Belíssimo! Belíssimo encontro hoje com os meus velhos companheiros e amigos de
infância José Manuel Samouco (ao centro, na foto) e António Manuel Cerqueira (à direita)!
Coisinha super- agradável
que aqui quero registar com redobrado prazer pelo particular gosto que senti e sentimos
dado que, em conjunto, não nos juntávamos há mais de 55 anos! E… cinquenta e cinco
anos é já muita coisa!...
Nos já tão distantes anos de 1955, 56 e 57 eu , vindo do
distante e sertanejo Chouto vivia na época escolar em casa dos meus padrinhos
de baptismo, pai do Tó – e da Teresa e da Gaby – e o Zé Manel era primo deles,
filho da irmã Elisa da minha madrinha Ricardina. A esta madrinha e a meu
padrinho António Cerqueira devo a insistência junto de meus pais para eu deixar
o Chouto e ir estudar para Lisboa porque meu pai achava que eu deveria vir a
ser… alfaiate… Isso mesmo, o meu saudoso pai entendia que eu, depois da 4ª
classe, deveria entrar no amigo mestre Acácio Varela, sem dúvida um excelente
alfaiate que tinha a sua oficina logo ali ao lado, para iniciar a minha carreira na alfaiataria. Logo eu
que não tinha e nunca mais tive jeitinho algum para trabalhos manuais… Que
desastre teria sido...
Foram então os meus padrinhos – a minha madrinha, lembro, era
veemente nessa vontade! – que forçaram e “exigiram” que eu fosse para sua casa
em Lisboa para obter primeiro a então necessária “Admissão ao Liceu” - era assim que se chamava - e depois prosseguir nos estudos. Aí, então, tirei a “Admissão”, numa escola junto ao Bairro do Restelo onde ficava a casa
dos padrinhos e, depois, já no Liceu de Oeiras, ainda andei mais dois anos
porque chumbei logo no 1º ano, Mas o chumbo não foi aí por culpa minha… Um
acidente doméstico, nas férias no Chouto, provocou e prejudicou-me muito os estudos… Valeu-me
então o falecido e saudoso Manuel Marques, famoso massagista do Sporting de
então e amigo da família da casa que me tratou durante algumas dolorosas semanas!
Mas ainda sofro dessa inadvertida queimadela de azeite a ferver naquela
distante passagem de ano.
Mas regressemos então ao belíssimo encontro com os meus dois
velhos amigos de brincadeiras dos anos cinquenta:
Nasceu esta reunião e foi pretexto para o Zé Manel me oferecer
umas autênticas pérolas compostas por jornais, revistas e postais velhos da
Chamusca, coisas de 1928 e seguintes anos, de que deixo aqui foto, que eram pretensa do seu pai, “pérolas” estas ou idênticas que me
lembrava ter visto no quarto da sua avó no Restelo. A conversa nasceu na
internet e o Zé Manel foi exemplar na gentileza que usou para comigo fazendo esta oferta que muito aprecio!
Juntámo-nos então hoje num almoço/encontro que prosseguiu
pela tarde adentro e todo o tempo não chegou para rememorarmos os velhos tempos
de crianças no Restelo em que jogávamos à bola na rua – as balizas eram as
sarjetas!... -, em que frequentávamos o Sporting tanto na velha sede do
Passadiço, como no Estádio de Alvalade que na altura era todo nosso! Andávamos
por todo o lado e o estádio era como se nossa casa fosse!... Víamos os jogos
junto ao relvado e os jogadores – Passos, Travassos, Juca, Octávio de Sá e
tantos outros, eram visita de casa de meu padrinho que era e foi durante muitos
anos Secretário Permanente do clube. Assim como que o actual Director - Geral que, por sinal, é o também meu familiar Valdemar Barreto. Curiosidade e casualidade
bem interessante, acho.
Mas recordamos igualmente muitas outras situações como, por
exemplo, a velhinha avó deles dois que habitava alternadamente nas casas das
duas filhas mas que, quando estava no Restelo, em casa da filha Ricardina, o “terramoto”
era diário e constante. Senhora muito pequena, muito corcunda e com uma tosse
crónica horrível, possuía um feitio conflituoso no máximo que se possa imaginar
e, com a filha, o choque é permanente e muito violento! Um exemplo: Ela
embirrava, é o termo, que a minha madrinha quando fazia Cozido à Portuguesa colocasse
farinheira no cozido. Embirrava a 1000%!
