sexta-feira, 7 de abril de 2017

1967 - LESTE DE ANGOLA - VICISSITUDES DE UMA GUERRA (FORÇADA)... (2)

Quando o abastecimento por coluna terrestre ou avião Noratlas tardava, a tropa destacada naquele “fim de mundo” recebia a visita de uma pequena aeronave que lhe levava o sempre ansiado e saudado correio da distante família, da querida namorada ou do amigo ausente.

Era dia de festa – de grande festa! – e “todo o mundo” se juntava à porta da secretaria, onde o grande saco azul escuro era aberto, cada qual aguardando com viva ansiedade ouvir chamar pelo seu nome uma, duas, três e mais vezes para receber outras tantas cartinhas ou os aerogramas (“bate-estradas”, como lhes chamávamos) com notícias dos ente queridos no tão distante “puto”, como era então denominado pela tropa o pequeno rectângulo português na Europa.

Quem recebia uma correspondência ficava feliz – e se fossem 3 ou 4, isso nem se fala… Ficava eufórico! – mas, quem nada recebia, sentia na verdade uma grande tristeza. Virava costas, triste, desalentado e melancólico… “Danada de vida”, praguejava… Coisa que logo passava – tinha de passar!... – indo ao bar mamando rapidamente uma Cuca ou uma Nocal fresquinha. Uma, quando não duas!...

Era assim a vida de um jovem militar no muito distante e inóspito leste angolano quando tentava matar saudades dos seus e da vida na aldeia, na vila ou na cidade que deixara para trás forçado e contrariado. E assim se perderam mais de 2 anos de juventude…

Sem proveito e sem utilidade…

E eu voltei… E estou aqui para contar. Outros, infelizmente, não…

(Na 1ª foto, de minha autoria, vemos o pequenino aeroplano que naquele dia nos deixava o correio (o saco, levado na direcção da secretaria, segue aí à esquerda ás costas de um militar) e, na 2ª foto, deixo a imagem dos então famosos aerogramas, um excelente meio de comunicação que o governo criou na altura para que os militares e seus familiares comunicassem por escrito sem despesas. Os aerogramas eram distribuídos gratuitamente e seguiam sem custos.)


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