Lembro-me dos corredores, do elevador, da entrada na Sala do Bloco Operatório e até de ter por cima 3 discos bem grandes cheios de lâmpadas. Recordo-me de alguém entabular pequena conversa comigo e, depois, rematar: "agora vai dormir um bocadinho". E… aí, “apaguei”…

Viria depois a saber pelo cirurgião que o “apagão” demorou 4 horinhas!...

Recordo-me de às tantas ouvir, dito não sei por quem: “Já está! Correu tudo bem!”
Depois e, quanto tempo depois não sei, abri os olhos, acordei e vi o Nuno e depois a Tense e a Joana e, aí, comecei a gemer e a queixar-me. Sentia dores e um danado de um mal-estar que nunca antes havia experimentado… Dizem-me que pedi o computador e… os chinelos.(???) Eh!Eh! Administraram-me qualquer medicamento, a dor passou e, até hoje, não mais voltou.

Depois começou um período chato: tinha uns níveis baixos (albumina) e tive que permanecer naqueles Serviços Intermédios durante mais de 5 dias e foi demasiado contrariado que ali estive.
Eu tinha estado na enfermaria na véspera da operação e sabia como ali era um “paraíso” comparado com aquele “inferno”.

Nada a dizer em desabono do trato das enfermeiras e pessoal auxiliar comigo ou com os meus 3 outros companheiros de “odisseia”, que foi sempre muito bom mas, elas entre elas, de manhã e à noite, fora das horas das visitas, era uma gritaria e uma barulheira dos diabos! “Ó Mónica! Ó Ana!". Sempre aos gritos e até entoando as canções que passavam num transístor sempre com elevado som. Uma falta de respeito incrível pelos doentes em condições tão difíceis ali internados. Um desastre completo! 

E, já tarde, até à meia-noite? Sentadas em cadeiras e/ou numas poltronas que têm em frente a uns ecrãs dos computadores em conversa fluente entre elas, sem baixarem o tom da voz, falavam e contavam das suas vidas: filhos, namoros, namorados ciumentos, eu sei lá o que eu ouvi aquelas noites… Até vi uma negra, de costas para mim, ensaiar um jeitinho de “rumba” ou “kuzumba”!
Repito: Um verdadeiro desastre!

Por tudo isto e porque sabia como era aqui na enfermaria, detestei aqueles dias e estava ansioso pela saída dali. Creio que milhares de vezes olhei aqueles 5 dias para aquele relógio que se pode ver nessa foto que aqui deixo tirada pelo Nuno a meu pedido, na parede em frente à minha cama! Olhava, olhava e não via o ponteiro grande dos minutos a mexer-se. Que pachorrento!... Danado de mandrião!

Até que, finalmente, na segunda-feira de manhã, um médico que me habituara a ver de costas, sentado na frente de um computador na ala do relógio mas que ainda não me havia dirigido qualquer palavra, me pergunta:
- Então e o doente da cama 12, sabe quem foi o seu operador?
- Sei! Respondi, informando-o.
- Oh, esse tem cá um mau feitio?!... – gracejou. E como foi para ele?
Respondi de novo informando-o ao que me retorquiu, ainda mais brincalhão:
- Esse ainda tem mais mau feitio que eu! 
E depois informou-me:
- Sei as suas análises anteriores mas não sei as de hoje. Vou ver ao computador para ver se pode sair.

Voltou-me passada meia hora depois de eu olhar através do vidro dezenas de vezes, mais que ansioso, sempre vendo a sua figura sentado ao computador sem o ver levantar-se da cadeira com a pressa que eu desejava.

Mas eis que se levantou, deu a volta e dirigiu-se à minha cama… Eu nem respirava de ansiedade para o ouvir…
- O doente da cama 12 tem análises com números dum bebé recém-nascido! 

Estendeu-me a mão num cumprimento bem apertado e deu as suas ordens ao pessoal! Muito simpático o senhor! 

Aleluia! Ia sair, finalmente! Nunca imaginei ouvir num hospital palavras tão bonitas!
Eu odiara aquele ambiente! Estava farto! Fartíssimo! (Depois de mim chegou um meu companheiro de quarto, que só passou ali uma tarde e uma manhã e que se queixou do mesmo.)

Num hospital bom, com excelentes serviços e pessoal tão competente, ter aqueles Serviços Intermédios a funcionar assim, é uma nódoa!

A coisa já vai longa. Amanhã conto mais…

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