Encostados ao balcão do pequeno
pavilhão na Feira de S. Pedro, oito dias atrás, conversávamos e íamos “molhando
a palavra” e refrescando-nos com umas “imperiais” loirinhas e bem fresquinhas.
A conversa era ligeira e falávamos da
feira em que estávamos e dos muitos e velhos amigos que ali sempre vamos
encontrando e reencontrando como é hábito neste evento anual na nossa terra
natal quando, no intervalo de mais uma fresquinha golada da loira cervejinha o amigo me
desabafa: “pois… é tudo muito bom e bonito mas o diabo é que amanhã, logo bem cedo,
já andarei de novo à roda dos sobreiros!...”
Fiquei assim a saber que o meu amigo,
homem multifacetado nos trabalhos agrícolas, andava agora na tiragem da
cortiça, num trabalho bem especializado, só ao dispor de alguns mais
experimentados e também de boas posses físicas dado que é necessária força e
sabedoria para o executar. Para além disso e porque a tiragem da cortiça só
pode ser feita nesta época do ano em que o Verão nos traz o muito calor, a
empreitada torna-se difícil, se não mesmo violenta porque feita ao sol,
exigindo esforço físico considerável e em zonas habitualmente muito secas e
portanto onde o calor mais incomoda.
Nascido e criado em zona de sobreiros
e frequentador também no Alentejo, por via da pesca, de locais com muitos
montados, tenho seguido praticamente todos os anos esta labuta e, com
curiosidade vou acompanhando o valor dos salários que os proprietários dos
montados vão pagando aos trabalhadores. Trabalho especializado e duro é sempre
mais bem pago que o vulgar trabalho agrícola e, segundo informação do amigo
com quem conversava, neste ano e na zona onde laborava, o valor da jorna era de
70 euros aos homens e 35 às mulheres. Ambos com pagamento “a seco”, portanto
sem comida nem bebida.
O valor pago aos homens foi
considerado pelo meu interlocutor de “jeitoso” mas outro tanto não acha, coisa que
eu subscrevo, quanto ao auferido pelas mulheres já que nos parece demasiado escasso face ao muito esforço e à considerável força física que elas têm de despender
para pegarem e transportarem à cabeça as grandes e pesadas pranchas de cortiça
que, caídas junto aos sobreiros, depois de sacadas das árvores, há que
leva-las até junto dos tractores ou camionetas - e iça-las para a carga! - que depois as transportarão até ao Monte da herdade onde serão empilhadas e guardadas até à sua venda e ida
para a fábrica transformadora. É necessária, não tenhamos dúvida, muita força muscular - muita força muscular! - e ter ainda uma boa coluna vertebral!... As mulheres, acho, estão a ser muito mal pagas para este
esforçado trabalho mas, muitas delas, coitadas, precisando e achando que aos 70
euros dos maridos juntarão os seus 35, totalizando assim um valor já considerável
que levarão para casa, que amealharão e que os ajudará a passar melhor os difíceis dias de Inverno
de menos trabalho que aí vem, são forçados a este grande esforço e sacrifício físico. É a vida muito dura das gentes do campo! É a vida muito dura
de quem precisa!
Como disse, nas minhas andanças na
pesca do achigã durante o Verão, encontro-me muitas vezes com estes trabalhos e,
aqui ou ali vou captando com a máquina as diversas situações que me parecem
mais interessantes. É o caso das duas fotos que aqui deixo vendo-se numa a extracção
da cortiça e as difíceis condições com que o trabalho se executa e, na outra, uma
pilha que achei interessante fotografar porque aí podemos comprovar como
especializado e até artista foi esse trabalhador que conseguiu “sacar” do
sobreiro, parece que com um simples e único corte de alto a baixo, a sua “samarra”... Bonito!
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