Se na
verdade sempre considerei Passos Coelho uma “rapaz” claramente impreparado para
a difícil governação que tinha pela frente, sempre esperei que a equipa que
criou para o acompanhar, com destaque para as Finanças e Economia com homens
vindos do estrangeiro, aliviasse essas dificuldades e avançasse com uma
governação, embora muito difícil mas eficiente.
Desde cedo
todavia se notou que tínhamos ali coisa de reduzida valia. Efectivamente, por
exemplo, no caso do Ministro da Economia, foi por demais evidente a sua
impreparação e falta de jeito para o lugar e desde cedo saltaram à vista as
suas dificuldades. Mas, se neste caso e em mais um ou outro, se poderiam
apontar falhas, a verdade é que o governo ia governando, as negociações iam
avançando periodicamente com a “troika”e o dinheirinho da estranja ia entrando
conforme as necessidades, não obstante as duras medidas que se iam implementando
mas que, embora com muita contrariedade, os portugueses iam suportando.
É verdade
que tudo apontava para que as metas do défice não fossem atingidas do final do
ano e discutia-se a bondade das medidas impostas pelos credores mas, pensava o
povo que com mais umas negociações, o prolongamento do prazo antes marcado,
etc, fosse possível ao governo contornar as dificuldades e prosseguir o difícil
caminho. Até que… até que surgiram as erradas medidas e a desastrada
comunicação do primeiro-ministro de sexta, dia 7…
No anterior
apontamento considerei as medidas e a comunicação um erro colossal e logo ali
previ grandes e graves consequências e, a ver pelo que se seguiu neste últimos
10 dias, é bem claro que não me enganei. Temos aí, sem a mais pequena dúvida,
um governo a prazo!.
Desde o
momento da comunicação de Passos Coelho até ao instante em que escrevo temos
assistido a uma sucessão de acontecimentos qual deles a mais prejudicial e
agravante para a estabilidade e manutenção do governo.
Desde a
publicação de imagens de Passos Coelho sorridente e a cantar, obtidas logo
depois da comunicação num concerto musical, a que se seguiu um incrível e mau
de mais escrito seu no Facebook, assim como um “perdoa-me”, tivemos depois
inimagináveis reacções de várias personalidades das áreas dos partidos do
governo, entre as quais se destacou – e de que maneira!!! – a de Manuela
Ferreira Leite que em 45 minutos de entrevista arrasou o “seu” governo de forma
absolutamente surpreendente e até de forma inadmissível, chegando a convidar os
deputados do PSD e CDS a vetarem o O.E.. Coisa absolutamente impensável que viesse
a sair duma ex presidente do PSD…
Depois foram
muitas outras personalidades a expressar-se contra o governo e sobretudo à sua
inédita e inconcebível decisão de aumentar a TSU em + 7% (um aumento de mais de
60%) para a entregar às empresas. Coisa nunca vista em parte alguma e
fortemente contestada por todos. Não vimos um único sector, uma única pessoa a
aprovar esta medida e até assistimos ao caricato de ver os próprios patrões a
informarem que assim não queriam… Um desastre! Um desastre de colossais
consequências já que, logo de seguida, tivemos as enormes manifestações pelo
país inteiro com a participação diria maciça da população, com gente de todos
os quadrantes políticos e sociais e a fazer lembrar as manifestações do tempo
da revolução.
As
manifestações foram de um sucesso estrondoso e, como se esperava, o seu efeito
teria e terá de ser também estrondoso!
E ainda não
falei do mais grave… Do muito mais grave que logo, logo surgiu…
Na verdade,
aí temos o CDS, parceiro de governo, a tentar “roer a corda” ou, melhor dizendo,
a querer ficar no governo e fora dele. As suas declarações, depois da reunião
do seu Conselho Nacional são isso mesmo. São isso mesmo e foram tão graves que
o PSD, na hora em que escrevo, se prepara também para reunir os seus órgãos para
tomar posição…
Temos assim
que, não obstante a gravidade da situação, tendo em conta a nossa dependência dos
dinheiros dos outros e as sempre difíceis negociações com esses credores, o
senhores políticos da governação PSD/CDS se digladiam já na praça pública, de
onde resultarão consequências ainda difíceis de adivinhar mas que apontarão
certamente para o governo que, a manter-se, fique nitidamente fragilizado e por
isso a curto prazo terá o seu fim.
Esta é a
minha previsão e acredito que será a de muitos observadores e talvez mesmo de
uma boa parte da população portuguesa.
E, importa
não esquecer também – coisa que muitos estranhamente têm relegado para fase
posterior… - a decisão do Tribunal Constitucional, claramente afrontado por
estas decisões do governo e que, se por ele forem vetadas, funcionará como um
verdadeiro terramoto…
Segue-se
agora a reunião do Conselho de Estado convocado pelo Presidente da República e,
como nele se sentam personalidades cuja posição já é antecipadamente conhecida,
adivinha-se o que ali dirão muitos dos conselheiros… Isto se até lá o governo
não cair…
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