Gri-gri! Gri-gri!
Correndo e saltando que nem pardalitos nos terrenos envolventes da aldeia, ao cair das quentes tardes de Verão, era o som que ouviamos mais aqui, mais ali.
Gri-gri! Gri-gri!
Assim “cantavam” os grilos do nosso encanto, roçando as asas, debaixo das ervas rasteiras, protegidos dos quentes raios solares, nas pequenas clareiras que criavam junto ao buraquinho, construído habilidosamente e que lhes servia de casa.
Caça-los não era difícil de todo mas era tarefa que ainda exigia alguma técnica e jeito. Coisa que puto de aldeia fazia facilmente por experiência e vivência sentida vinda dos mais velhos e que os diazitos de vida passados na rua e no campo, em contacto continuo com a natureza tornava coisa fácil mas que, a menino de cidade pareceria algo difícil, se não mesmo impossível.
Primeiro havia que localizar pelo ouvido a zona de onde vinha o “cantar” do grilo e, depois, pé ante pé, era o aproximar ao local onde o bichinho, a roçar as asas, juntinho à entrada do buraco - nós chamávamos de “buraca”, não sei porquê?... – fazia-se ouvir.
Os derradeiros passitos, já bem junto ao local e quase com o grilo à vista na pequena clareira que sempre fazia à entrada do “lar”, tinham mesmo de ser feitos em “pés de lã” no caso de ainda não o termos localizado. Isto porque, quando o grilo nos sentia, calava-se de imediato e enfiava-se bem ligeiro no buraquinho.
Depois, bem, depois era a 2ª parte da técnica necessária para o fazer sair do buraco e que a bonita imagem junta, de que gosto particularmente e que saquei da net, bem nos mostra (o detalhe das calças da criança, rotas no rabo, é uma delícia!): pegávamos numa pequena palha de erva, de preferência seca para não vergar e era enfiá-la no orifício e, em movimentos de vai vem, a fazer “cócegas” ou incomodar o grilinho que logo saía em grande velocidade e, nós, bem ágeis com as mãozitas, agarrávamo-lo.
De seguida tirávamos do bolso a caixa de fósforos, grandes, da cozinha, que a mãe previamente nos tinha arranjado e onde fizeramos 2 ou 3 pequenos orifícios para o grilo respirar e fechávamos o bichito lá dentro. Chegados a casa, era outra cuidada operação exigida: com jeito, para não o deixar fugir, tirávamo-lo da caixa e colocávamo-lo na gaiola. Se fugisse, como por vezes acontecia, era ouvi-lo depois, de noite, a "cantar" debaixo dos móveis… (E se o meu pai por vezes já se sentia incomodado quando à tarde queria descansar no quarto e ele “cantava” na gaiola pendurada na marquise contigua do quintal, pior era quando de noite se fazia ouvir pela casa fora, debaixo dos móveis… eheh)
Fechado o grilinho na gaiola, vinha depois o cuidado de nunca lhe faltar com a diária folhinha de alface, entalada nas grades, coisa que, passados os primeiros dias sempre nos esquecia e, não fora o cuidado da sempre atenta nossa mãe, e o bichinho morreria de fome…
E, se desejássemos novo grilo a "cantar" em casa, teria o pai de trazer nova gaiola da loja do sr. José de Matos - um então grande estabelecimento de paredes exteriores forradas de berrantes mas bonitos azulejos verdes vidrados -, ali na Rua Direita da Chamusca porque, colocar na mesma gaiola dois grilos, não era aconselhável, não… Brigavam até um liquidar o outro…
Mas, não termino sem antes descrever uma pequena maldade que a malta miúda muitas vezes fazia aos simpáticos bichinhos nas nossas andanças pelos campos: mesmo não desejando mais grilos mas localizado que fosse algum enfiado na “buraca”, não nos dávamos ao trabalho de meter a palhinha para o extrair, não… Mauzinhos, tirávamos a pilinha de fora, apontávamo-la para o buraquinho do grilo e… zás, mijávamos-lhe para dentro. Inundada a casinha, o desgraçado grilo, aflito, saía em grande velocidade, fugindo da inundação... Mas, aí, acho que já não o agarrávamos… Estava sujo e mal cheiroso…
Enfim, maldades de crianças em tempos que ainda não tínhamos os agora auto-denominados e bem activos “amigos dos animais”…
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