Nesta época do ano em que se festeja o Carnaval, é incontornável lembrar-me sempre do nosso saudoso amigo “Mestre Arlindo”, de seu nome completo Arlindo Alves Texugo, amigo de sempre, que me viu nascer e crescer na nossa aldeia.
Era pessoa extremamente simpática, educada, muito amiga de todos e muito prestável e, de tão sofrida e madrasta que lhe foi a vida, ainda mais admirava a bonomia e a alegria com que dia a dia encarava as difíceis horas da sua existência. (O sr. Arlindo esteve internado muitas e sofridas vezes e teve, que me recorde, pelo menos seis intervenções cirúrgicas em Lisboa. Cheguei a visitá-lo amiúde no Hospital do Rego.)
Alfaiate de profissão, esteve estabelecido em frente à extinta Sociedade Recreativa e, depois de construída a sua casa de habitação (a segunda da esquerda na foto que aqui deixo, num bonito registo da época) foi para ali que se mudou de fazenda, tesoura e agulhas. Mas, é do local da anterior oficina, frente à Sociedade, que me recordo da mais antiga brincadeira de Carnaval praticada pelo nosso amigo “Mestre Arlindo"...
Na época não tínhamos água canalizada na aldeia e era usual o sr. Arlindo ver passar pela frente da sua oficina na Rua da Fonte as senhoras de cântaro à cabeça e com elas “meter palheta”. Para todas ele tinha uma conversa, uma graça ou uma simples saudação amiga e cavalheira. Muitas vezes com algum picante, com alguma bicadazinha marota, sobretudo quando se tratava de moças solteiras mas, mesmo para as casadas, a sua brincadeira maliciosa mas nunca ordinária ou ofensiva, era frequente. “Mestre Arlindo” era assim, alegre, bem-disposto e mesmo folgazão.
Ficou famosa na época a “partida” que pregou à “Ti Barbara”, uma senhora idosa, alta e magra, que todos os dias por ali passava a caminho da fonte e que era casada com o “Ti Bartolomeu”, quando o nosso maroto sr. Arlindo comprou uma “onça” de tabaco “Duque” (ele sabia que o velho pastor fumava daquela marca os cigarrinhos que fazia à mão), a esvaziou e substituiu o precioso tabaquinho por uma seca e esfarelada bosta de boi que, com frequência também passavam pela rua e por ali deixavam “presentes”. “Mestre Arlindo” deixou secar a dita cuja, esfarelou-a para que ficasse parecida com tabaco e encheu a embalagem da “onça” com o “precioso” recheio. Quando viu no Largo da Igreja que se aproximava a “Ti Barbara” a caminho da fonte atirou a “onça” para a calçada e ficou de espreita a ver o resultado da malandrice… (E ele contava isso tanta vez e com tanta graça…) “Ti Barbara” viu a bonita “onça” abandonada na calçada e disse: “Olha que bela “onça” pró meu Bartolomeu!”. Agachou-se e guardou-a, feliz da vida, no bolso do avental. À noite, quando o marido chegou, contou-lhe do valioso achado: “Ó Bartolomeu, olha o que achei na rua ao pé da oficina do Arlindo?!”
Pois, mas o pior foi quando o “Ti Bartolomeu” resolveu fazer um cigarrinho e começou a chupar o “fuminho” que dali vinha… Era amargo para caramba e, analisado e sobretudo cheirado bem aquele estranho “tabaco”, foi-lhe fácil detectar a “partida” em que a pobre mulher tinha caído e, daí, associá-la de imediato ao maroto do Arlindo, foi um rápido. Arlindo que, claro, sempre lhe negou a autoria da malandrice.
São várias as marotagens e brincadeiras deste saudoso amigo que, tempos atrás, numa ida ao cemitério velho do Chouto visitei na sua última morada e, em momentos de recolhimento bem dele ali me recordei com tristeza e saudade mas, por hoje fico-me por aqui, que a conversa já vai longa.
Que “Mestre Arlindo” descanse para sempre em paz e harmonia, na bonita paz e na harmonia que sempre nos transmitiu em vida e que tão bem nos fez!
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