sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

BELÍSSIMO! BELÍSSIMO ENCONTRO!


Belíssimo! Belíssimo encontro  hoje  com os meus velhos companheiros e amigos de infância José Manuel Samouco (ao centro, na foto) e António Manuel Cerqueira (à direita)! 

Coisinha  super- agradável que aqui quero registar com redobrado prazer pelo particular gosto que senti e sentimos dado que, em conjunto, não nos juntávamos há mais de 55 anos! E… cinquenta e cinco anos é já muita coisa!...

Nos já tão distantes anos de 1955, 56 e 57 eu , vindo do distante e sertanejo Chouto vivia na época escolar em casa dos meus padrinhos de baptismo, pai do Tó – e da Teresa e da Gaby – e o Zé Manel era primo deles, filho da irmã Elisa da minha madrinha Ricardina. A esta madrinha e a meu padrinho António Cerqueira devo a insistência junto de meus pais para eu deixar o Chouto e ir estudar para Lisboa porque meu pai achava que eu deveria vir a ser… alfaiate… Isso mesmo, o meu saudoso pai entendia que eu, depois da 4ª classe, deveria entrar no amigo mestre Acácio Varela, sem dúvida um excelente alfaiate que tinha a sua oficina logo ali ao lado, para  iniciar a minha carreira na alfaiataria. Logo eu que não tinha e nunca mais tive jeitinho algum para trabalhos manuais… Que desastre teria sido...

Foram então os meus padrinhos – a minha madrinha, lembro, era veemente nessa vontade! – que forçaram e “exigiram” que eu fosse para sua casa em Lisboa para obter primeiro a então necessária “Admissão ao Liceu”  - era assim que se chamava -  e depois prosseguir nos estudos. Aí, então, tirei a “Admissão”, numa escola junto ao Bairro do Restelo onde ficava a casa dos padrinhos e, depois, já no Liceu de Oeiras, ainda andei mais dois anos porque chumbei logo no 1º ano, Mas o chumbo não foi aí por culpa minha… Um acidente doméstico, nas férias no Chouto,  provocou e prejudicou-me muito os estudos… Valeu-me então o falecido e saudoso Manuel Marques, famoso massagista do Sporting de então e amigo da família da casa que me tratou durante algumas dolorosas semanas! Mas ainda sofro dessa inadvertida queimadela de azeite a ferver naquela distante passagem de ano.

Mas regressemos então ao belíssimo encontro com os meus dois velhos amigos de brincadeiras dos anos cinquenta:
Nasceu esta reunião e foi pretexto para o Zé Manel me oferecer umas autênticas pérolas compostas por jornais, revistas e postais velhos da Chamusca, coisas de 1928 e seguintes anos, de que deixo aqui foto, que eram pretensa do seu pai, “pérolas” estas ou idênticas que me lembrava ter visto no quarto da sua avó no Restelo. A conversa nasceu na internet e o Zé Manel foi exemplar na gentileza que usou para comigo fazendo esta oferta que muito aprecio!

Juntámo-nos então hoje num almoço/encontro que prosseguiu pela tarde adentro e todo o tempo não chegou para rememorarmos os velhos tempos de crianças no Restelo em que jogávamos à bola na rua – as balizas eram as sarjetas!... -, em que frequentávamos o Sporting tanto na velha sede do Passadiço, como no Estádio de Alvalade que na altura era todo nosso! Andávamos por todo o lado e o estádio era como se nossa casa fosse!... Víamos os jogos junto ao relvado e os jogadores – Passos, Travassos, Juca, Octávio de Sá e tantos outros, eram visita de casa de meu padrinho que era e foi durante muitos anos Secretário Permanente do clube.  Assim como que o actual Director - Geral que, por sinal, é o também meu familiar Valdemar Barreto. Curiosidade e casualidade bem interessante, acho.

