Realizado no meu Chouto natal, no passado dia 24 de Junho - a que só hoje me refiro por absoluta indisponibilidade temporal e mental (viajei no dia seguinte para a Beira Alta, onde permaneci uns dias) –, o "I Grande Encontro de Jovens de Ontem" constituiu uma magnífica e inolvidável jornada de confraternização, amizade e convívio e, se antes senti prazer em organizar, hoje sinto muito orgulho em ter concretizado tão bonito evento!
Foram muitos os velhos amigos – alguns de lágrima no olho e outros com os olhinhos bem humedecidos e brilhantes de emoção… - que na hora me agradeceram a realização e tive mesmo quem me confidenciasse que era um dia dos mais felizes da sua vida. Fiquei muito sensibilizado e… emocionado. Sim, também eu adorei tão bonita confraternização e emocionei-me igualmente por rever velhos companheiros de brincadeira e aventura dos tempos da infância e juventude, muitos deles que já não via há bem meio século!...
Na verdade, foram muito reconfortantes e emotivas as cenas vividas durante toda a reunião e, estou certo, ficaram para sempre sentidos e registados no intimo de todos os belíssimos episódios ocorridos desde os emotivos e surpreendentes cumprimentos e abraços às chegadas com a recepção nas instalações do Centro de Acolhimento, bem como as inúmeras vivências posteriores, durante e após almoço, já no recinto da Feira de S. Pedro, com imensas recordações de tempos passados e muita música que animou e encantou tudo e todos!
No tocante à música foi uma boa ocasião para a minha irmã Adília soltar a garganta e reviver – ela e todos nós! – os dias da sua meninice quando, então nos “degraus da junta” – leia-se: os 3 ou 4 degraus que davam acesso ao edifício da Junta de Freguesia, ali bem em frente à nossa porta de habitação onde fomos criados – cantava a plenos pulmões e recitava quadras e textos de cantorias com e para as amigas de infância. Bem me recordei disso quando espontâneamente se levantou da mesa e, dirigindo-se ao nosso primo Jorge Oliveira (acordeonista) a vi pegar no microfone e empurrar todos para a entoação das mais diversas e alegres canções do nosso antigamente. Foi contagiante e, com a prima Luísa que também muito bem canta e adora esse mundo das músicas, elas comandaram as hostes e transformaram a reunião em quase um arraial, já que tudo aderiu – até os presentes não inscritos antecipadamente do nosso encontro. Foi bonito, bonito de mais!
Mas, volto às anteriores emoções que todos sentimos nos nossos reencontros porque estou a lembrar-me de duas situações que vivi no momento e que achei bem gostosas…
Uma ocorreu com um velho e muito querido amigo que já não via há muitos anos e que, sem o reconhecer na altura, não obstante saber da sua inscrição para a reunião, o vi entrar no hall do edifício do Centro e logo ser fortemente saudado e abraçado por muitos dos presentes. O rapaz a todos sorria e abraçava e, quando às tantas se aproximou de mim, perguntou:
- Não me estás a reconhecer, pois não?
Não estava de facto - e sabia que ele ali compareceria… - mas, quando se aproximou com a sua estatura meã, o mesmo sorriso de há 50/60 anos e, sobretudo, o seu timbre da voz, tudo somado, fez-me ver ali o velho amigo de quem guardo significativas memórias, de forma que, quando se identificou, embora grande, foi uma meia surpresa:
- Sou o Dalael!
Caímos nos braços um do outro e o aperto foi forte e deveras saboroso! Tinha ali o velho amigo Dalael de quem guardo tão boas e amigas memórias! Adorei! (Uma dessas memórias, que retenho bem viva, prende-se quando o vi ser “picado” numa brincadeira amigável mas, pelo ocorrido perigosa, com o também nosso amigo Amável, na oficina de bicicletas do seu cunhado Zé Gouvelas… Estavamos só os três e o Amável na brincadeira, empunhando um pequeno canivete de curta folha, que os ribatejanos sempre usam no bolso, fez o gesto que queria espetar o Dalael. O Dalael tinha uma samarra vestida e eu lembro-me de ter visto a folha desaparecer na mão do Amável mas, como a samarra era de um tecido forte e espesso, achei que a folha da navalha tivesse recolhido para o interior da mão do Amável… Eis quando o Dalael diz:
- “Ó pá, já me picaste!”.