Numa das vezes, lembro-me bem, desconfiada ela foi ver à panela, viu a
farinheira, sacou-a e, de farinheira na mão, pendurada pelo cordel, veio gritar para a janela: “Olhem!
Olhem!” e…zás! Atirou a farinheira a voar pela rua fora…
E quando a filha recebia “à socapa” em casa para pernoitar o
velho pai que vinha da Golegã a Lisboa? A velhinha e o sr. Vacas estavam separados há largos anos e a senhora detestava que a filha
acolhesse o pai debaixo do mesmo tecto onde ela estava… Minha madrinha recebia
então o pai na porta da cozinha, nas traseiras da vivenda, fazia-o subir a um
dos quartos no 1º andar e era aí que lhe levava o jantar sem a mãe sentir a mais
leve suspeita… De manhã, o homenzinho saia cedo, pé ante pé com a ajuda da
filha que, logo de seguida e antes de ir para o trabalho, tinha o cuidado de
deixar o quarto arrumado e sem qualquer vestígio de que o pai ali tinha dormido.
Mas, aconteceu que numa das vezes ela se esqueceu de um jarro de água no quarto…
A velha senhora, que ficava sozinha em casa enquanto uns iam para o trabalho e
outros para o liceu, ou porque gostava de vistoriar ou porque algo suspeitara,
deu a volta e encontrou o jarro de água e aí o terramoto aconteceu…. Chegada a
noite, quando a filha Ricardina chegou do trabalho, a casa parecia que ia
abaixo!... Tourada, tourada das boas!
Um detalhe de soberba importância era a forma como o meu
padrinho assistia a todas estas contendas entre a esposa e a sogra!… Era um
espanto! Um espanto! Nunca se metia e dava a sensação que assistia de poltrona,
assim como que em camarote da ópera, a todas as cenas… Meu padrinho era muito
educado, um verdadeiro diplomata do seu tempo e jamais o vi intrometer-se, o
mínimo que fosse, para acalmar os ânimos das beligerantes… Eh! Eh! Um verdadeiro
espanto que nunca mais esqueci!
Igualmente muitíssimo educado e incapaz de levantar a voz
fosse para quem fosse tenho de aqui recordar e lembramo-lo bem no nosso almoço de
agora, era o pai do Zé Manel, o sr. Armindo Samouco, pessoa de quem igualmente guardo uma belíssima, belíssima recordação! Ele e a esposa tinham um magnífico
relacionamento e um excelente trato e, nesse caso, aí com a velha senhora, mãe
e filha davam-se muito bem! Mas a paciência, toda ela, era da filha Elisa que
era uma santa pessoa porque, nitidamente, a Ricardina estava sempre, sempre em
colisão com a velha mãe. A velhinha era por demais conflituosa!...
Falamos disto e de muitas outras recordações nesta belíssima
tarde que convivemos eu, o Zé Manel e o Tó e, porque ainda ficou muito, muito
para falarmos, já aprazamos novo encontro, talvez desta vez para o Alentejo que,
inclusive, deve meter pescaria aos achigãs… Mas eu não me comprometi minimamente
em arranjar produto piscatório para o almoço… Nessa não caí eu…
Sei que sou excelente pescador – eh! eh! - mas, nessa não me meti…
NOTA - Falamos também da ocorrência que tem tanto de insólita quanto aborrecida que ditou o corte de relações ou algo parecido entre o meu padrinho e o meu pai e que ditou o meu abandono dos estudos em Lisboa e o consequente afastamento entre as famílias mas, para não tornar este escrito demasiado extenso, abordarei o caso no meu próximo apontamento, daqui a dois ou três dias, não só para ficar em registo mas para vermos também e compararmos como as autoridades no tempo de Salazar lidavam com os crimes a ordem pública e as de hoje lidam... Viemos do 80... para o 8...
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