sábado, 18 de julho de 2020

HISTÓRIA DE VIDA BONITA DE UM TEMPO FELIZ


Vivíamos pacatamente na nossa pequena aldeia na década de 60 do século passado quando, subitamente, surgiu na terra um grupo de forasteiros na sua totalidade composto por vários e diversos elementos de uma família de  artistas de circo de rua.

De imediato designados pelos moradores de “comediantes”, fizeram as suas primeiros exibições logo de seguida na nossa aldeia e percorreram mesmo várias terras vizinhas dando os seus espectáculos de rua e, de certo agradados com a hospitalidade das nossas gentes, resolveram mesmo fixar residência no Chouto, daí partindo para várias exibições pelos lugares em redor.

Na sua família algo numerosa destacava-se sobremaneira pela sua beleza, pela sua juventude, pelo loiro da sua farta cabeleira e, sobretudo, pela sua escultural figura física, a filha Graciete, de seu nome de baptismo. Era muito bonita, bastante esbelta e, como todos os restantes membros da família, extremamente educada e afável e, sempre de sorriso estampado, facilmente era figura que a todos cativava.

E cativava tanto ou tão pouco que o “João da Emília”, um dos 6 filhos do “Tio Alfredo Paneiro”, rapaz como os irmãos nascido e criado na terra, muito simples, pacato, algo “apagado” mas muito trabalhador e, como os restantes irmãos e irmãs, de reconhecida cortesia e educação e que se havia tornado motorista dos “artistas de rua”, se “embeiçou” de amores pela bonita e esbelta “Graciete comediante”, a contorcionista, a atracção maior da companhia.

Foi a bomba na aldeia e o falatório algo malicioso e de mau presságio que se calcula, com comentários jocosos q.b. que não faltavam.
- O quê? O pobrezinho e ingénuo “João  da Emília” a namorar a “batida e sabida” loiraça Graciete, filha dos comediantes??? Eh! Eh! Vai ser giro, vai! Coitado, não lhe gabo a sorte!...

E se estes nada favoráveis comentários são durante farto tempo o motivo de conversa de muitos, eles  mais se agravam quando o nosso “João da Emília” e a sua Graciete resolvem casar e avançar para o altar da igreja da aldeia para unirem oficialmente os seus destinos. Foi então um desfilar de suposições e “garantias/certezas” de todo o mundo local.

De todo ou… quase todo…


Na verdade, perante a necessidade de arranjar padrinhos para a união e observando em redor, a noiva Graciete recorre aos irmãos do noivo, Álvaro e Maria Irene e, ele, convida o amigo José Azevedo e esposa, comerciante, figura bem conhecida da região, de onde obtém o pronto sim, só com a pequena troca da “Menina Maria”, sua esposa, pela filha Adília.

E o casamento católico no templo local realizou-se e os jovens noivos assentaram casa na aldeia, perante muita incredibilidade e bastante expectativa de tudo e todos para os tempos que aí viriam…

E, volvidos 55 anos - passa hoje o 55º aniversário do casamento -, que aconteceu afinal?

Aconteceu que o “João da Emília” e a “Graciete comediante” depois de casados fizeram e criaram uma numerosa família de rapazes e raparigas, transmitiram a todos eles os valores nobres do trabalho, da educação, da cordialidade e da amizade e, pelo seu exemplo e honradez, desmentiram todos os velhos e antigos maus presságios e deixaram a exemplar lição aos que conheceram as suas origens e os seus alicerces, a certeza e a sabedoria da bonita construção das suas vidas em comum.

Vistas, testemunhadas e sentidas no conjunto dos seus concidadãos e amigos, de entre os quais me incluo com muito gosto!

Ao velho amigo João, muitos anos de vida, com saúde e bem-estar e à Graciete, que há pouco nos deixou, a paz eterna!

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