Desabotoa a samarra e vejo o sangue a esguichar da barriga do pobre Dalael. Eu tinha os meus 18 anitos e fiquei horrorizado! Que tinha acontecido? Por azar o Amável tinha enfiado a folha do canivete numa casa de um botão da samarra e, como por baixo só existia uma camisita, a picadela aconteceu. Foi um alvoroço na aldeia e lembro-me que estava marcado um baile para essa noite que só teve inicio depois do Dalael regressar do hospital da Chamusca onde recebeu o necessário curativo. Ainda agora voltamos a falar disso e o nosso amigo mostrou-me a pequena cicatriz que ainda guarda na barriga junto ao umbigo.)
O outro episódio que recordo aqui também, deu-se quando uma amiga de juventude, que igualmente já não via há muito tempo, me pergunta:
- Estás a conhecer-me?
Ela, de físico está muito idêntica, mas apresenta um rosto muito fresco para a idade o que é agradável de ver e eu reconhecia-a, se não no imediato, pelo menos com poucas hesitações:
- Dançamos tantas vezes, Estrela! - Respondi-lhe, ao que ela retorquiu:
- Pois foi. Nas matines. Eu também gostava muito das matinés!...
E os “gostos” e as recordações ficaram com cada um…
Bom e depois foi a visita às instalações do Centro que muitos não conheciam e que os deixou deveras surpreendidos e, desse convívio com os ali residentes, guardo também uma situação muito gratificante quando a Dª Arminda Pratas, viúva do saudoso amigo Ilídio Pratas, fez questão de, através de uma funcionária do Centro, pedir que me chamasse porque me queria abraçar. Sensibilizou-me particularmente e as “lanternas” humedeceram… Francamente. Ela conheceu-me desde sempre, casou, foi mãe e criou oito filhos e, agora, ainda de fresca cabeça e aparentando boa saúde, residente nas magníficas instalações do Centro de Acolhimento, fez questão de me abraçar. Muito bonito! Adorei e estou-lhe muito grato!
E ainda tenho de aqui registar duas outras situações muito, muito interessantes que se prendem com o desejo que exprimi atempadamente na convocatória para o Encontro, quando sugeri que, dentro do possível nos fizéssemos acompanhar de brinquedos e/ou objectos escolares do nosso tempo de infância. Eu, sem brinquedos, ou livros escolares daquele tempo, organizei três dossier (fotos antigas do Chouto; meus escritos antigos nos jornais sobre a terra; e outro de correspondência recebida no tempo em que estive na guerra) e levei e vi com prazer como foram apreciados mas, o máximo do prazer foi quando vimos a minha prima Fernanda Pratas apresentar-se com a velha e pequenina malinha de cartão da escola – uma verdadeira relíquia! – com a ardósia e os livros da primária dentro e, excelente também, foi quando vimos o Virgílio Antunes entrar na sala onde decorria o beberete empurrando o seu velhinho “carrinho de canas” com que tanto brincou enquanto criança. Maravilha! Maravilha de momentos estas duas situações!
Houve então na altura um beberete gentilmente oferecido pelo CASC – sempre atenciosos! - que todos apreciamos e, dali, depois do “retrato de família” tirado nas escadarias exteriores do edifício, rumamos para o recinto da Feira onde almoçamos e convivemos até às tantas. Eu saí, de volta a casa, já pelas 10 da noite.
Saí bem-disposto!
Saí satisfeito!
Em boa hora organizei este belíssimo encontro!
Em boa hora confraternizamos e recordamos tempos passados na aldeia!
Deixo o meu obrigado aos amigos que me proporcionaram este dia inolvidável!
Pode ser que para o ano haja mais…
(“Ornamento” as minhas palavras com umas quantas imagens registadas no convívio e, no meu Site, publico mais fotos e alguns vídeos feitos no acontecimento. Veja aqui: http://victor-azevedo.net/i-grande-encontro-de-jovens-de-ontem-no-chouto)
Sem comentários:
Enviar um comentário