Mas recordamos igualmente muitas outras situações como, por exemplo, a velhinha avó deles dois que habitava alternadamente nas casas das duas filhas mas que, quando estava no Restelo, em casa da filha Ricardina, o “terramoto” era diário e constante. Senhora muito pequena, muito corcunda e com uma tosse crónica horrível, possuía um feitio conflituoso no máximo que se possa imaginar e, com a filha, o choque é permanente e muito violento! Um exemplo: Ela embirrava, é o termo, que a minha madrinha quando fazia Cozido à Portuguesa colocasse farinheira no cozido. Embirrava a 1000%!
Numa das vezes, lembro-me bem, desconfiada ela foi ver à panela, viu a farinheira, sacou-a e, de farinheira na mão, pendurada pelo cordel, veio gritar para a janela: “Olhem! Olhem!” e…zás! Atirou a farinheira a voar pela rua fora…

E quando a filha recebia “à socapa” em casa para pernoitar o velho pai que vinha da Golegã a Lisboa? A velhinha e o sr. Vacas estavam separados  há largos anos e a senhora detestava que a filha acolhesse o pai debaixo do mesmo tecto onde ela estava… Minha madrinha recebia então o pai na porta da cozinha, nas traseiras da vivenda, fazia-o subir a um dos quartos no 1º andar e era aí que lhe levava o jantar sem a mãe sentir a mais leve suspeita… De manhã, o homenzinho saia cedo, pé ante pé com a ajuda da filha que, logo de seguida e antes de ir para o trabalho, tinha o cuidado de deixar o quarto arrumado e sem qualquer vestígio de que o pai ali tinha dormido. Mas, aconteceu que numa das vezes ela se esqueceu de um jarro de água no quarto… A velha senhora, que ficava sozinha em casa enquanto uns iam para o trabalho e outros para o liceu, ou porque gostava de vistoriar ou porque algo suspeitara, deu a volta e encontrou o jarro de água e aí o terramoto aconteceu…. Chegada a noite, quando a filha Ricardina chegou do trabalho, a casa parecia que ia abaixo!... Tourada, tourada das boas!

Um detalhe de soberba importância era a forma como o meu padrinho assistia a todas estas contendas entre a esposa e a sogra!… Era um espanto! Um espanto! Nunca se metia e dava a sensação que assistia de poltrona, assim como que em camarote da ópera, a todas as cenas… Meu padrinho era muito educado, um verdadeiro diplomata do seu tempo e jamais o vi intrometer-se, o mínimo que fosse, para acalmar os ânimos das beligerantes… Eh! Eh! Um verdadeiro espanto que nunca mais esqueci!

Igualmente muitíssimo educado e incapaz de levantar a voz fosse para quem fosse tenho de aqui recordar e lembramo-lo bem no nosso almoço de agora, era o pai do Zé Manel, o sr. Armindo Samouco, pessoa de quem igualmente guardo uma belíssima, belíssima  recordação!  Ele e a esposa tinham um magnífico relacionamento e um excelente trato e, nesse caso, aí com a velha senhora, mãe e filha davam-se muito bem! Mas a paciência, toda ela, era da filha Elisa que era uma santa pessoa porque, nitidamente, a Ricardina estava sempre, sempre em colisão com a velha mãe. A velhinha era por demais conflituosa!...

Falamos disto e de muitas outras recordações nesta belíssima tarde que convivemos eu, o Zé Manel e o Tó e, porque ainda ficou muito, muito para falarmos, já aprazamos novo encontro, talvez desta vez para o Alentejo que, inclusive, deve meter pescaria aos achigãs… Mas eu não me comprometi minimamente em arranjar produto piscatório para o almoço… Nessa não caí eu…

Sei que sou excelente pescador – eh! eh!  - mas, nessa não me meti…

NOTA - Falamos também da ocorrência  que tem tanto de insólita quanto aborrecida que ditou o corte de relações ou algo parecido entre o meu padrinho e o meu pai e que ditou o meu abandono dos estudos em Lisboa  e o consequente afastamento entre as famílias mas, para não tornar este escrito demasiado extenso, abordarei o caso no meu próximo apontamento, daqui a dois ou três dias, não só para ficar em registo mas para vermos também e compararmos como as autoridades no tempo de Salazar lidavam com os crimes a ordem pública e as de hoje lidam... Viemos do 80... para o 8...

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