Vivíamos pacatamente na nossa pequena aldeia na década de 60 do século passado quando, subitamente, surgiu na terra um grupo de forasteiros na sua totalidade composto por vários e diversos elementos de uma família de artistas de circo de rua.
De imediato designados pelos moradores de “comediantes”, fizeram as suas primeiros exibições logo de seguida na nossa aldeia e percorreram mesmo várias terras vizinhas dando os seus espectáculos de rua e, de certo agradados com a hospitalidade das nossas gentes, resolveram mesmo fixar residência no Chouto, daí partindo para várias exibições pelos lugares em redor.
Na sua família algo numerosa destacava-se sobremaneira pela sua beleza, pela sua juventude, pelo loiro da sua farta cabeleira e, sobretudo, pela sua escultural figura física, a filha Graciete, de seu nome de baptismo. Era muito bonita, bastante esbelta e, como todos os restantes membros da família, extremamente educada e afável e, sempre de sorriso estampado, facilmente era figura que a todos cativava.
E cativava tanto ou tão pouco que o “João da Emília”, um dos 6 filhos do “Tio Alfredo Paneiro”, rapaz como os irmãos nascido e criado na terra, muito simples, pacato, algo “apagado” mas muito trabalhador e, como os restantes irmãos e irmãs, de reconhecida cortesia e educação e que se havia tornado motorista dos “artistas de rua”, se “embeiçou” de amores pela bonita e esbelta “Graciete comediante”, a contorcionista, a atracção maior da companhia.
Foi a bomba na aldeia e o falatório algo malicioso e de mau presságio que se calcula, com comentários jocosos q.b. que não faltavam.
- O quê? O pobrezinho e ingénuo “João da Emília” a namorar a “batida e sabida” loiraça Graciete, filha dos comediantes??? Eh! Eh! Vai ser giro, vai! Coitado, não lhe gabo a sorte!...
E se estes nada favoráveis comentários são durante farto tempo o motivo de conversa de muitos, eles mais se agravam quando o nosso “João da Emília” e a sua Graciete resolvem casar e avançar para o altar da igreja da aldeia para unirem oficialmente os seus destinos. Foi então um desfilar de suposições e “garantias/certezas” de todo o mundo local.
De todo ou… quase todo…
Na verdade, perante a necessidade de arranjar padrinhos para a união e observando em redor, a noiva Graciete recorre aos irmãos do noivo, Álvaro e Maria Irene e, ele, convida o amigo José Azevedo e esposa, comerciante, figura bem conhecida da região, de onde obtém o pronto sim, só com a pequena troca da “Menina Maria”, sua esposa, pela filha Adília.
E o casamento católico no templo local realizou-se e os jovens noivos assentaram casa na aldeia, perante muita incredibilidade e bastante expectativa de tudo e todos para os tempos que aí viriam…
E, volvidos 55 anos - passa hoje o 55º aniversário do casamento -, que aconteceu afinal?
Aconteceu que o “João da Emília” e a “Graciete comediante” depois de casados fizeram e criaram uma numerosa família de rapazes e raparigas, transmitiram a todos eles os valores nobres do trabalho, da educação, da cordialidade e da amizade e, pelo seu exemplo e honradez, desmentiram todos os velhos e antigos maus presságios e deixaram a exemplar lição aos que conheceram as suas origens e os seus alicerces, a certeza e a sabedoria da bonita construção das suas vidas em comum.
Vistas, testemunhadas e sentidas no conjunto dos seus concidadãos e amigos, de entre os quais me incluo com muito gosto!
Ao velho amigo João, muitos anos de vida, com saúde e bem-estar e à Graciete, que há pouco nos deixou, a paz eterna!
Sem comentários:
Enviar um comentário